Estádio Olímpico: 55 mil dos 80 mil lugares ficam em anéis externos desmontáveis.

É possível realizar Olimpíadas tendo por base a sustentabilidade? Depois do esbanjamento ostentatório de Pequim-2008, cujo suntuoso Estádio Olímpico, apelidado Ninho de Pássaro, praticamente não é usado hoje, os organizadores dos Jogos de Londres, de 27 de julho a 12 de agosto, resolveram assumir o desafio desde o início.

O planejamento da Olimpíada promete jogos com baixa emissão de carbono, desperdício zero, criação de áreas verdes e revitalização da área deprimida do leste de Londres, o vale do Rio Lea, escolhido para abrigar o Parque Olímpico. Várias ideias estão sendo testadas. Se darão resultado, só o tempo poderá dizer.

 

O Estádio Olímpico, que abrigará as cerimônias de abertura, encerramento e as provas de atletismo, é uma boa amostra desse planejamento. Iniciada em 2007 e praticamente concluída, a obra partiu da premissa de estar localizada no sul do Parque Olímpico, assentada sobre uma depressão natural do terreno, o que facilita a criação da arena de competições e de um anel com 25 mil lugares.

Essa é a parte permanente da obra, que estará disponível após os Jogos para competições esportivas e atividades culturais e comunitárias. A lotação projetada, de 80 mil lugares, é alcançada com a ajuda de acomodações nos anéis externos desmontáveis, feitos com aço e concreto mais leves. No total, o Estádio Olímpico londrino consumiu 10 mil toneladas de aço. O Ninho de Pássaro de Pequim, para comparar, usou 110 mil toneladas.

Aproveitando uma ideia usada na Copa do Mundo de Futebol da Alemanha, em 2006, as lanchonetes, lojas e serviços para os espectadores ficarão num anel circundante, fora da estrutura do estádio, o que resultará em economia, por exemplo, na instalação de cozinhas e na proteção contra incêndio.

No alto, à esquerda, o velódromo; à direita, vista aérea do sul do Parque Olímpico. Acima, o ginásio de basquete, com 10 mil assentos, que pode ser desmontado e remontado em outro lugar. À direita, vista parcial da Vila Olímpica. O projeto privilegia a flexibilização de uso dos equipamentos e a revitalização de uma área esquecida de Londres.

 

O conceito de arenas recicláveis inspira obras que poderão ser adaptadas após os Jogos. O centro aquático poderá abrigar 17.500 pessoas na Olimpíada, mas depois será redimensionado para 2.500 lugares e adaptado para competições comunitárias e internacionais. O ginásio que sediará os jogos de basquete, projetado para receber 10 mil espectadores, pode ser todo desmontado e remontado em outro lugar. Em Londres, há especulações de que o Rio de Janeiro, sede da Olimpíada de 2016, já estaria de olho nesse equipamento.

Pouco habitado e dotado de estrutura precária, o vale do Rio Lea está passando por uma reformulação, que deverá valorizá-lo. Os benefícios incluem cabos elétricos, pontes, passarelas e investimentos no transporte coletivo, sobretudo em trens. Depois dos Jogos, muitas das residências da Vila Olímpica serão convertidas em moradias populares. Uma usina de energia a gás e biomassa foi erguida na área, com 16 quilômetros de encanamento, para fornecer calefação aos arredores, emitindo 50% do carbono liberado nos moldes tradicionais.

Todo o pacote tem recebido elogios – a parte social parece irretocável –, mas também críticas. O gasto estimado, de R$ 26 bilhões, parece excessivo para um país em crise. A adaptação das estruturas para o período pós-olímpico pode custar até 90% do preço da construção. Será que, nesse caso, reciclar é a melhor solução? Talvez os cariocas possam responder à questão, se trouxerem da Inglaterra o ginásio de basquete.

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