E m 1968 o biólogo norte-americano Paul Ehrlich escreveu um livro famoso, The Population Bomb, até hoje não traduzido no Brasil, que virou leitura obrigatória entre demógrafos. Na época, havia 3,5 bilhões de habitantes no planeta; agora, somos 7 bilhões. Nele, o autor anunciava: “A batalha para alimentar a humanidade terminou. Nos anos 1970 haverá epidemias de fome no mundo e centenas de milhões de pessoas vão definhar até morrer, não importa que programas agrícolas lancemos hoje.”

De fato, houve epidemias de fome em Biafra, na Nigéria, em 1969, e na Etiópia em 1984, grandes tragédias sociais, mas nem de longe morreram “centenas de milhões”. Exageros como este contribuíram muito para o descrédito da obra. Posteriormente Ehrlich reconheceu que “a análise sobre a situação alimentar estava errada, porque subestimou o impacto da Revolução Verde na expansão da produção agrícola”.

Prever o futuro é arriscado, mas num mundo superpopuloso

a escala dos problemas só tende a aumentar

O discípulo norte-americano do economista britânico Thomas Malthus errou exatamente onde seu mestre errara, no século 18, ao subestimar o poder da inovação tecnológica de potencializar a produção de alimentos e a economia. A repetição é muito sugestiva, mas não significa que Malthus e Ehrlich não estejam certos em outros pontos. A reportagem de capa desta edição – que comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente – mostra cenários previsíveis e desconfortáveis para a futura população mundial de 9 bilhões, em 2045.

Quarenta anos após o lançamento do livro controverso, Ehrlich afirma que “o pior aspecto de The Population Bomb foi o título, escolhido pela editora, e seu maior erro foi ter sido muito otimista”. Segundo o autor, a atual mudança climática induzida pelo efeito estufa, a contínua destruição de ecossistemas, as guerras por recursos naturais (“como a invasão do Iraque, em 2003, pelo petróleo”) e o hiperconsumo dos países ricos “são muito mais difíceis de corrigir do que a superpopulação que multiplica seus efeitos”. Ou seja, o cenário piorou.

O autor que um dia escreveu que “o câncer do crescimento demográfico deve ser extirpado pela força, se os métodos voluntários fracassarem” não está nada animado com as perspectivas do planeta. Prever o futuro é um exercício arriscado, mas poucos discordam que num mundo superpopuloso a escala dos problemas aumenta. Tomara que Ehrlich esteja errado de novo.

Ricardo Arnt – Diretor de Redação

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