No aeroporto de , bati os olhos numa prateleira de jornais em que se lia: “Ujságválasztékunk az ön rendelkezésére áll.” Abaixo, a salvadora tradução em inglês informava: “Por favor, sirva-se dos jornais.” Fiquei olhando a frase impenetrável e imaginando aquela história de se esforçar para entender um pouco o idioma de outro país.

Esqueça – compreender a língua do povo magiar é muito difícil para nós, latinos, e pedir para alguém pronunciar pode confundi-lo ainda mais. Portanto, decore aquela velha meia dúzia de palavras úteis, escreva-as num papelzinho e vá em frente. O fato de nem todos falarem inglês nesse lindo país do Leste Europeu e às vezes insistirem em conversar com você em húngaro renderá, certamente, situações divertidas.

Peste é uma cidade cosmopolita, plana, movimentada e – o mais importante – onde tudo acontece

Situadas em margens opostas do majestoso rio Danúbio (Duna, para os húngaros), Buda e Peste eram, até 1873, duas cidades distintas, unidas pelo rio que as separa. Embora sejam há 133 anos, são bem diferentes. Buda é mais acidentada, marcada por colinas entrecortadas por inúmeras vielas e casarios antigos. Um passeio pela Táncsis Mihály “útca” e pela Tárnok útca (útca = rua, em húngaro) revelará um pouco da atmosfera histórica do período austro-húngaro. São ruas fechadas aos veículos, um verdadeiro convite a perambular por elas.

Acima, o Café Gerbaud. Nas fotos abaixo, o Mercado Municipal em Peste, que vende desde artesanato e condimentos até o gulash, um prato típico do lugar.

Vale uma passada no Bastião dos Pescadores, um curioso monumento erigido em homenagem às sete tribos magiares que fundaram a Hungria no longínquo ano de 896. Lá também estão a Igreja de São Matias e a imponente Catedral de São Estevão, o padroeiro do país. Há importantes museus, como o da História de e o do Vinho. Ao cair da tarde, não deixe de visitar o Mirante Citadella, no cume do Monte Gellert, para desfrutar de uma imperdível vista do Danúbio e suas pontes iluminadas. Se possível, chegue um pouco antes do anoitecer, para presenciar a belíssima transição das últimas luzes do dia, as pontes e a iluminação da cidade se acendendo enquanto a noite cai.

é famosa por seus banhos termais, dos quais os húngaros são grandes adeptos. Entre muitos termas, destacam-se o Gellert e o Széchenyi Spa, este último próximo ao centro de Peste e ao restaurante Gundel, eleito muitas vezes um dos melhores da Europa. Em Buda, às margens do Danúbio, os banhos medicinais no magnífico Spa Gellert, com nada menos que 500 anos de existência, atraem milhares de pessoas em busca de seus propalados efeitos terapêuticos.

Peste, por sua vez, é uma cidade plana, movimentada, cosmopolita e – o mais importante – onde tudo acontece. Grandes avenidas, ruas e calçadões com um comércio diversificado e uma profusão de bares, cafés e restaurantes, tudo está lá. Peste possui a fama de ter baladas noturnas bem agitadas.

As bicicletas são bastante usadas como meio de transporte nas ruas da cidade.

Não perca a Váci útca, o calçadão do centro, sempre bem freqüentado. Pare para um capuccino e uma célebre torta de chocolate no secular Café Gerbeaud, dê uma passada na sinagoga central, onde se destacam, de longe, os dois imponentes domos de estilo mouro. À noite, vá jantar no Menza, um bar e restaurante superdescolado e cheio de gente bonita.

Não perca em Peste o Market Hall, ou se preferir, o Nagy Vásárcsarnok, na cabeceira da Liberty Bridge, uma das pontes que unem Buda a Peste. Perambular por seus corredores é uma deliciosa experiência, onde cores e cheiros das especiarias, embutidos, queijos e cogumelos nos conduzem a toda parte. No andar superior, dezenas de boxes vendem um artesanato variado, com destaque para trabalhos em porcelana e vidro soprado, além dos multicoloridos bordados húngaros. Uma ótima dica: no segundo piso você almoça com metade do dinheiro de um restaurante simples na rua e come uma deliciosa comida húngara, variada, colorida e bastante condimentada – simplesmente imperdível.

Reserve um dia para um bucólico passeio – a Vila de Szentendre, um museu a céu aberto. É uma antiga vila do interior onde se pode vislumbrar o estilo de vida local de 150 a 200 anos atrás. Ainda funciona uma pequena padaria artesanal, que assa deliciosos biscoitos de gengibre, detalhadamente decorados um a um com glacê. Há um artesanato local bastante curioso.

Acima, um músico toca canções ciganas nas ruas de Peste. À esquerda, o interior do Bastião dos Pescadores. À direita, o famoso Café Gerbeau.

Uma boa notícia: se há um lugar na Europa onde se serve uma comida barata, gostosa e farta, esse lugar é . Come-se e bebe-se muito bem. A cidade se auto-intitula de forma bemhumorada a capital mundial da páprica, um condimento feito à base de um tipo de pimentão comprido e fino que, uma vez seco, é moído até virar um pó de cor laranja brilhante, muito utilizado para condimentar e colorir pratos.

Os húngaros usam essa especiaria em tudo, e até lanchonetes como Burger King têm o seu Paprika Chicken. Outra boa notícia: a Hungria produz vinhos maravilhosos, ainda pouco conhecidos por nós, brasileiros. Em qualquer restaurante de é possível apreciar rótulos diferentes – e excelentes – a preços compensadores. Apesar de sua pequena área territorial, o país possui 22 diferentes regiões vinícolas e é o 10º maior exportador de vinhos do mundo.

São muitas as castas de uvas autóctones – oriundas do Leste Europeu e praticamente desconhecidas do resto do mundo. Não deixe de trazer na mala uma garrafa de Tokaji, os míticos vinhos de sobremesa (doces) produzidos na região do Tokaj. “Egészségedre!” (“eguexéguedre”) – ops, eu quis dizer: Saúde!

Com cerca de 500 anos, o Spa Gellert, visto de Peste, atrai milhares de pessoas em busca de seus propalados efeitos terapêuticos.