Até agosto, o drama de africanos e asiáticos que cruzam o Mediterrâneo fugindo da guerra e da pobreza era visto pelos europeus como uma invasão de turbas de indesejados sem qualificação para viver nas suas modernas democracias. Em 2 de setembro, porém, esse drama ganhou um rosto e uma biografia: o menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos, cujo corpo sem vida foi fotografado na praia de Bodrum, na Turquia. Aylan, seu irmão mais velho e seus pais buscavam a segurança na Europa a bordo de uma embarcação precária que fazia a travessia entre a Turquia e a Grécia. O barco virou, e da família só o pai sobreviveu.

A imagem do garoto sírio afogado comoveu o mundo e balançou a rigidez europeia em relação à onda migratória que, entre janeiro e agosto, já levou mais de 350 mil pessoas ao Velho Continente. Líderes da União Europeia se mobilizaram para acolher os viajantes, com destaque para a Alemanha (o país que certa vez guerreou pela superioridade ariana), de Angela Merkel, que se comprometeu a receber 500 mil pessoas por ano até a atual crise terminar. Outros governantes, em especial os do leste do continente, ainda se opõem a aceitar os imigrantes. Mas não há dúvida de que a Europa, forçada a exibir seu lado humanitário, mostrou que ele ainda existe.