No seu relativamente curto tempo de vida, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) já se tornou um dos mais importantes eventos da área ambiental e cinematográfica não apenas do Brasil, mas de todo o mundo. Seu foco principal é a apresentação de produções documentais que se propõem a debater questões relacionadas à qualidade de vida no planeta. Mas, ao oferecer uma farta pauta de debates e simpósios, cursos, palestras e oficinas de trabalho, seus limites se estendem para bem mais longe do que os de um simples festival de cinema. Graças ao Fica, Goiás evolui a cada ano para se afirmar como importante pólo cultural, fórum de discussões e – o que talvez seja o efeito mais importante – usina informativa e formativa de novos talentos da cinematografia documental brasileira. Prova evidente disso é a quantidade de filmes documentais goianos que, cada vez mais, participam do certame como competidores de gabarito. Seus realizadores? Muitos deles são jovens freqüentadores do festival que, estimulados pelo mesmo, e tendo recebido os primeiros rudimentos do ofício de cineastas nos seus cursos, palestras e oficinas de trabalho, foram à frente e se transformaram em cineastas. Em paralelo às apresentações cinematográficas, a cidade recebe espetáculos de música, dança, teatro e literatura.

O FICA NASCEU em 1998 com o objetivo de incrementar o turismo, gerar empregos (diretos e indiretos), reaquecer a economia local, unindo arte e meio ambiente, e chamar a atenção do Brasil e do mundo para a cultura e, principalmente, a preservação do meio ambiente. Durante seis dias, quem participa do festival troca informações e idéias sobre meio ambiente, vindas das mais diversas partes do mundo.

Este ano, foram inscritos 446 filmes. Desse total, 238 são brasileiros e 208, internacionais, oriundos de 50 países, entre produção e co-produção – o que mostra claramente que o Brasil está em um momento de intensa produção. Das obras inscritas, 22 foram selecionadas: 5 longas, 9 médias, 6 curtas e 2 obras televisivas. Para escolher os participantes, além de critérios como originalidade, narrativa, fotografia, cenografia e produção, o enfoque ecológico é sempre pré-requisito. Assim como para a premiação, que entrega um total de R$ 240 mil, divididos em sete categorias: melhor obra; longa; média; curta; série ambiental para TV; e as duas melhores produções goianas.

A novidade do festival para 2008 foi o incentivo ao cinema goiano no tocante à programação e, principalmente, no cuidado com a formação de realizadores e de público. Além da exibição de filmes, estão sendo oferecidos 14 cursos e 4 oficinas. A maioria dos cursos e palestras é aberta à comunidade, apesar da preferência para estudantes ou profissionais da área de audiovisual nas oficinas.

Acima, o cineasta João Batista de Andrade, diretor do Fica e presidente do júri da décima edição do festival. À direita, Linda Monteiro, presidente da Agepel. Abaixo, um dos workshops de cinema realizados durante o Fica. Na página ao lado, parte do público que se reuniu para ver as obras apresentadas no evento.

Fica itinerante

A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel) disponibiliza uma exposição itinerante dos filmes do Fica. A mostra tem por objetivo divulgar e exibir os trabalhos com temática ambiental premiados no festival. Podem solicitar os filmes instituições culturais, ambientais e de ensino, tanto públicas como privadas. Os interessados deverão encaminhar ofício ao escritório do Fica – Praça Cívica, nº 2, Centro, Goiânia, GO, CEP 74003-010, fones (62) 3223-1313/ 3225-3436 – solicitando a realização da mostra, com a anotação no envelope: “Solicitação – Mostra Itinerante 10º Fica”. As solicitações deverão ser enviadas sob a forma de proposta, com informações sobre datas, locais, tipo e quantidade de público-alvo, monitoria e locais de exibição, além de plano de divulgação. O escritório atenderá sob agendamento entre os meses de julho e dezembro.

NESTA EDIÇÃO, a presidente da Agepel, Linda Monteiro, assumiu a função de coordenadora-geral do festival. Entusiasta do evento, Linda esclarece o real sentido dele: “Na verdade, o Fica vai além do cinema. Possui uma programação multicultural paralela, pondo em cena espetáculos que valorizam a criação musical, o teatro, a dança e literatura. O alcance e os benefícios do festival são imensos. Durante sua realização, o turismo se amplia, e com ele o número de empregos. Na velha capital de Goiás, circulam informação, cultura e pessoas interessantes de todo o mundo. Enfim, o festival avança como precioso momento em que história, cultura e meio ambiente se encontram em nome da cidadania e de uma vida de melhor qualidade para todos.”

Deve-se ressaltar o alto nível do elenco de diretores, professores e técnicos de cinema que participaram das diversas atividades do 10o Fica – entre eles, o crítico e escritor Jean-Claude Bernardet (nome influente no cinema nacional há mais de 40 anos), o crítico Inácio Araújo e a pesquisadora Stela Senra. O cineasta Cacá Diegues foi convidado de honra e ganhou uma mostra com vários filmes de sua carreira, entre eles Orfeu Negro e Bye Bye Brasil. A direção do Fica está a cargo do cineasta João Batista de Andrade, que conta com a consultoria de vários outros cineastas, jornalistas e intelectuais, como Lisandro Nogueira (professor da Universidade Federal de Goiás) e o jornalista Washington Novaes.

Jaglavak, o Príncipe dos Insetos, de Jerôme Raynaud (França), foi o grande vencedor da 10ª edição do festival. O diretor recebeu o Troféu Cora Coralina, para Melhor Obra e o prêmio máximo em dinheiro, no valor de R$ 50 mil. A revelação dos premiados foi feita em solenidade realizada no Cinemão, instalado no Colégio Alcide Jubé, com a presença do governador goiano, Alcides Rodrigues, da presidente da Agepel, Linda Monteiro, e do prefeito local, Abner Curado, além dos membros do júri, cineastas, professores de cinema, participantes da Mostra Competitiva e do público em geral. Presidido por João Batista de Andrade, o júri foi composto por Phillipe Dubois (professor de cinema na Sorbonne, França), Daniele Gaglianone (diretor de cinema, Itália), André Trigueiro (ambientalista e jornalista), Vladimir Carvalho (cineasta), Evaldo Mocarzel (cineasta) e Laerte Guimarães (pesquisador do CNPq e professor da UFG). O Prêmio Especial do Júri foi concedido a outro filme francês: Veludo Vermelho, dirigido por Klaus Reisinger.