O montanhista Daniel Casagrande encara os 120 metros de altura da via “Ronco do Bugio”, na Torre da Canastra, localizada próxima a Canela, Rio Grande do Sul.

O fotógrafo Alexandre Cappi criou o primeiro banco de imagens da América Latina exclusivamente voltado ao ecoturismo e aos esportes de aventura. Seu acervo de mais de 5 mil fotos e as histórias ligadas a elas são o tema da exposição “Homo Sapiens Naturalis”, que está rodando o Estado de São Paulo

Desde pequeno, o menino Alexandre já se lançava em aventuras: escolhia sempre atravessar a praia pelas rochas, quase se afogou várias vezes, escalava árvores centenárias e caçava siris na calada da noite. É fácil imaginar que daí para os esportes de aventura foi um pulo – ou, melhor dizendo, um salto. Hoje, Alexandre Cappi é fotógrafo e criador do primeiro banco de imagens da América Latina especializado em ecoturismo e esportes de aventura, o BrStock (www.brstock.com.br). Começou a fotografar há sete anos, atraído pelo contato com a natureza e sua paixão pelos esportes, e não parou mais. Hoje, com apenas 29 anos de idade, ele possui um acervo de mais de 5 mil imagens já selecionadas. Elas têm como tema as mais de 60 modalidades de esportes de aventura que Cappi clica incansavelmente, como trekking, escalada, balonismo, canoagem, ciclismo, mergulho, rafting, arborismo, montanhismo e windsurf. Todas essas imagens fazem parte de seu site e são publicadas em revistas e jornais do Brasil, especializados ou não, além de estrelarem campanhas institucionais de empresas. Basta acessar, escolher as fotos que deseja a partir de um sistema de busca (no qual você digita o tema selecionado e depara com dezenas de opções) e pagar pela internet; Cappi as envia em alta resolução. Fácil.

Atleta atravessa região desértica da Cordilheira dos Andes, na região de La Paz, Bolívia.

MAS O CAMINHO até aí não foi tão fácil. Cappi passou pela propaganda (no que se formou em 2000), produtoras de vídeo, agências de publicidade, estúdios e outros trabalhinhos distantes do que sempre imaginara, embora sempre ligados à imagem. Só então vieram seus primeiros trabalhos como profissional da fotografia, na revista Aventura e Ação, especializada em esportes de aventura, e, mais tarde, a oportunidade de viajar 40 dias para a elaboração do Guia dos Mochileiros, com apoio da Kodak. O objetivo era mapear toda a infra-estrutura turística praiana compreendida entre Santa Catarina e Rio de Janeiro. Como reconhecimento, Cappi também teve seu trabalho documental incluído no Guia de Responsabilidade Socioambiental Kodak. Um ótimo começo.

“FOI AÍ QUE TIVE certeza de que o que euqueria para minha vida era viajar,voltar e contar histórias a partir de minhas imagens”, diz Cappi. Eleatualmente é colaborador de revistas como Trip, Go Outside, UM (Universo Masculino), Sport Life, O2, Bike Action, VO2 e Flash Viagens, além dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde e da Revista da Folha. Também já registrou vários eventos internacionais, como o Snowboard Continental Cup, em Las Leñas (Argentina), os Ecomotions- Pro 2004, na Bahia, e 2005, na Serra Gaúcha, o Crail Word Cup e as Mil Milhas de Interlagos, em São Paulo, e o Jet Waves e a Wakeboard Continental Cup, em Florianópolis. Ufa… tanta coisa que ficamos cansados só de dizer tantos nomes.

Cappi possui um acervo de mais de 5 mil imagens, já SELECIONADAS entre cerca de 60 modalidades de esportes de aventura

Acima, competidor argentino faz complicada manobra durante o Ballantines Summer Games, etapa do circuito mundial de wakeboard; abaixo, tirolesa da Pedra do Elefante, desafio do circuito de corrida de aventura em Andradas, Minas Gerais.

A RELAÇÃO COM os esportes, que vinha desde criança, estreitouse ainda mais com o passar dos anos. Durante a adolescência, Cappi se engajou em diversas modalidades esportivas, como natação, caratê, futebol e corrida, até que, há seis anos, descobriu o montanhismo e a escalada, que passaram a ter lugar de destaque em sua vida pessoal e profissional. “Vi um pessoal fazendo escalada indoor (em lugares fechados), achei legal e fui lá. Comecei a praticar e não parei mais”, conta.

 

Montanhista confere de perto a imponência do Cânion Malacara, localizado no Parque Nacional Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul.

Hoje, o fotógrafo diz que pratica esportes que lhe dão prazer e auxiliam em seu trabalho de campo. Ele foi percebendo que podia usar esses esportes para melhorar seu desempenho na hora de fotografar, fazer uma imagem num ângulo diferente e acompanhar a evolução de um escalador paredão acima. “Durante um evento esportivo, fotografar determinada modalidade pode ser considerado uma atividade quase tão difícil quanto competir, já que você precisa estar no lugar certo e na hora certa”, ressalta. Um dos exemplos mencionados por Cappi é a própria escalada, que exige que o fotógrafo também escale para conseguir uma boa imagem. “Além disso, é preciso conhecer bem a modalidade para valorizar os instantes realmente cruciais na prática, mais perigosos, mais difíceis. Creio que essa minha relação com o esporte é um bom diferencial do meu trabalho. Hoje realizo coberturas somente com o apoio de uma bicicleta”, complementa Cappi.

OUTRO DIFERENCIAL de seu trabalho está na relação com os clientes, com um sistema de atendimento mais humanizado, embora disponha de toda a tecnologia de seu site. É Cappi quem sugere pessoalmente as fotos a cada revista e agência, de acordo com suas necessidades. “Tenho domínio total sobre meu acervo e, de acordo com o que me solicitam, posso sugerir imagens que vão além do que me pediram, mas que também têm a ver com a encomenda”, explica. Nada mais coerente para alguém que busca na relação homem/natureza os prazeres de sua profissão e de sua vida. “Descobri que o que gosto é de estar com o pé na lama, de estar no frio, no calor”, reflete o fotógrafo. “O ambiente natural, o profissional que eu sou, o esportista que eu sou, o contemplador que eu sou, tudo se une em minhas fotos. É da convergência de tudo isso que surge a palavra realização. E é isso que quero passar em minhas imagens.”

Acima, atletas atravessam represa seca durante a corrida de aventura Circuito Estrada Real, realizada em Lavras Novas, Minas Gerais; abaixo, alunos de ioga preparam seus espíritos para um dia inteiro de escaladas no Morro do Cuscuzeiro, em Analândia, São Paulo.

Nesta página, momento de perigo durante rafting nas corredeiras de Queenstown, Nova Zelândia. Na página oposta, um rapel de 130 metros na Cachoeira do Caracol, no Rio Grande do Sul, durante o Ecomotion-Pro, circuito mundial de corrida de aventura.

O homem possível

Alexandre Cappi é um otimista, como está claro em suas palavras: “Tenho meu acervo porque acredito que esse registro pode ajudar na conscientização das pessoas, pode contribuir para a formação de um homem que se harmonize com a natureza através do esporte.” Com essa idéia na cabeça e uma câmera na mão, montou recentemente a exposição Homo Sapiens Naturalis, que revela justamente esses momentos de harmonia entre homem e natureza. “Sei da dificuldade dessa minha missão, mas também acredito que o esporte sirva justamente para superar nossos próprios limites”, conclui o fotógrafo.

As 67 imagens apresentadas trazem cenas de 38 modalidades esportivas, praticadas em lugares remotos e onde a natureza se impõe, exuberante. Ali está essa nova espécie de homo sapiens, praticante de esportes como vôo livre, mountain bike, escaladas, montanhismo e tantos outros.

Patrocinada pelo Sesi, a exposição Homo Sapiens já passou por vários municípios paulistas e ainda percorrerá outras 40 cidades do Estado, entre elas Mogi-Guaçu, Matão e Rio Claro, até o final de 2007.