O rinocerontenegro pesa 3 toneladas. Provocado, vira uma máquina de destruição.

Mais de 120 passageiros já viajaram pela ponte aérea de rinocerontes do Fundo Mundial da Vida Selvagem (WWF), na África do Sul. Em novembro, 19 rinos do Parque Eastern Cape foram levados para terras privadas de proprietários comprometidos com sua conservação, no norte do país, a 1.500 quilômetros de distância, após voos de helicóptero de dez minutos seguidos por jornadas de caminhão.

Graças ao projeto, o habitat dos ameaçados rinocerontes- negros já foi expandido por 1.500 km2. A espécie – que vive sob risco de extinção devido à caça ilegal – precisa de pastagens mais extensas do que o rinoceronte branco, por ser menos sociável e mais individualista, perambulando por vastas áreas solitariamente. Dependendo do tipo de habitat, 50 rinocerontes-negros precisam de 200 a 1.000 km2 de terras.

Iniciada em 2004, a ponte aérea migratória consagrou a técnica de transporte alado pelos tornozelos, de áreas inacessíveis das savanas até estradas asfaltadas capazes de permitir uma viagem confortável para o destino final. Para tanto, os rinos são anestesiados com dardos, suspensos pelas patas e transportados pelo ar adormecidos até os veículos. Não aproveitam nada do voo.

Jacques Flamand (de pé, de cabelos brancos) acompanha a preparação da viagem.

Dardos anestésicos disparados por espingarda nocauteiam o animal.

 

“Antes, os animais eram suspensos no ar por redes ou transportados em caminhão por veredas de pântanos e savanas, com muito desconforto. O novo procedimento trata o rino anestesiado com mais delicadeza, porque encurta o tempo de duração da droga, não compromete a respiração do animal como na rede e evita deslocamentos por terrenos acidentados, facilitando o transporte”, explica o dr. Jacques Flamand, diretor do Projeto de Expansão de Área do Rinoceronte-Negro do WWF. “Outra vantagem é que podemos facilmente remover os rinos de situações perigosas, por exemplo, quando adormecem num pântano após serem anestesiados”, ressalta.

 

Todo cuidado é pouco.

O rino só ataca para se defender, mas é ferocíssimo.

 

Cabos elásticos amarrados nas patas garantem a suspensão.

Anestesiados, os rinos não percebem nada do voo. Ainda bem.

 

O programa visa aumentar a população de rinocerontes-negros expandindo as áreas de habitat graças à parceria de proprietários privados de terra comprometidos com a conservação dos animais. Assim, diminui-se a pressão demográfica nos parques e reservas. Em geral, um conjunto de proprietários vizinhos trabalha de forma coordenada, acolhendo populações de 20 animais.

 

Dez minutos de voo levam o animal até caminhões e estradas regulares, que o conduzirão até o novo habitat.

 

O censo de rinocerontes da África do Sul aponta a existência de 1.915 animais no país. Na África toda, existem aproximadamente 4.880. A segurança é uma preocupação constante, pois a caça ilegal e a extração do chifre – supostamente portador de propriedades medicinais – colocam a espécie na lista de animais ameaçados de extinção. Em novembro, a espécie do “rinocerontenegro ocidental”, outrora abundante em Camarões, foi decretada extinta pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN).

Jacques Flamand ministra um antídoto para acordar o rinoceronte em um novo lar, a 1.500 km de distância do local do seu nascimento.

 

No programa sul-africano, os proprietários que recebem os animais “imigrantes” são escolhidos pela qualidade da segurança de suas terras “Há sempre riscos na transmigração de rinos, mas não podemos manter todos os ovos numa cesta”, explica Flamand. “É essencial multiplicar os animais também fora de parques e de reservas, expandindo o seu habitat. O que estamos fazendo é manejar populações para promover o crescimento demográfico da espécie.”