Junho de 2012 poderá surgir nos livros de efemérides do futuro como um mês de marcos importantes da história humana. Um deles é a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na capital fluminense 20 anos depois da Eco-92 e tema da matéria iniciada na página 22. A comparação entre os eventos não deixa dúvidas sobre o fiasco deste ano. Enquanto em 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento atraiu os principais mandatários do mundo e deixou um rico legado, liderado pela Agenda 21, a Rio+20 mostrou que o passar do tempo não traz necessariamente sabedoria, pelo menos aos governantes. Às voltas com problemas internos, líderes como o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, e os primeiros-ministros Angela Merkel, da Alemanha, e David Cameron, do Reino Unido, esnobaram solenemente a conferência (a maior já organizada pela ONU até hoje), e o pífio documento final reflete a incapacidade oficial de pôr em marcha medidas que tragam o conceito de desenvolvimento sustentável do plano das ideias para o das realizações.

EDUARDO ARAIA

Editor

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O outro marco, tema da capa deste número, não chamou tanto a atenção da imprensa, mas sua relevância pode ser incomensurável no futuro. Um pequeno avião suíço movido unicamente à energia solar fez a primeira viagem transcontinental do gênero, decolando de Madri e pousando em Rabat, no Marrocos. O porte do aparelho e o tempo gasto no ar – 19 horas para um percurso que os aviões de carreira concluem em uma hora e pouco – talvez façam com que a maioria das pessoas considere o feito mais como uma curiosidade do que algo promissor. Mas, como lembra André Borschberg, um dos dois principais nomes por trás da empreitada, se os irmãos Wright fizeram seu voo pioneiro em 1903 e três décadas depois o transporte aéreo já florescia, como prever que a aviação solar, impulsionada pela imensa criatividade humana, não tomará os céus nas próximas décadas, livrando o transporte aéreo da dependência do poluidor petróleo? Apostar na sociedade, em vez de nos governos, parece ser a grande lição deste junho de 2012.