Pequenos corpos celestes que giram em torno do Sol, os asteroides remontam à época da formação dos planetas, e as informações obtidas a seu respeito podem nos ajudar a compor um panorama cada vez mais nítido das origens do Sistema Solar.

Alguns deles já atingiram a Terra, com resultados devastadores. Nestes dias em que as viagens de ônibus espaciais voltaram a ser rotina e lançamentos de naves, satélites e sondas se multiplicam em pontos variados do planeta, uma missão como a Dawn passa praticamente despercebida do público em geral.

Mas essa pequena sonda em forma de caixa, lançada com sucesso no fim de setembro, tem um objetivo muito importante: entre 2011 e 2015, ela vai visitar dois dos maiores asteróides do Sistema Solar, Vesta e Ceres. Ao orbitá-los, a Dawn (“Alvorada”, em inglês) coletará diversos dados sobre esses corpos celestes, como sua estrutura interna, densidade, formato, tamanho, composição e massa, além de informações sobre a morfologia de sua superfície, as crateras existentes, o magnetismo e a possível presença de água.

Os Estados Unidos estão gastando cerca de US$ 450 milhões nesse projeto, o que para muitos é puro desperdício de dinheiro. Os cientistas, porém, consideram que qualquer análise nesse sentido é incorreta. Segundo eles, os dados retransmitidos permitirão conclusões mais precisas sobre a história e a constituição dos asteróides – e, em conseqüência, sobre a própria formação do Sistema Solar.

Asteróides são pequenos corpos rochosos sem atmosfera e de brilho variável, que em sua maioria giram em torno do Sol, em órbitas elípticas semelhantes à da Terra. Eles não têm tamanho suficiente para serem considerados planetas – seu diâmetro é, em geral, de algumas centenas de quilômetros (por isso, também recebem a denominação de “planetóides”, ou “pequenos planetas”). São compostos principalmente de carbono, ferro e magnésio. Os formatos são os mais variados: enquanto alguns são quase esféricos, como Ceres, outros lembram batatas cheias de crateras e fraturas.

HÁ DEZENAS de milhares desses corpos orbitando nossa estrela no Cinturão de Asteróides, faixa entre Marte e Júpiter distante entre 300 milhões e 600 milhões de quilômetros do Sol. Outros, em número ainda incalculável, estão no chamado Cinturão de Kuiper, além da órbita de Netuno. Alguns deles já se chocaram contra a Terra no passado, com efeitos tão grandes que mudaram a história do planeta.

No sentido horário, a partir da direita: Vesta, um dos destinos da Dawn; Eros, com forma de batata; Ida e seu satélite, Dactyl (no detalhe); Ceres, o maior asteróide conhecido. Abaixo: concepção artística do choque de um artefato humano contra um asteróide. Página ao lado: concepção artística do asteróide 1998 WW31, no Cinturão de Kuiper.

Pequenos corpos celestes que giram

em torno do Sol, os asteróides

remontam à época da formação dos

planetas, e as informações obtidas a

seu respeito podem nos ajudar a

compor um panorama cada vez mais

nítido das origens do Sistema Solar.

Alguns deles já atingiram a Terra, com

resultados devastadores

Dezenas de MILHARES desses corpos ocupam uma faixa entre Marte e Júpiter; outros giram ao redor do Sol além da órbita de NETUNO

Para muitos cientistas, a existência de um cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter indica que esses corpos podem ser o que sobrou do material que a fortíssima gravidade jupiteriana impediu de se tornar um planeta quando o Sistema Solar nasceu, há 4,6 bilhões de anos. Outros consideram que o tal planeta chegou a se formar, mas não resistiu à força gravitacional de Júpiter e fragmentou-se.

É preciso cuidado para não confundir asteróide com meteoro ou meteorito. Embora os três estejam relacionados entre si, referem-se a coisas distintas. Os meteoritos são partes de asteróides ou cometas que atingem a superfície da Terra. Diversamente dos meteoros (também chamados de estrelas cadentes), eles não são totalmente consumidos pelo fogo no atrito com a atmosfera terrestre. Um termo menos conhecido dos leigos, meteoróide, designa todo corpo celeste que vaga no espaço antes de colidir com a atmosfera.

Já foram catalogados mais de 3 mil asteróides, e imagina-se que ainda haja outros milhares por descobrir. Ceres, o maior, visto pela primeira vez em 1801, tem um diâmetro que ronda os 1.000 km (o que, na redefinição dos objetos do Sistema Solar feita em 2006 pela União Astronômica Internacional, o levou a ser promovido a “planeta anão”). Já os menores não passam de seixos. Pelo menos 16 asteróides têm diâmetro de no mínimo 240 km, e estima- se que mais de 400 mil possuam diâmetro superior a 1 km. Mesmo juntando toda a massa dos corpos encontrados no Cinturão de Asteróides, porém, calcula-se que o astro resultante teria um diâmetro de 1.500 km – menos da metade do tamanho da Lua.

A maioria dos asteróides gira ao redor do Sol entre Marte e Júpiter, mas um bom número deles escapa desses limites, por uma combinação de colisões com outros asteróides e da influência gravitacional de Júpiter. Eles passam então a descrever órbitas excêntricas, e alguns aproximam-se de tempos em tempos da Terra, de Vênus e de Mercúrio; quando cruzam o espaço a menos de 195 milhões de quilômetros do Sol, são chamados de Asteróides que se Aproximam da Terra (NEA, na sigla em inglês).

Belos e perigosos

A cada dia, cerca de 4 bilhões de meteoróides chegam ao planeta (a maioria minúscula), mas em algumas ocasiões eles parecem cair em grupo – a chamada “chuva de meteoros”, um dos espetáculos mais bonitos do céu. O nome da mais famosa dessas chuvas – Perseidas – deriva da constelação de onde eles parecem vir (na verdade, vêm de todas as direções). Neste ano, ela ocorreu em 12 de agosto e sua visibilidade foi prejudicada pela Lua. Com melhores condições, porém, é um show imperdível: os fragmentos cruzam a atmosfera a cerca de 208 mil km/h.

Graças à atmosfera e à estatística, a colisão de um meteorito com uma pessoa é um fenômeno para lá de raro. Até hoje, só um caso foi registrado: ocorreu em 1954, em Sylacauga (sul dos Estados Unidos). A “sortuda”, Annie Hodges, foi atingida por um meteorito de 12 quilos: a rocha atravessou o telhado de sua casa e, ao bater num rádio, lançou destroços sobre a mulher. Como um cálculo divulgado em 1985 na revista Nature indica que esse fenômeno só ocorre a cada 180 anos, temos mais de um século de calma pela frente.

E o que acontece com quem não é protegido pela atmosfera, como os astronautas da Estação Espacial Internacional? Para defendê-la dos cerca de 100 mil meteoróides que passarão perto dela durante seus 20 anos de uso previstos, os cientistas revestiram-na com uma grossa camada de kevlar, o material usado na fabricação de coletes à prova de balas.

VEZ POR OUTRA os NEAs assustam os astrônomos, ao assumirem trajetórias que ameaçam nosso planeta. Os efeitos de uma colisão dessas seriam devastadores – basta lembrar que, ao cair na região da Península do Yucatán, há 65 milhões de anos, um desses encerrou o reino dos dinossauros sobre a Terra, enquanto outro, que se chocou com a superfície terrestre há cerca de 300 milhões de anos, levou ao extermínio 90% das formas de vida então existentes. Para não ir tão longe no tempo, uma colisão ocorrida em 1908 em Tunguska, na Sibéria, provocou uma grande destruição na área.

Para acalmar os leitores mais preocupados com incidentes desse tipo, os dois maiores meteoritos resgatados até hoje, nos EUA e na Namíbia, pesavam cada um cerca de 60 toneladas. O maior localizado no Brasil – achado em Bendengó (BA) em meados do século 19 e hoje exposto no Museu Nacional, no Rio de Janeiro – é bem mais modesto: pesa “apenas” 5,5 toneladas.

PARA SABER MAIS

Sites: Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP, http://cdcc.sc.usp.br/cda/aprendendo- basico/sistema-solar/asteroides.html; Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, http://www.if.ufrgs.br/ast/solar/ por tug/asteroid.htm; Nasa, http:// nssdc.gsfc.nasa.gov/planetar y/planets/ asteroidpage.html.