Perigo para os corais

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Até 1985, a área da costa egípcia do Mar Vermelho 30 quilômetros a noroeste de Hurghada era quase virgem: só uma estrada passava ali. Quatro anos depois, porém, a situação começou a mudar, com o início da construção da estância turística de El Gouna (vista parcial à direita). Fincada numa das mais belas regiões de corais do mundo, ela hoje tem 16 hotéis, cerca de 2.700 mansões, três marinas, um campo de golfe e centenas de lojas e restaurantes.

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Preocupados em embelezar o cenário e facilitar o trânsito dos barcos, os construtores retiraram quantidades enormes de areia das baías da área para criar ilhas artificiais, marinas, canais e hotéis. As fotos abaixo, tiradas pelos satélites Landsat, da Nasa, mostram as mudanças ocorridas entre 1985 e 2015. El Gouna pretende ser uma cidade neutra em carbono, mas tem um pesado custo ambiental. Segundo um estudo, nos últimos 30 anos os corais perto de Hurghada diminuíram cerca de 50%.

 

Arquipélagos decorativos

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Dubai, a maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, é um reduto de extravagâncias arquitetônicas como o Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, com 800 metros de altura. Em mais um exemplo dessa ousadia, construtores locais decidiram criar arquipélagos artificiais na costa que, vistos do alto, formam desenhos. O primeiro deles, Palm Jumeirah, representa uma palmeira estilizada e começou a ser construído em 2001 (foto abaixo, à esquerda, tirada da Estação Espacial Internacional). Até sua conclusão, em 2006, mais de 50 milhões de metros cúbicos de areia foram retirados do leito do Golfo Pérsico e borrifados nas áreas delimitadas para deixar as ilhas acima do nível do mar.

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Três anos antes, em 2003, foram iniciadas as obras de O Mundo – 300 ilhas artificiais que, de cima, lembram os contornos dos continentes terrestres (a formação no alto da foto acima, à direita, batida em 2010). É mais um projeto monumental, que usou 320 milhões de metros cúbicos de areia e 37 milhões de toneladas de rochas empregadas na construção de um quebra-mar com um quilômetro de extensão que cerca o local. Entre os efeitos dessas obras estão danos à fauna marinha local e mudanças nos padrões de erosão ao longo da costa dos Emirados Árabes Unidos. À direita, algumas das “folhas” de Palm Jumeirah.

 

Tradição em aterramento

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Situada numa região montanhosa, Hong Kong, na China, já aterrava trechos do mar dois séculos antes de Cristo para ampliar seu território. As principais ações de expansão começaram no século 19, sob o domínio inglês, e respondem hoje pela maior parte da área urbanizada da cidade (em rosa na foto de satélite mais à esquerda).

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Partes importantes de Hong Kong, como o aeroporto (foto ao alto) e a Disneylândia, foram totalmente erguidas sobre terra conquistada ao mar. Uma parcela desses avanços comprometeu ambientalmente a área do porto, que ganhou em 1996 uma lei específica para sua preservação.

 

Mais espaço para o glamour

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Prensado entre a França e o Mediterrâneo, o minúsculo e sofisticado principado de Mônaco (área: 2,02 km2) decidiu crescer para o lado de quem lhe causaria menos problemas: o mar. O grande responsável pelos aterramentos marítimos foi o príncipe Rainier (marido da atriz Grace Kelly e pai do atual soberano, o príncipe Albert), apelidado de “Príncipe Construtor”. Preocupado em promover a economia local, ele começou criando o distrito de praias de Larvotto, no início da década de 1960.

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Depois veio a área industrial de Fontvieille (foto ao alto), construída nos anos 1970 e que significou um aumento aproximado de 20% do território monegasco. A área de Port Hercule também foi ampliada para receber navios de cruzeiro maiores e abrigar um novo clube de iatismo. Outros acréscimos foram feitos no distrito de La Condamine. O príncipe Albert pretende seguir o ímpeto do pai nesse aspecto, adicionando 0,05 km2 ao distrito de Fontvieille, mas de modo mais respeitoso com o meio ambiente. Ele reconhece a fragilidade dos ecossistemas locais e promete que os novos projetos causarão o mínimo de danos à flora e à fauna da área.

 

Metrópole ampliada

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Nascida sobre sete pequenas ilhas na costa oeste da Índia, Mumbai (ex-Bombaim) começou sua saga de conquistar território do mar ainda no século 18, a partir de um projeto inglês que uniu todas as ilhas numa só e barrou as enchentes causadas pelas marés altas. Favorecida por sua condição de abrigar o mais importante porto indiano, a cidade cresceu de forma explosiva, tornou-se o centro financeiro e econômico do país e virou, previsivelmente, um polo de atração de migrantes.

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Hoje moram ali cerca de 19 milhões de pessoas (a área urbana está em verde-claro na foto acima), e, para acomodar boa parte desse imenso contingente, novos aterramentos têm sido feitos. Não contentes, as autoridades locais planejam novas expansões, como a ampliação do centro financeiro de Nariman Point e uma estrada costeira partindo da Marine Drive. Uma empresa holandesa, a Royal Haskoning DHV, e o Instituto Nacional de Oceanografia vão estudar os efeitos de todas essas mudanças – e também das passadas – nos ecossistemas circundantes e nas comunidades próximas.

 

Área preservada

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Uma das maiores regiões de manguezais do mundo, Sundarbans fica no delta do rio Ganges e pertence a dois países – Índia e Bangladesh –, que a designaram parque nacional para protegê-la de uma população em crescimento contínuo ao norte dali. Esse emaranhado de canais, elevações lamacentas e florestas de mangues na Baía de Bengala é morada de uma riquíssima vida selvagem, como o ameaçado tigre de Bengala, crocodilos, tubarões, golfinhos de água doce e mais de 200 espécies de aves.

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Embora seja considerada uma atividade ambientalmente perigosa, um projeto de criação de camarões na área (na parte central superior da foto acima) está sendo conduzido em conformidade com as diretrizes ecológicas para essa área e não tem interferido na pesca artesanal dos moradores locais (ao alto).

 

Experiência comprovada

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Quando se fala em ganhar terra do mar, a Holanda é imbatível: há 2 mil anos o país se dedica a ampliar território, e hoje 25% da sua área é constituída por terras abaixo do nível do mar. A tecnologia aprimorada dos holandeses tem uma amostra emblemática na ampliação do porto de Roterdã. Entre a foto do satélite Landsat à esquerda, em cima, batida em 2006, e a de baixo, de 2010, uma área de 20,2 km2 (centro da foto) foi incorporada pelo projeto Maasvlakte 2, dedicado a evitar engarrafamentos nos terminais de carga.

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O processo usado no Maasvlakte 2 foi semelhante ao das ilhas de Dubai: a areia foi retirada do Mar do Norte e borrifada em áreas pré-designadas até atingir a altura necessária. Depois, 20 mil grandes blocos de pedra foram colocados para impedir que a nova terra se desfaça (foto ao alto). A obra contempla medidas compensatórias para todos os danos ambientais relacionados a ela.