Foram necessários milhares de anos para identificar todos os planetas que compõem nosso sistema solar, mas apenas 20 para descobrir que existem milhares de mundos girando na órbita de outras estrelas. Em 1995, astrônomos anunciavam a descoberta do primeiro exoplaneta, na constelação de Pégaso, a 50 anos-luz do nosso planeta. De lá para cá, outros 5.583 foram encontrados e 1.879 foram confirmados na categoria. Para os cientistas, estamos muito perto de encontrar um planeta com as mesmas características da Terra.

As chances são altas. Nossa galáxia tem 200 bilhões de estrelas e, em princípio, a mesma nuvem molecular que origina estrelas forma planetas. “Em breve, teremos a tecnologia necessária para poder detectar outras Terras. Nos próximos cinco, dez anos, deveremos ter notícias muito boas sobre planetas habitáveis”, afirma Jorge Melendez, professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP), líder do projeto que anunciou em julho a descoberta de um gêmeo de Júpiter.

Achar uma Terra 2.0 seria revolucionário e nos ajudaria a responder a algumas perguntas fundamentais: “como o Sistema Solar se formou?”, “qual a origem da vida?”, “há vida fora da Terra?”. Um passo incrível em nossa grande aventura no cosmo – mesmo considerando que só conhecemos 5% de todo o universo. Nos quadros desta reportagem, você confere os feitos mais notáveis da odisseia humana no espaço até agora e as empreitadas mais promissoras.

Oi, tchau, Plutão

Depois de sobrevoar Plutão, revelando imagens incríveis de sua superfície, a sonda New Horizons segue viagem rumo aos limites do Sistema Solar

Se você estava neste mundo em julho, certamente viu as belas imagens de Plutão, o planeta descoberto em 1932 nos limites do nosso sistema. As primeiras fotos e dados enviados pela nave New Horizons trouxeram algumas surpresas. Há montanhas altas (de até 3.500 metros) e planícies congeladas em sua superfície, o que indica que ainda deve haver atividade geológica ali. As muitas crateras são resultado das colisões constantes de meteoros, abundantes naquela zona. A atmosfera de Plutão, formada sobretudo por nitrogênio, escapa rapidamente devido à baixa gravidade do planeta. E, não menos importante, o planeta anão não é tão pequeno: seu diâmetro é 70 km maior que o estimado. Nos próximos 16 meses, a Nasa continuará recebendo dados e imagens da New Horizons, que segue explorando os limites do Sistema Solar. Mais novidades virão.

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Desbravador interestelar

Há 38 anos as sondas Voyager exploram o universo coletando dados e levando uma mensagem diplomática para eventuais contatos extraterrestres. Desde 2012, a Voyager 1 transita no espaço interestelar, além do Sistema Solar. É o artefato humano mais distante no cosmo

Os exploradores humanos que estão mais longe no espaço atingiram a fase final de sua missão. A Voyager 1, o artefato humano mais distante, está no espaço interestelar, a mais de 19,5 bilhões de quilômetros do Sol. A Voyager 2, já próxima do limite do Sistema Solar, está a 16 bilhões de quilômetros. As sondas fornecerão à Nasa um conhecimento inédito do espaço além das influências do Sol. Lançadas em 1977, as naves têm parte de seu equipamento avariado e obsoleto, mas ainda conseguem tirar fotos e enviar dados do meio externo para análise. A expectativa da Nasa é que elas parem de funcionar por volta de 2025. Depois disso, vagarão pela galáxia carregando um disco com mensagens e músicas de um pequeno planeta a anos-luz de distância, para que ele, quem sabe, seja desvendado por alguma forma inteligente de vida.

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Nações unidas no espaço

Há 15 anos a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) é a sucursal da humanidade no espaço. Ali são conduzidas pesquisas de vanguarda para a exploração espacial e a vida na Terra

O esforço para construir e manter um laboratório espacial gigante, envolvendo vários países, tem sido constante desde o século 20, quando se iniciou a montagem em órbita da ISS. Muitos criticam o alto custo do projeto – dinheiro que poderia bancar várias missões não tripuladas a outros planetas –, mas tem saído dali uma série de inovações que, além de contribuir para a própria exploração do universo, beneficiam a vida na Terra. Em seu relatório mais recente, a ISS listou descobertas no campo da medicina que vieram do espaço, entre elas o desenvolvimento de técnicas para cirurgias robóticas. Outro destaque é a observação de fenômenos climáticos e da natureza, o que ajuda a prevenir catástrofes e a compreender as mudanças ambientais.

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Rali em Marte

Em solo marciano desde 2012, o robô Curiosity já encontrou evidências de que houve condições para a formação de vida microbiana no Planeta Vermelho e continua a explorar seu território

Enquanto expedições tripuladas a Marte ainda não acontecem, o Curiosity segue explorando o planeta. Imagens tiradas pela sonda nas primeiras semanas após o pouso revelaram em uma área marcas da passagem de uma corrente abundante de água. Análises do solo confirmaram que Marte teve condições favoráveis à vida em um passado recente: água líquida corrente, não muito salgada ou ácida. A principal meta da missão, achar evidências de que o planeta seria adequado para a formação de vida microbiana, foi concluída em oito meses. O robô segue coletando informações vitais sobre a geologia e a atmosfera para uma missão tripulada da Nasa, prevista para 2038.

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De carona no cometa

Há quase um ano no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, a sonda Philae, da missão Rosetta, atinge em agosto o ponto mais próximo ao Sol na órbita do astro

A missão Rosetta, da Agência Espacial Europeia (ESA), conseguiu em 12 de novembro do ano passado a façanha de pousar sua sonda Philae no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que transita entre as órbitas de Júpiter e da Terra. Foi o primeiro objeto humano a descer em um cometa. Desde então, ele vem estudando o corpo celeste, captando imagens e analisando a composição mineral. O dia 13 de agosto, data do periélio do cometa (o ponto mais próximo do Sol em sua órbita), marca o clímax da empreitada até agora. “Será a primeira vez que um veículo espacial estará seguindo um cometa de perto conforme ele se move no Sistema Solar”, disse Matt Taylor, cientista da ESA, antes do evento. Nesse momento, o cometa, mais aquecido pelos raios do Sol, pode protagonizar um belo espetáculo de luzes.

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O primo mais velho da Terra

O Kepler 452b é uma Super-Terra que orbita uma estrela muito parecida com o Sol, em uma zona habitável, mas deve enfrentar um efeito estufa violento

Em 23 de julho, a Nasa anunciou a descoberta do Kepler 452b, o exoplaneta mais parecido com a Terra já encontrado. O astro orbita uma estrela parecida com o Sol em uma zona habitável – que permitiria a formação de água líquida. Há boas chances de ele também ser um planeta rochoso, mas as semelhanças param por aí. O Kepler 452b é 60% maior que a Terra, e sua estrela é 1,5 bilhão de anos mais velha que a nossa. “Podemos considerá-lo um primo maior e mais velho da Terra, que pode nos ajudar a entender a evolução da própria Terra”, disse Jon Jenkins, da Nasa, no anúncio da descoberta. A comparação pode ser sombria: devido à idade desse sistema, é provável que a energia emitida pelo sol tenha secado seus eventuais oceanos.

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De volta à Lua

Sem receber uma visita do homem desde os anos 1970, a Lua volta ao centro das atenções. Chineses planejam instalar uma base tripulada no lado oposto de nosso satélite. Americanos também devem voltar ao solo lunar antes de pisar em Marte

A última vez que o homem pisou na Lua foi em 1972, quando a Apollo 17, da Nasa, levou ao satélite o geólogo Harrison Schmitt para colher amostras do solo. Depois de anos de abandono, a Lua volta ao foco das agências espaciais internacionais. Os chineses anunciaram o plano de enviar uma sonda não tripulada à face oculta do satélite, região ainda inexplorada. O plano da China é concluir essa fase do projeto em 2018. A etapa seguinte é construir uma base no local a fim de receber astronautas para pesquisas futuras. Uma nova visita à Lua é vista por chineses, americanos e europeus como uma etapa intermediária fundamental para uma eventual ida a Marte. Em solo lunar, seria possível fazer testes e desenvolver soluções para os desafios de uma jornada ao Planeta Vermelho.

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Olho no espaço

O telescópio James Webb, substituto do Hubble, poderá enxergar a luz da formação das primeiras galáxias do universo e analisar a composição de exoplanetas e de corpos do Sistema Solar

Se as contribuições do telescópio Hubble à astronomia foram enormes, as de seu substituto, James Webb, serão ainda mais impressionantes. A tecnologia de sensores infravermelhos e espectrógrafos da nova geração de telescópios produzida pela Nasa, em parceria com a Agência Espacial Europeia e a Agência Espacial Canadense, terá alcance muito maior que os instrumentos do Hubble. Seus equipamentos poderão captar a luz emitida na formação das primeiras galáxias. Os modernos espectrógrafos ajudarão a desvendar a composição química da atmosfera de exoplanetas – auxiliando na busca por formas de vida semelhantes à nossa – e dos planetas do Sistema Solar. O lançamento dessa luneta gigante (são seis toneladas) acontecerá em 2018. O James Webb deverá entrar em operação seis meses após a decolagem e ficará a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.

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O gêmeo de Júpiter

Na constelação de Cetus, a 187 anos-luz, um planeta igual a Júpiter orbita uma estrela gêmea do Sol. É o corpo celeste mais parecido com um objeto do Sistema Solar já identificado

Um grupo de astrônomos de vários países liderado pelo professor Jorge Melendez, do Departamento de Astronomia da USP, anunciou em julho a descoberta de um planeta extrassolar gêmeo de Júpiter. “Ele tem a mesma massa de Júpiter, e sua distância da estrela HIP 11915 é a mesma daquela existente entre Júpiter e o Sol”, explica Alan Alves Brito, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho. A equipe observa do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), no Chile, estrelas gêmeas do Sol. A descoberta aumenta a expectativa de se encontrar uma Terra 2.0. O próximo passo da pesquisa é determinar se outros planetas existem nesse sistema. Com a tecnologia atual, no entanto, é possível detectar somente objetos mais massivos do que a Terra. Mas se estima que, entre cinco e dez anos, uma nova geração de equipamentos será capaz de fazer esse trabalho.

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Stephen Hawking vai caçar ETs

O cosmólogo britânico e um time de astrônomos de primeira linha anunciaram a maior investida feita até agora para buscar sinais de vida inteligente fora da Terra

Um grupo de astrônomos liderados por alguns dos maiores especialistas do mundo vai embarcar na maior força-tarefa em busca de sinais extraterrestres já feita. A iniciativa Breakthrough Listen vai utilizar os melhores telescópios do mundo para varrer as milhares de estrelas mais próximas da Terra e cem galáxias ao nosso redor em busca de transmissões de rádio e de laser. Essa missão será 50 vezes mais acurada e cobrirá uma área dez vezes maior do espaço do que qualquer outra iniciativa do tipo. O plano, por ora, é apenas escutar sinais que possam ter escapado de civilizações distantes – para Hawking, sair gritando pelo espaço pode ser arriscado. Se, por um lado, as probabilidades de haver outras formas de vida no cosmo são altas, por outro, as grandes distâncias e as inúmeras chances de nos depararmos
com códigos e linguagens ininteligíveis reduzem as possibilidades. Mas é hora de tentar mais.

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