Há algumas semanas, na festa de aniversário da filha adolescente de um casal amigo, testemunhei ao vivo e em cores uma modalidade de comemoração que ainda não conhecia. Os convidados, uma dúzia de rapazes e mocinhas da mesma faixa etária da aniversariante, reuniram-se bem acomodados nos sofás da sala. O silêncio deles foi que chamou minha atenção. Ninguém abria o bico. Mas todos, sem exceção, empunhavam seus celulares inteligentes de última geração, e seus dedos indicadores batiam céleres naquelas letrinhas minúsculas. “O que estão fazendo”, perguntei? “Estão conversando, estão no chat”, respondeu o dono da casa. Com quem? “Entre eles mesmos, os membros do grupo. Agora falar e ficar olhando na cara do interlocutor virou brega e saiu de moda.”

Bem, moda é moda, e sobretudo os mais jovens desde sempre tendem a se deixar escravizar pela ditadura dos modismos. Precisamos nos conformar. Mas… Será assim tão mais interessante e mais prazeroso contemplar uma tela de celular do que a emoção de olhar diretamente nos olhos dos interlocutores e tentar adivinhar o que eles realmente nos contam por trás das palavras que suas bocas pronunciam? Fui buscar respostas e encontrei algumas.

Para começar, bem ao contrário do que seu nome indica, as redes sociais são, para muitos,… dessocializantes! De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da faculdade de medicina da Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos, quanto mais os jovens adultos consagram tempo às redes sociais, mais eles desenvolvem um sentimento de solidão. Pior ainda: a frequência das conexões é proporcionalmente ligada a esse sentimento negativo.

Tais resultados, publicados em março na revista American Journal of Preventive Medicine, sugerem que as redes sociais não constituem em absoluto uma panaceia para reduzir o sentimento de solidão. “É importante estudar esse fenômeno, pois os problemas de saúde mental e de isolamento chegam agora a um nível epidêmico entre os jovens adultos”, afirma o professor Brian Primack, mestre em medicina e principal autor do estudo. “Somos seres sociais, mas a vida moderna tende a nos compartimentar em vez de nos reunir. Apesar de as redes sociais parecerem, à primeira vista, oferecer oportunidades para preencher o vazio social, acredito que nosso estudo demonstra claramente que elas não constituem a solução que as pessoas esperam”, conclui Primack.

Ruptura com o mundo

Os cientistas ainda não sabem se o sentimento de solidão é preexistente ao uso intensivo das redes sociais ou se é o uso repetitivo dessas plataformas virtuais que pode ter levado a uma espécie de ruptura com o mundo real, contribuindo dessa forma para aumentar a sensação de isolamento. No entanto, mesmo quando tal sentimento apareceu antes, ele não foi atenuado pelo fato de a pessoa passar muito tempo navegando nessas redes.
Como explicar por que as redes sociais alimentam o sentimento de solidão? Segundo os pesquisadores, o tempo que consagramos às redes é, na verdade, um tempo roubado às experiências sociais mais autênticas.

As redes sociais são, por excelência, o templo da aparência e da idealização. Cada um quer mostrar o melhor da sua existência, o que pode suscitar sentimentos de inveja e a convicção falsa e deformada de que os outros têm uma vida mais feliz e mais bem-sucedida. “Não duvido, é claro, que algumas pessoas possam efetivamente encontrar algum conforto e preencher suas necessidades de sociabilidade ao se relacionarem por meio desses canais”, afirma Primack. “No entanto, os resultados desses estudos nos lembram claramente que, no conjunto, essa prática tende a ser associada a um incremento do sentimento de solidão, e não o contrário.” Tudo isso me leva à certeza de que muito melhor do que passar horas e horas surfando nas ondas das redes sociais é reunir-se no bar com os amigos e bater um bom papo ao redor de um café ou de uma cerveja.