Quando a humanidade do futuro estudar o Antropoceno – a era geológica marcada pela atividade humana –, setembro de 2016 merecerá um destaque. Foi nesse mês que a concentração de gás carbônico na atmosfera superou a marca de 400 partes por milhão (ppm), um caminho sem volta por muito tempo, segundo os cientistas. A certeza quanto a isso vem do fato de que é em setembro que os níveis de CO2 na atmosfera estão mais baixos, por causa do verão no hemisfério norte (que tem mais terras emersas), quando as plantas crescem e absorvem esse gás de efeito estufa. O índice de setembro registrado no Observatório de Mauna Loa, no Havaí, referência no setor, caiu, mas não abaixo de 400 ppm. “É possível que outubro produza um valor mensal inferior a setembro e volte para abaixo de 400 ppm? Quase impossível”, escreveu o cientista Ralph Keeling, responsável pelo programa de monitoramento de CO2 do Instituto Scripps de Oceanografia (EUA). “Breves excursões para valores mais baixos são possíveis, mas já parece seguro concluir que não veremos um valor mensal abaixo de 400 ppm neste ano – ou nunca mais num futuro indefinido.” Com isso, a meta de elevação máxima da temperatura em 1,5° C em relação aos níveis pré-industriais definida na COP21, em Paris, parece seriamente comprometida. E, para complicar mais a situação, o novo presidente dos EUA, Donald Trump, nega o aquecimento global e poderá anular pelo menos boa parte do legado ambiental de Barack Obama.