Berço do rio São Francisco, a , com suas exóticas cachoeiras, rios, trilhas e animais selvagens é o endereço certo para os praticantes do ecoturismo

A Gruta dos Palhares, vista de seu interior.

Uma das 220 cachoeiras existentes no entorno de Sacramento.

Com aproximadamente 22 mil habitantes, Sacramento, em Minas Gerais, esbanja charme e sedução. Não só por ficar pertinho da exótica beleza do Parque Nacional da , mas também pelo incontável número de atrativos que possui – reúne cultura, religião, gastronomia e paisagens imperdíveis.

Em sua avenida principal, a Benedito Valadares, pode-se percorrer o calendário do tempo e conhecer casarões coloniais onde moravam os imigrantes italianos que trouxeram a cafeicultura para a região e alguns dos abastados donos de suas lavouras. No início do século 19, o café foi um dos – senão o principal – responsáveis pelo desenvolvimento econômico desse pedacinho de terra das Gerais.

Antigos quilombos resistem ao tempo, denunciando a revolta dos escravos que fugiam mato adentro

Em Sacramento, em qualquer rua onde se esteja, o horizonte é deslumbrante: montanhas cobertas por árvores mesclam seus tons de verde ao intenso azul do céu, num privilegiado cenário que há anos não integra mais o cotidiano de nossas principais metrópoles. Pequenina e encantadora, a cidade é um exemplo de turismo responsável: seus habitantes têm consciência de que devem preservar seus tesouros naturais e os patrimônios históricos herdados da época do Brasil Colonial – muitas de suas antigas fazendas hoje começam a ser abertas à visitação. Elas preservam quase intactas as senzalas e os diferentes tipos de construções em pedra (bastante abundante por ali), como currais e muros, erguidos pelos escravos nos tempos em que tropeiros e bandeirantes exploravam a região em busca de ouro.

Nunca encontraram um “tiquim” sequer do metal dourado nessas paradas. Mas não é difícil imaginar o sofrimento que causaram aos negros que levavam os pesados blocos de pedra nos ombros para lhes propiciar um abrigo capaz de protegê-los, e aos seus animais, contra as baixas temperaturas que imperam nas noites das serras mineiras, do sol escaldante dos dias no árido cerrado e de perigosos animais selvagens que ainda hoje habitam aquelas paisagens.

Nos arredores das fazendas ou mesmo em pleno interior da , antigos quilombos construídos em pedra resistem ao tempo denunciando a revolta dos escravos que fugiam mato adentro, preferindo viver no desconforto do sertão e enfrentar todo e qualquer tipo de perigo em troca de um pouco de dignidade.

Berço do rio São Francisco, a , com suas exóticas cachoeiras, rios, trilhas e animais selvagens é o endereço certo para os praticantes do ecoturismo

1. A Igreja de Nossa Senhora do Desterro, em Desemboque;

2.

Um dos casarões coloniais dos barões do café de Sacramento;

Embora tenha como ponto alto o ecoturismo devido à sua proximidade do Parque Nacional da e da quantidade de cachoeiras, rios, represas e áreas verdes que a região possui, Sacramento também é conhecida pelo turismo religioso. Recebe diariamente dezenas de peregrinos, que ali chegam ávidos para visitar a terra onde nasceu o padre Vítor Coelho (em processo de beatificação no Vaticano) ou o Museu Corina Novelino, que abriga objetos pessoais e documentos escritos por Eurípedes Barsanulfo, o fundador da primeira escola espírita do Brasil, em 1907: o Colégio Allan Kardec, que ainda hoje funciona. O padre católico e o médium que recebia orientação espiritual de Bezerra de Menezes são dois dos filhos mais famosos da cidade.

Com 22 metros de altura, a Gruta dos Palhares é considerada a maior gruta de arenito das Américas

3. A nascente histórica do rio São Francisco;

4. As águas do rio prestes a despencar de uma altura de 186 metros, formando a Casca D’Anta, uma de suas mais charmosas cachoeiras.

Berço do rio São Francisco, a , com suas exóticas cachoeiras, rios, trilhas e animais selvagens é o endereço certo para os praticantes do ecoturismo

Na praça principal, a imponente Igreja Matriz também tem histórias para contar. É a pedra fundamental da cidade, porque no local onde foi construída ficava o primeiro cruzeiro do então minúsculo povoado. Ele ali foi erguido por determinação de seu fundador, o cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick. Em 20 de abril de 1820, o lugar onde eram realizadas missas foi elevado à condição de capela por determinação de uma carta régia emitida por Dom João VI. Em 1857, a capela cedeu lugar à edificação da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, a padroeira da cidade. A igreja passou por várias reformas. Na última, em 1920, foi reconstituída em estilo neoclássico, mas manteve a mesma fachada original. Ao seu lado fica o Altar da Pátria, onde encontram- se os restos mortais do fundador do município.

5. O Colégio Allan Kardec, fundado em 1907.

6. Uma casa do início do século 19, em Desemboque.

Se o assunto é história, religiosidade e cultura, em Sacramento não faltam opções. O Recanto da Prece é uma delas. A casa onde moravam os familiares de Eurípedes Barsanulfo hoje é um centro espírita. Desde 1904, a instituição promove diariamente o Culto das Nove, um momento de prece e vibrações em que atende as pessoas que ali comparecem às 9 horas.

Nas ruas da cidade ficam ainda o Museu Histórico Corália Venites Maluf, cujo acervo resgata a história do município e a de seus filhos mais ilustres; a antiga Estação dos Bondes, hoje Palácio das Artes, um prédio de 1913 construído por engenheiros alemães onde se comercializa o artesanato da região; e o Arquivo Público Municipal, que originalmente abrigava a cadeia. Atualmente, a construção de estilo neoclássico é sede do Museu da Imagem e Som, do Departamento de Cultura e do Centro de Memória da Cultura Negra Carolina Maria de Jesus.

A imagem de São Franscico que “protege “ a nascente do rio na .

Berço do rio São Francisco, a , com suas exóticas cachoeiras, rios, trilhas e animais selvagens é o endereço certo para os praticantes do ecoturismo

Mas é no entorno desse encantador recanto que se encontram muitos de seus tesouros. Caso da Gruta dos Palhares, o lar de centenas de maritacas, papagaios e andorinhas. Com 22 metros de altura, é considerada a maior gruta de arenito das Américas. Com uma profundidade explorada de cerca de 450 metros, ela se ramifica em vários compartimentos, cujo acesso é vedado ao público – o arenito é uma pedra que se “esfarela”, daí a proibição. Lá de cima da rocha, as águas da tênue cachoeira Véu da Noiva deslizam até o solo. Os mineiros dizem que elas são as lágrimas de uma moça que acreditou que o futuro marido – um caixeiro-viajante – era casado e se jogou dali no dia de seu casamento. Fim triste para um cenário de tão exuberante beleza.

8. Recém-restaurada, a Usina Cajuru foi inaugurada em 1913.

O São Francisco nasce discreto, quase tímido, e vai ganhando força para atravessar cinco Estados brasileiros

Lendas à parte, na Gruta dos Palhares funcionam ainda restaurante, lanchonete, duas piscinas e um lago com peixes ornamentais. O santuário paradisíaco é protegido por arcanjos e pelas hierarquias angelicais, que têm um altar à esquerda da gruta. Em forma de capela, uma de suas cavidades guarda as imagens da Virgem Maria e de Nossa Senhora da Rosa Mística, além de uma minicascata. Devotos e amantes da natureza jamais deixam de beber água ali. Afinal, a crendice popular afirma que esse gesto é um ingresso de volta garantida ao local.

9. O curral de pedra construído pelos escravos em pleno interior da .

Situada a 4 quilômetros da cidade, a Usina Cajuru é outra atração que merece ser conhecida. Inaugurada em 1913, forneceu energia elétrica para Sacramento e Conquista durante mais de meio século. Construída por engenheiros alemães da empresa Bomberg & Cia., também gerava energia para a sustentação do bonde elétrico que ligava a cidade à estação férrea do Cipó, a 15 quilômetros. Desativada em 1970, ficou abandonada por anos, sendo alvo de sucessivas depredações. Recém-recuperada pelo Patrimônio Histórico Municipal, fica ao lado do ribeirão Borá e de suas lindas cachoeiras.

Bem mais distante dali (são cerca de 70 quilômetros) encontra-se o Parque Nacional da , um paraíso ecológico que se espalha pelos municípios de Capitólio, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Vargem Grande e São Roque de Minas. Com mais de 71 mil hectares, é o berço do rio São Francisco. Situado no divisor de águas entre as bacias hidrográficas dos rios Paraná e São Francisco, o parque foi criado em 1972 para proteger as inúmeras nascentes existentes em seu interior e a fauna e a flora do cerrado. A serra recebeu esse nome devido ao fato de seu imenso chapadão se assemelhar a uma canastra, como eram chamados os baús pelos antigos habitantes.

Berço do rio São Francisco, a , com suas exóticas cachoeiras, rios, trilhas e animais selvagens é o endereço certo para os praticantes do ecoturismo

10. O carcará;

11. As maritacas que vivem na Gruta dos Palhares;

12. Um dos tamanduás que podem ser vistos na ;

Com altitudes que variam entre 900 e 1.460 metros, o parque tem vegetação típica de cerrado, com pontos de mata atlântica. Nessa vastidão de terra convivem várias espécies de flora – são mais de 1.200 plantas, algumas endêmicas e que só brotam nesses solos. Aos seus pés, o vilarejo de São João Batista do Glória dá acesso à cachoeira Casca D’Anta – a primeira e mais alta queda de água do rio São Francisco, com 186 metros de altura. Após a queda, as águas passeiam por entre rochas, formando um rio de águas limpas por onde deslizam patos-mergulhões. Com um pouco de sorte, é possível ver esta que é uma das dez aves em vias de desaparecer do globo terrestre.

Na parte superior da Casca D’Anta fica a nascente histórica do Velho Chico – até há pouco tempo acreditava-se que o rio nascesse ali. Recentemente, porém, foi descoberta outra nascente em Medeiros (MG). Como se situa em uma altitude superior à primeira, esta última é considerada o berço do São Francisco. Apesar disso, não há quem não se emocione ao conhecer a sua cabeceira na . “Protegido” por uma estátua de São Francisco, o rio de mesmo nome nasce discreto, quase tímido, e vai ganhando força para atravessar cinco Estados brasileiros (Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas), mas sua bacia alcança também Goiás e o Distrito Federal. Percorrendo mais de 2.800 km até a sua foz, o rio banha 504 cidades brasileiras, o correspondente a 9% do total de municípios do País.

13. Queijo e doces típicos da gastronomia mineira; e uma das várias espécies de flores do parque.

Zagaia e Babilônia são algumas das majestosas serras que desenham o relevo do parque. Com árvores de pequeno e médio portes (costumam medir até 15 metros de altura, uma característica do cerrado), a extensa área verde é hábitat natural de espécies, como o veado-campeiro, a ema, a onçaparda, o tucano, o gavião, o urubu-rei e a coruja. De todas que ali vivem, três chamam a atenção: o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e o tatu-canastra (que pode chegar a 60 quilos de peso), todos ameaçados de extinção. Os dois primeiros podem ser encontrados na parte alta do parque; já o último dificilmente é avistado.

Possuidora de uma beleza ostensiva, a , com suas indescritíveis cachoeiras, rios, animais e trilhas ecológicas, é um refúgio imperdível para quem gosta de natureza. Não por acaso, o Velho Chico nasce ali. Como todo mineiro, de sonso o rio não tem nada.

Berço do Triângulo Mineiro

Fundado em meados do século 18, Desemboque foi o berço da civilização do Triângulo Mineiro. Era dali que vários bandeirantes partiam rumo ao sertão em 1807, descobrindo rios, ribeirões, matas e chapadas. À medida que se distanciavam do município, mais fértil era o solo que desvendavam e os campos que percorriam. Sempre regressavam ao povoado, pois ficavam sem comida e temiam os ataques dos índios caiapós que habitavam a região.

Situado entre os rios Grande e Parnaíba, nos limites das capitanias de Minas Gerais e Goiás, Desemboque foi uma das mais importantes vilas daquela imensa extensão de terras brasileiras. Centro de imediações das bandeiras, oferecia ouro aos desbravadores da região. Com o tempo, o metal se esgotou e Desemboque foi sendo abandonado até tornar-se uma vilinha. Embora hoje possua apenas cerca de 60 habitantes, o povoado conserva marcas da fé e da saga dos bandeirantes: a Igreja de Nossa Senhora do Desterro e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de grande valor histórico-cultural.

SERVIÇO

A Maritaca Turismo oferece diversos roteiros pela região e pela . Tel.: (34) 3351-5059; site: www.maritacaturismo.com.br