Dragões, no mundo cristão, são considerados criaturas maléficas. A iconografia do arcanjo Miguel sempre o mostra pisando na cabeça de um dragão. Nos contos de fadas, os dragões são mortos pelo herói da história. Na China, no entanto, onde o dragão é símbolo nacional, seu significado é bem diverso: ele representa felicidade, imortalidade, procriação, fertilidade e, sobretudo, poder e grandeza.

As primeiras representações chinesas conhecidas desse símbolo mitológico remontam a mais de 3.000 a.C. No país, acredita-se que os dragões tenham o poder de afastar os espíritos do mal. Numa cidade chinesa, basta olhar ao redor: dragões estão em toda a parte, decorando monumentos e edifícios, às vezes brincando com relâmpagos. Também são vistos bordados nas roupas dos antigos generais chineses. Só o imperador da China possuía nove dragões de brocado bordados em sua vestimenta. O dragão de cor turquesa simbolizava o próprio imperador, bem como o Sol nascente e a direção do Leste.

A China escolheu um dos seus muitos dragões – Fuwa, ligado à idéia de gentileza e cordialidade – para ser “mascote” simbólico da Olimpíada de Pequim. Não foi por acaso. Com mão de ferro escondida em luva de pelica, Fuwa é o emblema perfeito da nova imagem que a China pretende levar ao mundo no certame olímpico.

A iniciativa não vem sozinha. Na esteira da Olimpíada, a China desencadeia várias iniciativas de âmbito internacional destinadas a mudar radicalmente – e para melhor – o seu conceito aos olhos do mundo. Uma dessas iniciativas, apelidada pelos europeus de “ofensiva do charme”, diz respeito aos institutos Confúcio que estão sendo abertos pela China em vários países do mundo. Destinamse ao ensino e à difusão da língua e da cultura chinesas no exterior.

JÁ EXISTEM MAIS de 100 desses institutos no mundo, estruturados nos mesmos moldes do Instituto Goethe da Alemanha, ou da Aliança Francesa. Curiosamente, em todos os lugares onde foram instalados, quase imediatamente conquistaram a mídia, fazendo de muitos jornalistas aliados incondicionais. A mesma mídia internacional que, nos últimos tempos, não se cansa de citar o crescente poderio econômico e militar da China fala agora também a respeito de um soft-power que, aos poucos, atinge seu objetivo de se tornar mais um braço importante do Grande Poder Chinês. Como fonte do seu soft-power, a China foi beber no imenso rio da sua língua e cultura multimilenares.

Alguns desses institutos já funcionam há três anos, e até agora sua principal atividade é o ensino do mandarim para chineses, para os seus descendentes que vivem no exterior e para pessoas de outras nacionalidades. Eles atendem à crescente demanda de ensino da principal língua chinesa. Mas existe grande preocupação por parte das universidades estrangeiras diante da possibilidade de que seus próprios cursos de língua chinesa sejam abandonados por alunos que preferem estudar nessas instituições.

O Brasil não escapará da investida dos institutos Confúcio. “À medida que as relações políticas e econômicas entre Brasil e China se intensificam, também cresce o interesse na área educacional, sobretudo no ensino do mandarim”, explica o conselheiro para Assuntos Culturais da Embaixada da China, Shu Jianping. “No Brasil, nossa intenção é criar o instituto nas melhores universidades. Temos autorização para criar um Instituto Confúcio na USP. Só estamos aguardando a posição da reitoria da universidade para dar início ao projeto.”

O instituto será criado com o patrocínio do governo chinês (inicialmente serão destinados recursos entre US$ 50 mil e US$ 100 mil). Na seqüência, será montado um conselho diretivo no Brasil. Segundo Jianping, a necessidade de criar o instituto surge de dois motivos: a falta de mão-de-obra qualificada para ensinar o mandarim no País e a carência de material didático de qualidade para a difusão do idioma. “Traremos o material e professores para ensinar o mandarim, a fim de dar oportunidade para que os brasileiros tenham acesso ao idioma e possam transpor as barreiras existentes entre ambos os países”, comenta ele.