Mas os riscos que ela envolve só agora começam a ser avaliados.

Abiologia sintética está na infância, mas tem grandes ambições: criar formas de vida novas a partir de técnicas de engenharia genética. Já se sugeriu a criação de bactérias sintéticas que brilham ao detectar explosivos no solo, alertando para minas enterradas. Outras ajudam a produzir biocombustíveis sintéticos, plásticos biodegradáveis e remédios contra o câncer.

Muitas dessas propostas por enquanto são apenas teoria, mas a área já tem muito a apresentar. Há parcerias de biólogos especializados com empresas alimentícias, farmacêuticas e de cosméticos para produzir compostos presentes em plantas por meio de micróbios geneticamente projetados. Já estão no mercado, ou em desenvolvimento, aromatizantes nos sabores baunilha, alcaçuz e açafrão, adoçantes como a estévia, óleos como jojoba, borracha de pneu e remédios. Os produtos já disponíveis responderam em 2013 por mais de US$ 1,6 bilhão em vendas no mundo. 

“A comunidade da biologia sintética prometeu ao público que a tecnologia iria produzir biocombustíveis baratos e abundantes para ajudar a controlar a mudança climática”, diz Eric Hoff man, professor da Universidade de Maryland e ativista do braço americano da ONG Amigos da Terra. “Entretanto, ela rapidamente se deu conta de que produzir biocombustíveis em escala industrial era bem mais difícil do que se previa. Agora, as empresas estão discretamente mudando para produtos de alto valor e baixo volume, como cosméticos e perfumes.

A desvios de rota como esses os especialistas acrescentam questões importantes, como a real eficiência desses seres sintéticos e os efeitos que sua presença ao homem e ao ambiente. “Os organismos que são o foco da maioria dos trabalhos de biologia sintética até agora são leveduras, a bactéria Escherichia coli, as algas e os vírus”, afirma Hoff – man. “Eles escaparão para a natureza, sobretudo se forem cultivados em escala industrial. Escapando, trocarão genes com organismos silvestres, o que levará à contaminação genética. Diferentemente de outros tipos de poluição, a poluição genética é permanente e impossível de limpar.” 

Os avanços na área complicam o monitoramento. No entanto, algumas iniciativas internacionais de prevenção nesse sentido estão surgindo. A Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (CDB) começou a avaliar os riscos da biologia sintética, e em sua reunião de outubro de 2013 estimulou seus membros a aplicar o princípio da precaução quando estiverem lidando com essa disciplina e a requisitar estudos  mais detalhados para avaliar o risco existente. A Convenção sobre Armas Biológicas (BWC, na sigla em inglês) também está examinando mais detidamente a biologia sintética e seu uso potencial como arma. 

“Laboratórios não são seguros”

O professor Eric Hoffman, da Universidade de Maryland, teme a mistura de organismos sintéticos com seres naturais. 

O que é biologia sintética?
Biologia sintética é um termo genérico que descreve um variado número de tecnologias, algumas das quais são simples extensões “convencionais” da engenharia genética, enquanto outras são caminhos diferentes. Por exemplo, no campo da xenobiologia esperase criar organismos com uma composição genética totalmente inédita para evitar que eles espalhem seus genes na natureza. Em vez de ter ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA), como todos os seres vivos, eles teriam ácidos xenonucleicos (XNA) – o prefixo xeno significa “estrangeiro” ou “alienígena”. Outra possibilidade é a criação de “protocélulas”, ou vida a partir do zero, usando-se substâncias químicas inanimadas. Essas e outras ideias da biologia sintética ainda são teorias e poucas delas funcionaram em laboratório. 

Vírus sintéticos podem poluir a natureza? 
Sabemos que os laboratórios de biotecnologia não são sempre seguros e que os funcionários podem adoecer por causa de vírus geneticamente modificados. A biologia sintética só amplia o problema, pela difi culdade de conter experiências para criar novos seres feitas por biólogos fora de grandes laboratórios. Além disso, a maior parte do trabalho está sendo feita secretamente em empresas farmacêuticas, que tratam o tema como “informação comercial confidencial”. Isso torna muito difícil aos funcionários e ao público em geral saber exatamente o que está sendo criado e qual o risco potencial.

É complicado regular o setor?
Há regras e regulamentos apenas para a engenharia genética. Mas eles rapidamente são ultrapassados e não conseguem lidar com as novidades surgidas na biologia sintética e em outras biotecnologias.