Até o fim deste ano, El Hierro, no Arquipélago das Canárias (região autônoma da Espanha situada na costa noroeste da África), será a primeira ilha energeticamente autossuficiente do mundo a depender apenas de fontes renováveis. O problema de intermitência no abastecimento vai ser resolvido pela combinação de um parque eólico com um sistema de acumulação hidráulica. O parque eólico fornece eletricidade diretamente à rede e ao mesmo tempo alimenta uma unidade de bombeamento que armazena água em uma represa. Uma hidrelétrica usa essa energia armazenada, garantindo o fornecimento contínuo e a estabilidade da rede.

Graças ao projeto hidroeólico, a ilha não vai mais precisar importar seis mil toneladas de diesel transportadas por barco, reduzindo custos e cortando suas emissões de dióxido de carbono em 18,7 mil toneladas anuais. A Reserva da Biosfera de El Hierro tem como objetivo aumentar a eficiência energética e reduzir mais as emissões de carbono com seu Plano de Mobilidade Sustentável, uma vez que 50% da energia consumida na ilha é usada para o transporte. O plano vai combinar alternativas de transporte público e soluções inovadoras.

A Reserva da Biosfera de La Palma está cuidando da iluminação pública, que responde por 17% do consumo mundial de energia. Por meio de sistemas de iluminação inteligentes que são energeticamente eficientes e reduzem a poluição luminosa, a ilha derrubou suas necessidades energéticas e ainda ganhou o bônus do céu claro e estrelado. As Canárias estão numa localização excepcional para observações astronômicas e participam da Iniciativa Starlight (plano internacional criado em 2007 com o objetivo de atuar em defesa dos valores associados ao céu noturno e ao direito geral de observar as estrelas) em parceria com o programa O Homem e a Biosfera da Unesco. Ela se tornou um importante destino para os aficionados de astronomia, desenvolvendo atividades turísticas que combinam ciência e observação.

Água para biocombustíveis

Em Fuerteventura, o desafio é tanto a água quanto a autossuficiência energética. Seu projeto Água Renovável liga o ciclo da água à produção de biocombustíveis. Em Corralejo, um parque eólico está associado a uma usina de dessalinização de água. Já a Universidade de La Laguna está desenvolvendo um projeto de produção de biocombustível utilizando sementes de pinhão-manso. O projeto utiliza fontes não convencionais de água para irrigação, incluindo o excedente de água dessalinizada e águas residuais tratadas. A superfície natural das ilhas e os recursos de água subterrânea só podem cobrir cerca de 10% da demanda no momento. A capacidade da cultura do pinhão-manso de preservar o solo contra a erosão também ajuda a combater a desertificação em uma ilha na qual esse risco é alto.

Diversas outras iniciativas estão sendo testadas e implementadas nas reservas da biosfera das Canárias, em um esforço para construir sociedades verdes mais amigáveis ao planeta. Os projetos promovem parcerias público-privadas, transferem tecnologia entre diferentes setores e melhoram os sistemas de informação e de decisão por meio da utilização de ferramentas de gestão participativa. Ao mesmo tempo,, promovem o envolvimento da comunidade local e incentivam a produção de artigos de alta qualidade elaborados de acordo com critérios sustentáveis.

Todos esses programas e iniciativas fazem parte da estratégia de sustentabilidade energética e promoção de economias sustentáveis promovida pelo governo espanhol das Canárias, com o apoio de instituições como a Faculdade de Ciência da Geoinformação e Observação da Terra, da Universidade de Twente, na Holanda, pioneira em energia renovável e gestão integrada da água, e do Centro da Unesco das Ilhas Canárias.