Facebook, maior plataforma digital de rede social do mundo, começou 2011 muito bem, com mais de 500 milhões de usuários ativos no planeta e um valor de mercado estimado em US$ 50 bilhões (R$ 80 bilhões), depois de uma injeção de investimentos do banco Goldman Sachs e da empresa russa Digital Sky Technologies. Mesmo sem investimento privado, o Facebook já estava operando no azul. O modelo de negócios da empresa de Mark Zuckerberg se sustenta por meio da venda de anúncios, de bens virtuais (figuras e animações que podem ser compradas na rede social) e participação nos lucros de empresas que desenvolvem aplicativos para a plataforma. Estima-se que apenas os jogos sociais – em que o usuário pode comprar itens especiais com dinheiro – já gerem mais lucro do que os games de console.

 

Alessandro Barbosa Lima, CEO da e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias.

 

Uma pesquisa da consultoria Forrester Research revela que nos Estados Unidos, a população já passou mais tempo conectada à internet do que em frente à televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo online em redes sociais. A grande maioria dos internautas (72%, de acordo com o Ibope Mídia) pretende criar, acessar e manter um perfil em rede. “Faz parte da própria socialização do indivíduo do século 21 estar numa rede social. Não estar equivale a não ter uma identidade ou um número de telefone no passado”, acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias. “No Brasil, entre os consumidores da classe C, pedir para adicionar no Orkut já é tão comum quanto trocar telefones”.

Ser socialmente ativo no século 21 também é interagir com os amigos através de uma plataforma digital de rede social

O boom de redes sociais gera uma guerra de gigantes. No Brasil, a batalha é travada entre Orkut e Facebook. Embora a primeira rede, pertencente à Google, tenha 20 milhões de visitas brasileiras mensais a mais do que a concorrente, é avassalador o crescimento da plataforma criada por Mark Zuckerberg – cuja saga foi revelada pelo filme A Rede Social. No último ano, o Facebook praticamente quintuplicou, saltando de 1,5 milhão de visitantes únicos por mês para 9 milhões. “A briga Facebook e Orkut se dá na Índia e no Brasil. Na Índia, o Orkut deixou de ser o líder em 2010. Acreditamos que isso deve acontecer no Brasil ainda este ano”, diz Lima.

Jacqueline Alé, diretora-geral da Ibope Inteligência, chama a atenção para o aumento explosivo da presença de sul-americanos no Facebook. Os expansivos usuários latinos superaram os dos países europeus e norte-americanos. Dos usuários da América do Sul que estão conectados à rede social, praticamente metade tem 360 amigos, quase o dobro da média de amigos de um norte-americano, que é 195.

Os brasileiros, tidos como amigáveis, são vistos como grandes consumidores potenciais de sites na internet. Segundo dados da empresa comScore, o País tem a maior população online da América Latina, 38,7 milhões de usuários, número igual ao do Reino Unido. O tempo que o brasileiro passa na internet é similar ao dos franceses e sul-coreanos. Isso deixa o Brasil como a oitava maior audiência em internet no mundo. E mais: no último ano foi constatado um crescimento de 20% da inserção nacional online.

A pesquisa TG.Net, feita com internautas de grandes capitais e realizada pelo Ibope Mídia entre maio e junho de 2010, revelou que a maioria dos usuários de internet deseja acessar e manter conta em rede social. Enquanto o Facebook aumentou o tráfego no Brasil em 479%, o Orkut cresceu 30% em 2010. Apesar da disputa, o Orkut ainda é o queridinho brasileiro. Como a penetração nessa rede foi muito grande no início (mais de 50% dos usuários totais do Orkut são brasileiros), mantém-se nela um grande fluxo de informações pessoais, uma vez que o usuário sempre acessa a rede social que seu grupo de amigos conserva atualizada.

A jovem estudante Christy estava zangada porque seu namorado brasileiro, Eduardo Saverin, mantinha o status de “solteiro” no Facebook. O rapaz tentou se justificar dizendo que quando fizera o perfil era solteiro. Explicou que ainda não havia mudado porque estava muito ocupado com o trabalho e também porque não sabia como fazê-lo. “Como é possível?” – indagou Christy. “O diretor financeiro do Facebook não sabe mudar seu status de relacionamento”?

Essa é uma das cenas memoráveis do filme A Rede Social, que retrata como a plataforma se tornou um meio quase oficial para se revelar um compromisso. A cena está longe de ser fictícia. Há muitas notícias de casais que se divorciam depois que uma traição vem à tona em uma plataforma de rede social.

Amigos flertam, organizam eventos, estudam e fofocam via internet. Colegas que não se vêm há anos têm a oportunidade de saber um pouco da vida do outro e, quem sabe, se reaproximar. As redes digitais são um meio de comunicação que veicula notícias sobre as pessoas conhecidas. Essa foi a sacada de Zuckerberg: se as pessoas se interessam por quem conhecem, por que não fazer um site onde a toda hora se pode ter notícias dos amigos? Não é por acaso que muitas pessoas apelidaram o Facebook de “Fofoca Book”.

 

Rede verde-amarela

De fato, a entrada do Orkut no Brasil foi explosiva. No seu início, em 2004, só ingressava na rede quem recebia convite. “Isso despertou o interesse das pessoas e gerou um boca a boca por convites”, conta Lima. “O Brasil é um país marcado pela exclusão social e valoriza o status e a cultura dos VIPs. Há uma valorização individual no fato de ser necessário convite para entrar numa rede”, interpreta. O Orkut também foi uma das primeiras plataformas de rede social, o que despertou a atenção da imprensa e dos internautas, enquanto o Facebook nasceu restrito a estudantes de universidades dos EUA, em Harvard, Stanford e Columbia.

MARK ZUCKERBERG, criador da rede social Facebook.

A tendência para 2011 é que o Facebook cresça como a rede social usada por brasileiros

“O Facebook é uma novidade que está sendo adotada por early adopters, aqueles primeiros usuários do Orkut, que, em 2004, desfilavam felizes com os seus perfis e foram os primeiros a migrar para o Facebook”, diz o diretor da e.life. A equipe que desenvolve a plataforma investiu nessa migração. No ano passado, por exemplo, ainda era possível importar contatos do Orkut para o Facebook, hoje, não. “A migração de um usuário é estimulada pela própria migração de sua rede social”, nota Lima.

Nada pode impedir a mudança dos usuários. Para as empresas, reter o interesse nas redes sociais é a alma do negócio. “Veja o exemplo do Orkut, que, para atrair mais visitas, recentemente passou a usar a estratégia do Facebook de dar mais visibilidade às atualizações dos usuários”, observa Lima. Muitos, hoje, mantêm perfis em mais de uma rede social. Segundo o CEO da e.Life, o melhor jeito de fidelizar o usuário é investir em funcionalidades e aplicativos para induzi-lo a permanecer mais tempo na plataforma.

O norte-americano Paul Butler é autor do mapa acima, que mostra o tráfego das relações de amizade das pessoas, com base nos dados do Facebook. A intenção era apenas traçar redes sociais. Depois de tantas linhas apareceu um mapa-múndi.

“Uma diferença clara entre o Orkut e o Facebook é que o último investiu rapidamente em aplicativos”, ressalta. Os recursos que agregam jogos sociais – categoria em que é necessária a colaboração de amigos -, atualizações de status, fotos e notícias prendem o usuário no endereço de web. Para Lima as redes sociais, como Facebook, não devem ser meros “sites”, mas sim grandes plataformas.

 

A internet tem ouvidos e memória

Redes sociais são ótimas para disseminar ideias, tornar alguém popular e também arruinar reputações. Um dos maiores desafios dos usuários de internet é saber ponderar o que se publica nela. Especialistas recomendam que não se deve publicar o que não se fala em público, pois a internet é um ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo quem se esconde atrás de um pseudônimo pode ser rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso, se exaltam e cometem gafes podem pagar caro. Um exemplo escandaloso foi o da universitária paulista Mayara Petruso. Após o resultado das eleições brasileiras em 2010, ela publicou em seu Twitter mensagens extremamente ofensivas aos nordestinos de São Paulo. O resultado foi um processo na Justiça, perda de emprego e uma péssima reputação. Apagar as mensagens e os perfis na rede não basta para deletar um deslize na web. No caso de Mayara Petruso ainda havia um agravante: a jovem estudava direito.

 

A ideia das redes sociais, como Facebook e Orkut, é fazer os usuários passar a maior parte do seu tempo navegando na plataforma

Jacqueline Alé ressalta que, se o Facebook fosse um país e seus usuários os habitantes, seria o quarto maior do globo: “O país Facebook uniu, em uma única plataforma, tudo o que interessa a uma pessoa na internet: compartilhar conteúdo, se comunicar com os outros, se divertir jogando, expressar ideias, conhecer e procurar novos horizontes.” Lima complementa que o Facebook não quer apenas que os usuários voltem à rede, mas que permaneçam o maior tempo possível nela.

“A rede social é uma plataforma que reúne tudo o que o usuário gosta. É como se fosse um sistema operacional, como o Windows. Quando usamos o computador, estamos o tempo todo no Windows. A ideia das plataformas é agregar mecanismos online que atendam às necessidades dos usuários. Antes, as redes conectavam pessoas. Hoje, conectam pessoas a notícias e fatos – tanto que os principais veículos de comunicação já possuem páginas no Facebook.

“Futuramente, o Facebook conectará sites e objetos reais, como produtos na prateleira de um supermercado. A estratégia é transformar todas as coisas em ‘objetos sociais’ e conectálas por meio da plataforma, mantendo, assim, o usuário mais dependente dela”, explica o diretor da e.Life.

O crescimento das redes sugere que as plataformas de interação não são moda passageira. O MSN Messenger – que hoje é sinônimo de bate-papo e endereço de internet – é uma rede que permanece viva por facilitar o dia a dia das pessoas. Além disso, a utilização crescente das redes sociais por empresas reforça a sua seriedade. Twitter, Facebook e Orkut estão sendo cada vez mais incorporados às estratégias online das companhias.

Atualizações do Orkut

Os programadores do Orkut trabalharam muito em 2010, promovendo mudanças importantes. No novo Orkut é mais fácil visualizar os aplicativos e as atualizações de amigos. Surgiu uma nova ferramenta de edição de fotos, apareceram selos (com ícones que representam troféus conquistados por alguma atitude) e criouse o aplicativo “Sorte do Dia”, com frases aleatórias na página inicial. O site também investiu em jogos sociais. Um exemplo é a “Colheita Feliz”, jogo de administrar uma fazenda, muito semelhante ao “FarmVille” presente no Facebook.

Outra novidade foi o Milmo, com gráficos em 3D e estilo de game multiplayer, em que se pode interagir com outros jogadores em tempo real. Os orkuteiros também podem selecionar temas, ou seja, layouts prontos, para personalizar seu perfil. O Google investiu em aplicativos para facilitar a atualização de dados. Agora, é possível acessar rapidamente o Orkut através do Google Chrome (o navegador da empresa) e atualizar status por meio do celular. Os programadores do Orkut trabalharam muito em 2010, promovendo mudanças importantes. No novo Orkut é mais fácil visualizar os aplicativos e as atualizações de amigos.

 

Texto: maira@planetanaweb.com.br