Com os termômetros passando habitualmente dos 30ºC, o alívio se resume a usar o ar-condicionado, principalmente quando se vive em grandes cidades, onde sombra e água fresca não são muito frequentes e não se tem um contato direto com a natureza. Com tanto concreto, não há como se obter uma sensação térmica agradável. Por enquanto, a melhor alternativa para suportar o clima tropical é o ambiente climatizado.

“O ar-condicionado não faz mal – desde que o aparelho não seja usado em excesso e esteja nas condições ideais de limpeza”, afirma Rafael Stelmach, pneumologista do Instituto do Coração (Incor). A questão não é o tempo de exposição a ele, mas sim a qualidade do ar circulante. “Ficar 24 horas por dia, sete dias por semana sob o ar-condicionado é prejudicial, mas não tão ruim quanto ficar apenas umas poucas horas sob um aparelho que não está funcionando de acordo com as normas”, relata. É típico desse sistema de refrigeração retirar a umidade do ar, e isso pode ressecar as vias aéreas. Mas, quando o aparelho está em más condições, as implicações para a saúde podem ser bem mais comprometedoras.

A falta de limpeza e de manutenção correta e constante do ar-condicionado não apenas diminui a renovação do ar, mas provoca um acúmulo de sujeira. Além disso, durante o processo de refrigeração ocorre a condensação de água, que, líquida, acaba por se acumular no interior da máquina, favorecendo o surgimento de muitos fungos e bactérias. Esses dois fatores costumam responder pelo agravamento dos quadros de moléstias respiratórias como asma, rinite, sinusite e doença pulmonar obstrutiva crônica. “A temperatura baixa também contribui para a proliferação de bactérias que são resistentes ao frio”, lembra Stelmach.

A limpeza completa do ar-condicionado – motor e todos os dutos – deve ser feita, em média, de 30 em 30 dias. Esse tempo pode variar, dependendo das condições de operação da máquina, do ambiente e do tipo de aparelho. No caso de automóveis, por exemplo, esse período pode se estender para uns seis meses, mas isso está relacionado ao ambiente por onde o veículo anda. “Se passar todos os dias por lugares com muita poeira, o prazo diminui”, diz Oswaldo Bueno, professor de pós-graduação em refrigeração e ar condicionado do Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), em São Bernardo do Campo (SP).

Um ar-condicionado que opera de acordo com as normas retém parte das impurezas e renova o ar do ambiente, diluindo boa parte da concentração de odores e de dióxido de carbono. A falta de limpeza reduz a circulação do ar e pode inclusive provocar a emissão de maus cheiros. Esse é, por sinal, um dos modos para se identificar se um ar-condicionado está em más condições. Alguns aparelhos liberam odor quando ligados. Por conta disso, Bueno adverte que nunca se deve colocar perfumes ou desodorantes na aparelhagem após o processo de higienização. “Toda vez que você coloca um odor, mascara outro que poderia ser ruim, porém revelador.” A limpeza do ar não é barata – custa por volta de R$ 200 –, mas é muito importante para o bem-estar e o bolso.

Sujo, o ar-condicionado tem até 5% de sua capacidade de refrigeração reduzida. Pode parecer pouco, mas ele ainda consome, em média, 20% a mais de energia elétrica que o normal. Isso porque a sujeira força o aparelho a precisar de temperaturas ainda mais baixas para refrigerar o ambiente – e, por isso, a consumir mais energia elétrica.

“É como se eu tivesse de transportar um peso e, em vez de subir um andar, subisse dois. Vou gastar mais energia”, explica Bueno. A limpeza do aparelho é o principal cuidado que deve ser tomado. Bueno compara um ar-condicionado de pequeno porte, típico de ambiente doméstico, à geladeira. É questão de mantê-la limpa; não há necessidade de um mecânico checar a toda hora se a máquina está funcionando bem, a menos que alguma anomalia seja detectada.

Bueno ressalta que o mais importante é que o ar no ambiente seja sempre renovado, principalmente em ambientes públicos. Shoppings, escritórios e centros comerciais, por exemplo, onde circulam muitas pessoas, são ambientes propensos a ter mais poluição e mais contágio por doenças. “Onde estão as pessoas existe mais contaminação, seja pelo espirro, seja pela respiração ou pelo descamamento de pele”, explica o professor. “Há também as sujeiras que todos trazem e fica no ambiente.

É IMPORTANTE QUE HAJA A RENOVAÇÃO DE AR EM AMBIENTES PÚBLICOS, POIS LUGARES EM QUE CIRCULAM MUITAS PESSOAS ESTÃO PROPENSOS AO CONTÁGIO POR DOENÇAS

Então, é preciso um filtro, porque o ar que retorna para a máquina tem de ser rigorosamente limpo antes de voltar para a gente outra vez. É preciso renovar o ar para diluir a poluição.” É fundamental que se acione a função que troca o ar da sala pelo ar de fora. Hoje, a maioria dos aparelhos tem essa propriedade. “O uso do ar-condicionado não causa problema desde que ele esteja sempre limpo e que a pessoa intercale os períodos. Por exemplo, se usou o aparelho a noite inteira, de manhã deixe-o desligado e abra a janela para ventilar”, recomenda Stelmach.

Outro cuidado a ser tomado tem relação com o ambiente em que o aparelho está instalado. Em salas com carpete, por exemplo, a circulação e a renovação do ar são muito importantes. “O carpete acumula grande quantidade de sujeira, ácaros e fungos. Com ele, o ambiente já está contaminado. A sujeira acumulada no ar agrava ainda mais a situação”, afirma o pneumologista. Ele acrescenta que o fogão em ambiente fechado só com ar-condicionado também pode ser prejudicial. Além da poeira, há maior concentração de gás carbônico devido à combustão. Nas duas situações, é essencial que haja renovação do ar.

Para garantir o conforto, outro fator a destacar é a posição do aparelho: ele deve ser instalado de modo que o ar que sai não atinja diretamente as pessoas. “O ideal é o ar-condicionado ficar o mais horizontal possível, próximo ao forro”, descreve Bueno. Isso porque o ar frio deve trocar calor com o ar do ambiente antes de atingir o nível das pessoas, para não causar incômodo. Imagine colocar o aparelho soltando ar gelado diretamente na sua cama. Quando a máquina for ligada, você sentirá frio e ficará debaixo das cobertas; quando for desligada, vai ficar muito quente. Então, você ficará nesse jogo de tira e põe o cobertor, que causa desconforto. Mas, se o aparelho for posicionado de modo que o ar que sai atinja uma parede antes de entrar em contato com o seu corpo, ele estará agradável, pois o ar frio já terá se espalhado pelo ambiente.

A temperatura também deve entrar na conta quando o negócio é conforto. “Ar-condicionado não é refrigerador”, destaca Stelmach. A temperatura ideal é por volta dos 21ºC. Mas o que acontece é que muitas pessoas, ao chegar da rua, com muito calor, acabam ligando o aparelho em uma temperatura mais baixa. “Esse é um grande erro”, aponta Bueno. “As  pessoas abaixam o termostato por conta de uma sensação temporária de calor intenso. Além de gastar muito mais energia, a diferença brusca de temperatura pode prejudicar a saúde, causando choque térmico.”

O professor explica que o ajuste do termostato deve variar de acordo com as condições externas de temperatura, umidade, atividade realizada no ambiente e roupa das pessoas que o frequentam. Em lugares em que não se fica muito tempo, como agências bancárias, o ideal é uma temperatura de 24ºC a 26ºC. Já em casas de comércio e escritórios, a temperatura boa seria entre 22ºC e 24ºC.

Ajuste da temperatura, renovação do ar, bom posicionamento e limpeza frequente do aparelho são fatores essenciais para garantir um ambiente termicamente agradável, saudável e econômico. Usado com moderação, o ar-condicionado pode ser símbolo de conforto nos dias de calor; em excesso, ou fora das normas, ele pode ser fonte de inúmeras doenças.

Água para equilíbrio térmico

Oswaldo Bueno, professor de pós-graduação da FEI, também sugere uma alternativa para se refrescar: os climatizadores, ou melhor, umidificadores de ar. Em ambientes com baixa umidade relativa – 10% a 20% –, como em Brasília, esses aparelhos umidificam e refrescam o ar pelo processo evaporativo. “É praticamente a mesma função dos chafarizes nas salas das famílias árabes. A água evapora e refresca, pois o ar do deserto é muito seco”, explica Bueno.