Vários estudos confirmam que as temperaturas médias estão subindo na Terra, mas até recentemente havia uma dúvida sobre a troposfera, a parte mais baixa da atmosfera. Com espessura média de 12 quilômetros, ela é o cenário onde ocorre a maior parte dos fenômenos meteorológicos. Embora os cientistas acreditassem que ali também haveria elevação de temperatura, os balões meteorológicos e satélites que faziam as medições não registravam aquecimento – e, por vezes, até revelaram quedas na temperatura.

Um estudo publicado em maio na revista Environmental Research Letters, de autoria dos cientistas australianos Steven Sherwood e Nidhi Nashant, pôs ordem nessa área. Eles desenvolveram um novo método de análise que considera alterações em instrumentos, erros em medições, flutuações em curto e longo prazo, e chegaram a três conclusões.

1) O aquecimento da atmosfera nas regiões tropicais (onde a troposfera é mais espessa, podendo chegar a 17 km) aumenta suavemente desde os anos 1950. Esse resultado combina com os modelos de computador sobre o clima e derruba a hipótese de que a velocidade da mudança climática está caindo.

2) O segmento de altitude da atmosfera que se aqueceu nos trópicos é um pouco menor do que previam os modelos climáticos.

3) Há uma mudança no resfriamento observado na estratosfera (camada atmosférica acima da troposfera).

Esses dados indicam, portanto, que a troposfera passou por um aquecimento, assim como os cientistas do clima haviam previsto anos atrás.

A pesquisa permitiu ainda outra conclusão, referente ao chamado “hot spot troposférico”. Hot spot, ou “ponto quente”, em inglês, é uma expressão usada para descrever locais de anomalia termal. No caso da troposfera, refere-se à teoria de que, se o aquecimento global evolui, a troposfera vai se aquecer mais do que a superfície do planeta. A dificuldade em encontrar esse hot spot troposférico – algo até previsível, dada a complexidade exigida nas medições, tanto na superfície quanto ao longo da troposfera – era usada pelos céticos para pôr em dúvida os modelos computadorizados do clima.

O novo estudo detectou o hotspot e revelou que a temperatura na troposfera está aumentando cerca de 80% mais rapidamente do que a temperatura média na superfície das regiões tropicais. Os modelos climáticos previam um aumento menor, de 64%. Mas a hipótese por trás deles, como se vê, estava certa.

O trabalho dos cientistas australianos não apenas trouxe informações importantes sobre o clima, mas também reforçou o acerto, em linhas gerais, dos modelos climáticos. Além disso, injetam informações que aprimoram esses modelos. Esse recurso será cada vez mais necessário, à medida que a situação do clima vai se agravando.