Pesquisas confirmam: de todos os profissionais militares ou paramilitares, os bombeiros são aqueles em quem a opinião pública mais confia.

Você acha que agüentar o seu chefe oito horas por dia, telefonando a cada cinco minutos e exigindo mais produtividade é trabalhar sob pressão? Pois ainda não viu nada. Há profissões que parecem rodeadas de glamour e de toques de aventura, mas que na realidade fariam você entender de verdade o que é viver sob pressão. Na terra, na água, no ar, ou ainda no centro da terra, sempre tem um ousado que trabalha enfrentando o perigo, muitas vezes só para garantir o pão de cada dia.

Para entender o sentido real da palavra pressão, um ótimo exemplo de profissão perigosa é a de mergulhador. Embora esteja ligado à água, à natureza e à tranqüilidade do fundo do mar, esse profissional é que trabalha em condições difíceis, principalmente quando não atua no setor turístico.

Longe de viagens a destinos paradisíacos, alguns topam, por exemplo, encarar missões da indústria petrolífera, e descer a mais de 200 metros de profundidade, o que é extremo para o corpo humano. Nessas condições, os mergulhadores são submetidos a uma pressão equivalente a 45 toneladas. Ou seja, são 45 mil quilos pressionando seu corpo em todas as direções. Muito mais do que uma bronca do chefe.

Para ter uma idéia, se você mergulhar a mais de 50 metros de profundidade, a pressão mecânica da água pode ocasionar a ruptura dos pulmões e da membrana timpânica, além de causar hemorragia e até uma parada cardíaca. Ao subir rapidamente para a superfície, a pressão transformará os gases presentes na circulação sangüínea em bolhas, podendo provocar, além de dores extremas por todo o corpo, um bloqueio do fluxo de sangue para o cérebro, o que seria fatal.

Não é de estranhar que, acostumados a agüentar tanta pressão, os brasileiros estejam entre os melhores mergulhadores do mundo. No Brasil, foi registrada a maioria das imersões a mais de 200 metros de profundidade (o máximo permitido é de 320 metros), e nosso país é considerado um grande criadouro desses profissionais aquáticos.

Sobre rodas também temos exemplos dessa nossa vocação para enfrentar o perigo. Ser piloto de Fórmula 1 é uma das profissões mais charmosas do planeta, mas que também oferece um alto risco. Dirigir a quase 300 quilômetros por hora e fazer ultrapassagens em questão de segundos exige ainda uma grande dose de sangue frio e muita habilidade, dignas de Piquets, Sennas e Fittipaldis.

Profissões perigosas: motoboy, corredor de automóveis, aviadores, astronauta e lavador de vidraças de edifícios.

No entanto, se você acha que enfrentar o mar ou pilotar uma Ferrari já traz emoções fortes, quanta adrenalina corre solta pelos vasos sangüíneos quando se está no olho de um furacão? Os chamados hurricane hunters (caçadores de furacão, em inglês) são responsáveis por coletar informações sobre as velocidades dos ventos, chuvas e tempestades que ajudam a prever possíveis desastres.

Fazem parte de um esquadrão especial norte-americano que é capaz de voar bem alto e mergulhar de cabeça a uma altura de 3.100 metros, bem no centro de um furacão. Tudo isso só para a gente conhecer melhor um pouco desse clima louco que vivemos. No Brasil, especialistas e caçadores de furacões não são comuns, tampouco os furacões.

Se ENFRENTAR o mar ou pilotar uma Ferrari já traz emoções fortes, imagine quanta ADRENALINA é produzida quando se está no olho de um furacão

Mas o mercado de trabalho desses intrépidos caçadores parece estar mudando por aqui, como conseqüência das mudanças climáticas que o mundo tem sofrido. Fenômenos antes improváveis se mostram cada vez mais presentes. Exemplo disso é o ciclone extratropical “Catarina”, que atingiu a região sul brasileira em 2004. Quem sabe você encare essa promissora profissão daqui a algum tempo.

Há também duas outras profissões que você certamente colocaria em primeiro lugar na sua lista pessoal de desejos: a de piloto de avião e a de astronauta. A primeira, apesar de ser considerada extremamente segura, é tida também como uma das mais estressantes do mundo. As estatísticas apontam um óbito para cada um milhão de passageiros, o que é tido como baixíssimo, mas o perigo existente no toque de toneladas de um avião em uma pista de asfalto não pode ser deixado de lado. Principalmente em tempos de “apagão” aéreo, com pistas em mau estado e aviões com manutenção duvidosa. Isso é que é perigo!

A segunda profissão é, sem dúvida, um sonho que já passou pela cabeça de todo mundo. Ir ao espaço e contemplar a Terra lá de cima já faz parte do imaginário do homem há séculos, embora isso só tenha ocorrido de fato em 1961, com a viagem de Iuri Gagarin na cápsula espacial Vostok. A viagem, que durou apenas uma hora e 48 minutos, percorreu cerca de 40 mil quilômetros em volta da Terra e mudou o rumo da história.

Mas não se iluda. “Passear” pelo espaço não é tão fácil assim: com a drástica mudança de pressão atmosférica, o indivíduo pode sofrer os danos da descompressão, o mesmo problema que afeta os mergulhadores. Aliás, se os mergulhadores são os astronautas do mar, então os astronautas são os mergulhadores do espaço. E, embora uma seja exercida nas profundezas do oceano e a outra do lado oposto, no universo, ambas as profissões requerem cuidados especiais.

NO CASO DOS astronautas, um traje extremamente complexo (e caro, pois chega a custar cerca de US$ 20 milhões), pesando 130 quilos, é responsável por manter a pressão e a temperatura adequadas ao corpo dos terráqueos. Um simples rasgo pode levar o astronauta à morte em poucos segundos.

A veste também reflete a luz solar e possui ventiladores que sopram ar frio para evitar que o astronauta sue, ficando perigosamente desidratado. Além disso, os fluidos do corpo dele poderiam se transformar em gás e ele viraria um verdadeiro balão inflável.

Para um astronauta, necessidades simples do nosso dia-a-dia podem ser complexas. Comer, por exemplo, exige cuidado: os produtos podem voar e acabar comprometendo algum maquinário. Imagine a expedição acabar porque uma cenoura danificou o sistema propulsor.

Eles também estão expostos a danos psicológicos, como depressão, ansiedade e mudanças abruptas de comportamento. E físicos, como atrofia muscular, baixa resistência imunológica e arritmia cardíaca, entre outros efeitos colaterais da profissão. Riscos que a humanidade (especialmente eles) fez questão de correr, pois tais viagens proporcionam incomensurável evolução tecnológica, além de ampliar nossa visão do universo.

É também importante lembrar que esses homens de coragem não estão sozinhos. Para que o homem chegasse à Lua foram necessários muitos anos de pesquisa e milhares de pessoas envolvidas. No caso de uma competição de Fórmula 1, os engenheiros de segurança da competição conseguem praticamente isolar o piloto, que fica dentro de um casulo de fibra de carbono, ultra-resistente, chamado de cockpit, e feito sob medida para se ajustar ao corpo de cada um.

Como as outras partes do carro são feitas de materiais menos resistentes, o carro se desfaz e absorve o impacto, mantendo o piloto intacto em seu casulo. Quanto aos nossos destemidos mergulhadores, por trás de toda atividade de risco há muito planejamento, treino e monitoramento constante de uma equipe de superfície.

EXISTEM AINDA aquelas profissões que mexem com o perigo, mas não têm o mesmo glamour de astronautas e de caçadores de furacões. Bons exemplos são os limpadores de vidro e de fachada de edifícios, colocadores de outdoors, pintores de arranhacéus e mais uma série de homensaranha (sem superpoderes), que ficam pendurados nos prédios mais altos das metrópoles.

Biólogos, geógrafos, geólogos e outros estudiosos anônimos também costumam desenvolver atividades perigosas. É o caso dos pesquisadores de vulcões, que vão até bem perto da lava para colher amostras e “tomar o pulso” da montanha. Assim, conseguem prever uma erupção e salvar cidades inteiras. Chegam próximos a rochas com temperaturas de 600ºC, o que talvez explique que existam hoje no mundo apenas 300 desses cientistas, que se dedicam a estudar os 1.500 vulcões em atividade na crosta terrestre.

Acima, dois vulcanólogos caminham sobre a crosta apenas solidificada do vulcão Etna, na Sicília (Itália), logo após uma erupção. Sapatos e roupas especiais são exigidos para o trabalho de campo dessa profissão. Abaixo, mergulhador produz fotografias do solo marinho.

Há ainda aqueles que vão aos confins de florestas e desertos para pesquisar determinadas espécies de animal ou planta, ou que trabalham com seres que podem oferecer perigo – amestradores de leões, caçadores de tubarão e técnicos do Butantã são alguns desses exemplos.

Entre os anônimos que arriscam suas vidas pelos outros há de se valorizar também os bombeiros. Não têm o glamour de um piloto de avião, mas gozam de moral alto na sociedade. Afinal, o trabalho deles é muito mais que salvar gatinhos que subiram em árvores e não conseguem descer. Enfrentar incêndios, maremotos, enchentes fazem parte de suas tarefas, a maioria das vezes quando menos se espera.

Também seria injustiça não incluir os policiais, que convivem lado a lado com o perigo, sobretudo num país como o nosso, onde a violência é assunto de todos os dias. Na mesma linha de atuação, seguranças que correm perigo para que outros (ou as coisas dos outros) não corram. Aliás, uma das mais caras categorias de vigilância e que tem se tornado popular é a segurança pessoal. A estimativa é que haja no Brasil hoje uma proporção de um vigilante para cada 482 brasileiros. Executivos contratam guarda- costas para acompanhá-los em transações econômicas e reuniões; adolescentes, em baladas, e mulheres para desfilar pelas ruas com roupas e acessórios caros. Algo bem perigoso.

E TAMBÉM NÃO podemos esquecer dos carteiros. Não usam roupas especiais, mas um uniforme azul e amarelo, boné e tênis. E muito protetor solar. Formam um verdadeiro exército que entrega cartas nos lugares mais longínquos. Segundo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o Brasil tem hoje um total de 53.182 carteiros que fazem cerca de 32 milhões de entregas por dia. Cada um entrega, em média, 615 objetos – cartas e encomendas – em 11 milhões de pontos de entrega. Todos os dias. Cada profissional percorre aproximadamente sete quilômetros e, somando o trajeto de todos, daria o equivalente a cinco voltas ao redor da Terra.

Estão sujeitos a vários tipos de intempéries. A mais comum é a mordida de cachorro. Assim como os motoboys (outra profissão arriscada), os carteiros estão submetidos aos perigos do trânsito. Se um transeunte já corre risco de morte nas ruas, imagine o carteiro, que passa o dia inteiro andando.

OK. Mas você pode estar se perguntando: se todas essas profissões são assim tão perigosas, por que tem tanta gente disposta a enfrentá-las? Necessidade? Curiosidade? Prazer? Não importa. O que importa é que se não fosse por esses profissionais talvez o homem não tivesse chegado à Lua, nem ao fundo do mar.

Mergulho arriscado

Para realizar um mergulho profundo é preciso um “ritual” que chega a durar 28 dias. Esse tempo é necessário para que o mergulhador se adapte à pressão, dentro de uma câmara hiperbárica, um compartimento de aproximadamente 27 metros cúbicos que fica dentro do navio. Nas primeiras 24 horas, os mergulhadores são submetidos a um processo de pressurização, no qual respiram heliox (gás hélio com oxigênio). Após a primeira etapa, a pressão dos corpos dos mergulhadores fica compatível com a do ambiente. Os profissionais estão prontos para pegar no batente.

Durante a missão, para evitar problemas de hipotermia (a temperatura média do mar é de cinco graus centígrados) e falta de oxigênio, o mergulhador que está na água permanece ligado ao “sino” (compartimento que fica nas profundezas, dentro do qual permanece um outro mergulhador) por um “cordão umbilical”, através do qual recebe água quente e heliox. Depois de adaptados, o tempo máximo que esse profissional pode ficar fora do sino é de oito horas. É nesse tempo que ele vai, efetivamente, fazer o seu trabalho. Ou seja, fica 20 horas se adaptando para realizar uma tarefa que dura no máximo 8.

Depois de completada a missão, os mergulhadores retornam à câmara hiperbárica e se inicia a etapa de descompressão, que dura mais sete dias. O processo todo demora cerca de um mês, e não pode ser interrompido. Por isso, os mergulhadores permanecem praticamente isolados do mundo durante esse tempo, o que requer uma boa estabilidade psicológica. Evita-se inclusive que eles recebam notícias trágicas ou de muito impacto, como, por exemplo, a morte de um familiar.