As sacolas plásticas estão com seus dias contados nos supermercados de São Paulo. Um acordo firmado em maio entre o governador Geraldo Alckmin, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) prevê a substituição das atuais embalagens por sacolas biodegradáveis até o fim do ano. O objetivo da iniciativa é contribuir com a preservação ambiental, trocando os atuais sacos produzidos a partir do polietileno obtido do petróleo ou do etanol, cujo tempo de decomposição na natureza é de 100 anos, por uma “sacolinha verde” também fabricada com polietileno, mas com amido de milho e um elemento pró-degradante, capaz de se decompor depois de dois anos.

Formalizado durante a Feira Apas 2011, realizada de 9 a 12 de maio no Expo Center Norte, na capital paulista, o acordo determina o prazo de seis meses para que os estabelecimentos deixem de distribuir as sacolas. Inicialmente, os supermercados paulistas farão campanhas educativas incentivando o consumidor a substituir as atuais embalagens pelas versões biodegradáveis. “Até novembro, porém, os sacos plásticos serão totalmente abolidos”, diz Orlando Morando, vicepresidente da Apas.

Em termos práticos e ambientais, isso significa a retirada de 2,4 milhões de sacolas por mês dos supermercados de São Paulo. “O consumo per capita por ano do paulista é de três quilos de plástico filme, matéria-prima para a produção dessas sacolas. Com a substituição delas, 9 mil toneladas de plástico filme deixarão de ser produzidas por mês no Estado de São Paulo”, informa Morando. No Brasil, são fabricadas 210 mil toneladas anuais do material, resultando em 18 bilhões de sacolas. Calcula-se que muitas dessas embalagens plásticas sirvam de lixeiras ou virem lixo, o que representa um volume de 9,7% de todo o lixo do país.

Pioneirismo

Belo Horizonte (MG) foi a primeira grande cidade brasileira a abolir as sacolas plásticas, em abril, retirando de circulação cerca de 350 mil delas por dia. Mas, ao contrário da capital mineira, onde uma lei municipal proíbe e multa em até R$ 2 mil o lojista que fornecer sacos plásticos ao consumidor, em São Paulo a iniciativa será implantada apenas nos supermercados. Outros segmentos do comércio poderão continuar a disponibilizar as embalagens plásticas. “Nenhum supermercado paulista será punido por descumprir o acordo, mas a ideia é servir de base para a elaboração de um projeto de lei para banir o uso dessas sacolas”, antecipa Morando.

Belo Horizonte foi a primeira cidade brasileira a abolir os sacos pláticos por lei: 350 mil unidades por dia foram retiradas de circulação Sacos plásticos fabricados com polietileno obtido do petróleo e do etanol demoram 100 anos para se decompor na natureza.

Sacos plásticos fabricados com polietileno obtido do petróleo e do etanol demoram 100 anos para se decompor na natureza.

Antes do acordo, algumas cidades de São Paulo já haviam aderido à iniciativa mineira. Caso de Jundiaí, onde a campanha “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco”, idealizada pela Associação Mineira dos Supermercados, com a consultoria da Apas e o apoio da prefeitura, do Sindicato do Comércio Varejista e da Câmara de Dirigentes Lojistas, tirou de circulação 480 toneladas de plástico filme e 132 milhões de embalagens distribuídas em supermercados nos últimos seis meses.

Desde o início da campanha, em maio de 2010, Jundiaí reduziu em 95% a distribuição das sacolas plásticas nos supermercados. Anteriormente, a cidade produzia 22 milhões de sacolas/ mês, o equivalente a 80 toneladas de plástico filme. O resultado foi possível com a introdução de sacolas biodegradáveis, que em seis meses tiveram 12 milhões de unidades vendidas ao preço de R$ 0,19, e bolsas em tecido TNT, um tecido produzido com fibras desorientadas e aglomeradas, capaz de acondicionar até 15 quilos, ao preço de R$ 1,85.

A Apas pretende expandir a experiência de Jundiaí para todo o Estado de São Paulo. Em todos os supermercados paulistas, o consumidor também poderá comprar a versão biodegradável a R$ 0,19 a unidade. Outras opções são as caixas de papelão e de plástico, os carrinhos de feira e as sacolas de algodão e de ráfia. “Algumas redes já estão oferecendo caixas de papelão para o consumidor embalar as compras, mas elas só são funcionais para quem está com carro, não para quem vai fazer compras a pé ou de bicicleta”, diz a professora Bernadete Almeida, coordenadora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Social, braço que promove ações filantrópicas da ESPM-RJ.

Controvérsia

Nem todos consideram o acordo uma vitória ambiental. Representando 90% da cadeia produtiva dos plásticos até seu descarte no pósconsumo, a Plastivida Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos acha que o consumidor paulista será o maior prejudicado com a iniciativa, pois é ele quem paga a conta das novas versões biodegradáveis – antes do acordo, os estabelecimentos incorporavam o custo das sacolas ao preço dos produtos. Hoje, o consumidor paga R$ 0,19 por uma embalagem biodegradável.

“A sacola plástica segue à risca os três ‘erres’ da sustentabilidade: é reutilizada como saco de lixo, é reciclada e tem tido seu consumo reduzido nos últimos anos”, diz Miguel Bahiense, presidente da Plastivida. “A população utiliza a sacola plástica para acondicionar o lixo doméstico. Na falta dessa embalagem, o consumidor deverá comprar sacos de lixo? Embalar o lixo em plástico é uma recomendação dos órgãos de saúde do país, para que se evitem contaminações”, argumenta.

Futuro

Por todos esses motivos, a Plastivida pretende apresentar ao secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas, o Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, desenvolvido em conjunto com o Instituto Nacional do Plástico (INP) e a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief). Implantado em oito capitais (São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Florianópolis), o programa pode proporcionar uma redução do consumo de pelo menos 30% do volume total de sacolas até 2012.

Texto: fabiola@planetanaweb.com.br