Sempre elegante, sorridente e ativa, Dorina de Gouvêa Nowill completou 90 anos de idade no dia 28 de maio. Ela acaba de ser agraciada com o Prêmio Sentidos 2009, categoria Troféu Especial, por uma existência inteira dedicada à inclusão social dos deficientes visuais. Batalhadora incansável em prol da educação, formação cultural, reabilitação e profissionalização de pessoas cegas ou com baixa visão, ninguém mais do que ela mereceria também o prêmio nacional da resiliência – tantas foram as dificuldades que teve de enfrentar e superar para atingir seus objetivos.

Mas Dorina possui poderes muito especiais: a força do ideal, a coragem e a dedicação que, como ela mesma diz, “são elementos essenciais para as obras que têm como objetivo o homem propriamente dito”. Além deles, a natureza que lhe retirou a visão compensou-a com uma indestrutível capacidade de adaptação à realidade: “A natureza é sábia. O rico potencial do ser humano procura suprir quaisquer perdas. É preciso enfrentá-las em toda a sua realidade. Muito difícil para uns, um pouco menos para outros. Fácil, para ninguém.”

“Todos têm direitos e deveres. Quem recebe tem de dar. O metro quadrado que você ocupa na vida tem de produzir e render para a sociedade.”

Dorina nasceu em São Paulo no dia 28 de maio de 1919. Ficou cega aos 17 anos, vítima de uma patologia. Percebendo, naquela época, a carência de livros em braile no Brasil, criou, com a participação de amigas, a Fundação Dorina Nowill para Cegos, que iniciou suas atividades em 11 de março de 1946.

Foi a primeira aluna cega a frequentar um curso regular, na Escola Normal Caetano de Campos. De 1961 a 1973, dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em sua gestão foram criados os serviços de educação de cegos em todas as Unidades da Federação. Madrinha da recém-lançada campanha “Acessibilidade: siga esta ideia”, da Prefeitura de São Paulo, ela é certamente a figura mais emblemática do País na luta pela integração social dos deficientes visuais.

Dorina especializou-se em educação de cegos no Teacher’s College da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA). Naquela ocasião, participou de uma reunião com a diretoria da Kellog’s Foundation, expôs o problema da falta de livros em braile para cegos brasileiros e da necessidade de se conseguir uma imprensa em braile para a fundação que tinha sido criada no Brasil. Em 1948, a Fundação Dorina Nowill para Cegos recebeu da Kellog’s Foundation e da American Foundation for Overseas Blind uma imprensa em braile completa com maquinários, papel e outros materiais.

A imprensa em braile da Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma das maiores do mundo em capacidade produtiva, com produção em larga escala, equipamentos de grande porte, recursos humanos especializados e matéria-prima especial. A fundação oferece como um de seus serviços a produção de livros falados e livros digitais acessíveis, visando a diminuir os problemas de comunicação das pessoas cegas ou com baixa visão, ocasionados pela limitação visual. O mais recente lançamento da instituição são os livros digitais acessíveis no formato Daisy, reconhecido mundialmente como o recurso mais moderno em acessibilidade de leitura.

Além da educação, outra preocupação de Dorina é a prevenção da cegueira. Escreveu o livro E eu venci assim mesmo, lançado em 1996 e apresentado na última reunião da União Mundial de Cegos na África do Sul, em dezembro de 2004, com distribuição para toda a Europa e América Latina. A obra Para ver além, que reúne frases de sua autoria, foi lançada em 2002, sob a organização de Marina Gonzalez.

Atualmente, Dorina preocupa-se em difundir o trabalho da instituição, sua experiência e o sistema em braile por meio de trabalhos com a comunidade, professores e palestras requisitadas por empresas, universidades federais, estaduais e particulares, como também por diversas instituições e escolas de São Paulo e do Brasil. Aos 90 anos completos, ela dá continuidade a sua obra. Sem nunca duvidar do poder da vida e da boa vontade das pessoas, pois “há sempre algo mais além dos males e das deficiências que a vida nos apresenta. Para além da dúvida, existe a fé. Para além do sol, existe o calor e a energia quando a luz apaga. Para além da vida, a eternidade.”

Para saber mais

Site: www.fundacaodorina.org.br

Atendimento especializado: fone (11) 5087-0998

E-mail: atendimento@fundacaodorina.org.br

Milhões de páginas em braile por ano

A Fundação Dorina Nowill para Cegos há 63 anos facilita a inclusão social de crianças, jovens e adultos cegos ou com baixa visão, por meio de livros e revistas acessíveis que permitem às pessoas com deficiência visual acesso ao mundo do conhecimento e da informação.

Os mais de 900 títulos produzidos pela instituição em 2008, nos formatos em braile, falado e digital acessível, foram distribuídos diretamente para mais de 5 mil deficientes visuais e cerca de 1.300 escolas, associações, bibliotecas e organizações que atendem deficientes visuais de todo o País.

A fundação oferece também atividades gratuitas de atendimento especializado ao deficiente visual e sua família, que inclui programas de avaliação e diagnóstico, clínica de baixa visão, educação especial, reabilitação e orientação e colocação profissional do deficiente visual. Em 2008 foram realizados mais de 20 mil atendimentos.

A instituição disponibiliza, através da Biblioteca Circulante do Livro Falado e Digital, mais de mil títulos para empréstimo nos formatos MP3 e digital. Com a maior imprensa em braile da América Latina, capaz de imprimir mais de 45 milhões de páginas em braile por ano, produz livros didáticos, literatura e best-sellers. Na fundação também são produzidos cardápios, partituras musicais, catálogos, cartões de visitas e outros materiais de prestação de serviços às empresas e à comunidade.