Corretores de plantão no prédio da Bovespa recebem os visitantes interessados em esclarecer dúvidas sobre como investir.

Bolsa fecha em baixa de 0,5% no final do dia. Crise dos Estados Unidos afeta Bolsa de São Paulo, que cai 3%. Depois de alta do petróleo no Oriente, Bolsa fecha em alta de 1,5%. Frases como essas são repetidas todos os dias nos meios de comunicação e nos colocam em contato com um mundo de números, cifras e índices. Mas, afinal, o que tudo isso significa e o que tem a ver com a sua vida? Com essa mesma dúvida, peguei meu bloco de anotações, caneta, máquina fotográfica e fui até a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no centro da capital paulista, para tentar entender um pouco esse intricado mundo do mercado de ações.

Começo minha pesquisa justamente com essas duas palavras: mercado e ações. A primeira implica que ali se compra e se vende algo – no caso, ações. Ações, para simplificar, são um pedaço de uma empresa.

De um lado estão as empresas de capital aberto, que colocaram suas ações à venda com o intuito de obter dinheiro para ampliar os negócios. De outro estão pessoas, empresas e instituições interessadas em investir seu dinheiro em algo que cresça, que gere dividendos e, portanto, uma parcela do lucro.

Se você compra ações de uma empresa e, durante o ano, ela cresce 15%, vai receber o dinheiro resultante desse crescimento, de acordo com o número de ações que possui. De outro lado, se a empresa tem um problema e fatura menos nesse período, os acionistas também vão sofrer as mesmas conseqüências.

A Bolsa de Valores é onde essa compra e venda de ações acontece, um centro de negociações privado regido pelo Sistema Financeiro Nacional, conjunto de instituições e normas que regulamentam a economia do País. Até aí, tudo bem. Entretanto, embora você possa investir na Bolsa a longo prazo, a conta de quem ganhou e quem perdeu no mercado de ações é feita diariamente.

UMA AÇÃO DA Petrobras, por exemplo, pode começar o dia valendo R$ 50 e terminar valendo R$ 55 – um aumento de 10% em poucas horas. Essas oscilações, que acontecem a todo momento, dependem de acontecimentos ligados a essas empresas e também ao resto do mundo. A descoberta de uma nova jazida de petróleo pode impulsionar um crescimento das ações da Petrobras naquele dia. Da mesma forma, um grave acidente ecológico numa plataforma petrolífera pode derrubar o seu valor.

No alto, a antiga área onde acontecia o pregão é hoje o Espaço Bovespa, que recebe visitantes. Acima, alunos de uma escola de economia assistem a vídeo sobre a Bolsa no cinema em 3D. À direita, computadores e modernos sistemas de comunicação substituíram a antiga gritaria dos pregões.

Isso se pensarmos em apenas uma empresa. No jogo do mercado de ações, você pode investir em várias empresas ao mesmo tempo, todos os dias, colocando seu dinheiro em setores consolidados ou naqueles que acredita que vão crescer. Alguns podem render mais, outros menos, ou até mesmo fazer você perder dinheiro.

É desse sobe-e-desce de cifras que saem os índices que ouvimos todos os dias: se a Bolsa fechou em alta de 2%, quer dizer que, somando a valorização e a desvalorização das ações negociadas no dia, houve um saldo positivo de 2% em relação ao dia anterior. Quando esse índice é positivo, também pode significar que o mercado está acreditando nas empresas brasileiras e, por isso, investiu mais nelas.

Nos últimos dez anos, isso passou a acontecer de forma mais sólida em nosso país. Com a economia mais estável, os investidores (inclusive estrangeiros) estão mais seguros em colocar seu dinheiro aqui. Por esse prisma, a Bolsa também pode ser considerada um termômetro da economia.

Outra questão sobre o mercado de ações é que hoje em dia ele é totalmente globalizado. Ficamos sabendo de tudo que acontece no mundo em tempo real, seja por televisão aberta, seja a cabo, internet, rádio… Como as oscilações do mercado dependem dessas informações, é importante estar atento tanto a notícias de última hora como às tendências mundiais.

SE GEORGE W. BUSH anuncia que haverá recessão nos Estados Unidos, isso pode significar uma forte queda nas Bolsas de todo o mundo. Se o desenvolvimento da China indica que o país vai precisar de mais minério de ferro, isso pode aumentar o valor das ações do setor de minério do Brasil. Isso tudo num único dia.

É por isso que investidores têm de estar com um olho no dinheiro e outro nas notícias do mercado. Uma informação pode render milhões, de dividendos ou de prejuízos.

Se o assunto é informação, imagine que você é diretor de uma empresa ligada à Bolsa e saiba que ela vai fechar um contrato importante na semana que vem. Você vai até lá, compra milhões em ações dessa empresa pensando que, com o fechamento do negócio, essas ações subirão muitos “porcentos”. Negócio fácil, não? Pois saiba que isso dá cadeia. Pelas leis que regem o mercado e o mundo empresarial, esse tipo de atitude não é permitido.

Além de questões éticas, há órgãos federais, como o Conselho Monetário Nacional (CMN), e a própria Bolsa, que, por meio de um monitoramento constante, zelam para que isso não aconteça. Altos funcionários, por exemplo, não podem deixar vazar esse tipo de informação, sob as penas da lei. Além disso, lançar boatos para forçar quedas ou altas de ações também pode levar à cadeia.

É também no jogo rápido e globalizado da Bolsa que entram em cena os especuladores. Diferentemente do investidor, que aposta no crescimento das empresas a médio e longo prazo, o especulador compra ações hoje por um valor baixo somente para vendê-las amanhã por um valor mais alto.

Trata-se de uma prática aplicada por diversos setores da sociedade, desde as grandes empresas e bancos até “investidores” solitários, que sonham com lucro fácil. Vivem de olho nos gráficos para prever quem subirá e quem descerá amanhã. É o que faz a Bolsa de Valores tornar-se também um verdadeiro tabuleiro de apostas, que ocorrem diariamente e movimentam milhões.

Há dois anos aquela cena de homens gritando exaltados ao telefone não existe mais na Bolsa de Valores de São Paulo. O sistema de compra e venda, que era feito por viva-voz, foi informatizado e tudo é realizado com um avançado sistema on-line. Hoje, circulam por ali centenas de visitantes, de todas as idades e classes, que querem informações sobre como investir em ações.

O local que era palco daquela aparente algazarra tornou-se o Espaço Bovespa, onde foi construído um moderno cinema em 3D (com imagens que saltam aos olhos), um museu (que conta a história da instituição), um café, salas para palestras e orientações e um terminal de computadores, onde são simuladas compras e vendas em tempo real. Tudo para que o visitante entenda como funciona o mundo das ações.

Um dos motivos para tanta dedicação é que a Bolsa de Valores está de olho nos cerca de 30 milhões de investidores em potencial, pessoas que poderiam aplicar em ações, mas não o fazem por falta de informação. Embora para a maioria dos brasileiros investir na Bolsa ainda soe como algo só para iniciados e milionários, em países como os Estados Unidos mais de 50% da população faz seu dinheiro render dessa forma. Desde pequenos empresários e autônomos até donas-de-casa, todos aplicam em ações.

Na página oposta, corretores fazem simulação de como são feitas as compras e vendas de ações na Bolsa. Acima, palestra realizada diariamente para estudantes e interessados em investir. À esquerda, o Museu da Bolsa traz a história em mobiliário da época de sua fundação.

NO BRASIL, ISSO começa a mudar. Nos últimos cinco anos, o número de acionistas cresceu de 85 mil pessoas físicas para 300 mil. Hoje, cerca de 5% da população está atrelada à Bolsa, mas acredita-se que possa chegar a 15%. Isso acontece também porque o mercado de ações tem se apresentado como o investimento mais rentável nos últimos dez anos. Mesmo com altos e baixos, no ano passado, por exemplo, as aplicações em Bolsa renderam 43,65%, enquanto a poupança, 7,7%, e a renda fixa, em torno de 12%.

Mas calma, isso não quer dizer que você deva ir com tanta sede ao pote. Embora o mercado de ações brasileiro passe por uma fase de crescimento, alguns economistas acenam com incertezas para um futuro próximo. A crise imobiliária nos Estados Unidos, iniciada em 2007, tem afetado o humor das Bolsas em todo o mundo. Alguns analistas acreditam que isso vai passar em alguns meses. Outros acreditam que a crise vai se agravar.

A história também nos dá vários exemplos dessas grandes crises. O crash da Bolsa de Nova York, em 1929, é o mais famoso deles, quando a especulação nas Bolsas norte-americanas (entre outros fatores econômicos) fez seus índices despencarem, levando todos os seus investidores à bancarrota, com reflexos no mundo todo, inclusive no Brasil.

Existem ainda outros exemplos bem mais recentes. Em 2002, com a crise da Argentina, que decretou moratória de sua dívida externa, houve uma descrença em relação à América Latina que fez com que os investidores retirassem tudo que tinham por aqui. As ações despencaram e muita gente perdeu dinheiro. É o jogo do capitalismo. Se você está disposto, faça suas apostas.

História das Bolsas

Embora a compra e a venda de cotas de empresas aconteça desde antes do século 15, foi apenas a partir de 1487, em Bruges (Bélgica), que tais negociações passaram a ter uma sede própria. A idéia se disseminou e, em 1690, foi inaugurada a sede da Bolsa de Londres. Em 1792 foi a vez da Bolsa de Valores de Nova York, hoje uma das mais influentes do mundo. No Brasil, a primeira a surgir foi a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1845. A Bovespa nasceu logo após a Proclamação da República, em 1890. A iniciativa se espalhou por várias capitais, como Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas, em 2000, todas as negociações feitas por essas Bolsas foram unificadas em São Paulo e a Bovespa tornou-se a Bolsa do Brasil.

Já mundialmente importante, devido aos recentes progressos da economia brasileira, o mercado acionário do País ganhou novo destaque em março, com o anúncio da integração entre a Bovespa e a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Nesta última não se negociam ações, mas contratos de mercadorias e derivativos (contratos nos quais se definem pagamentos futuros baseados no comportamento dos preços de um ativo de mercado). A iniciativa, que deve ser concluída entre dois e três anos, deverá criar a terceira maior Bolsa do mundo, acima da Bolsa de Nova York e atrás apenas da Deutsche Börse (a Bolsa alemã) e da Bolsa de Chicago. Segundo o presidente do conselho da BM&F, Manoel Felix Cintra Neto, a empresa resultante da integração, chamada provisoriamente de Nova Bolsa, deverá funcionar como um “centro consolidador” dos mercados na América Latina e poderá negociar ações de companhias regionais, nacionais e internacionais.

SERVIÇO

A Bovespa está aberta de segunda a sábado, das 10h às 17h. Se você deseja saber mais sobre o seu funcionamento ou até mesmo investir, é só ir até lá e assistir a uma de suas palestras (que precisam ser agendadas). Além disso, há folhetos explicativos, vídeos institucionais e dezenas de corretores que dão orientação caso a caso.

A Bolsa de Valores de São Paulo fica na Rua XV de Novembro, 275, na região central paulistana. Tels.: (11) 3233-2000 e 0800-770- 0149, e-mail: bovespa@bovespa.com.br.