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Do ambiente controlado e burocrático da fotografia de estúdio, Tiago Lima Marcelino foi transportado diretamente para a imprevisibilidade das áreas externas de um dos biomas mais ricos do planeta, o Pantanal. A maior planície alagável do planeta, Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera pela Unesco, cobre uma área de 250 mil quilômetros quadrados que pega o sul do Mato Grosso e o noroeste do Mato Grosso do Sul, no Brasil, além do norte do Paraguai e do leste da Bolívia, onde é conhecido como Chaco.

Nesse ambiente, o fotógrafo precisa saber se adaptar às forças da natureza – seja a quantidade de luz, o clima do momento ou a resposta da flora e da fauna a tudo isso e à sua presença. “Foi como voltar às origens da fotografia. E envolveu muita pesquisa para definir melhor local a percorrer e em que época do ano, porque os ciclos de seca e cheia alteram completamente a paisagem e a movimentação dos animais”, diz Marcelino. Em três expedições de 20 dias cada, entre junho e agosto (época de seca) de 2016, foram mais de 10 mil cliques disparados ao longo da rodovia MT-060, a Transpantaneira. Construída nos anos 1970, ela tem 140 km de terra batida e é a estrada com mais pontes do mundo – são 125, a maioria de madeira.

Depois de registrar tudo o que passava à sua frente, Marcelino contou com a consultoria de dois biólogos – um especializado em flora, José Ataliba Mantelli Aboin Gomes, e outra em fauna, Carolina Franco Esteves – para selecionar as 252 imagens que entraram no livro Olhos do Pantanal, terceira obra da série encomendada pela FMC Agricultural Solutions sobre os biomas brasileiros. “Meu desafio era fazer com que tanto o leigo como o conhecedor da região se sentissem lá no Pantanal”, afirma o fotógrafo.

A mina do ecoturismo

Além das belezas naturais da região, ganhou espaço no livro o pantaneiro, por quem o fotógrafo e seu assistente foram muito bem recebidos. “O pantaneiro ama e protege aquele lugar. A região já viveu da pesca e do couro do jacaré, e hoje está marcada pela criação de gado e pelo ecotu­rismo, a nova mina de dinheiro”, observa Marcelino. Segundo a ocupação dos hotéis, o Pantanal tem recebido uma maioria de turistas estrangeiros, especialmente americanos e europeus.

Em conversas com esses visitantes, o fotógrafo descobriu que a região está sendo considerada atualmente o melhor destino do mundo para expedições de observação da natureza, mais que os famosos safáris na África. A principal vantagem seria que o Pantanal concentra naturalmente as riquezas do seu ecossistema – como onça-pintada, arara-azul, tuiuiú, carcará, jacaré, capivara –, enquanto os países daquele continente precisam aglomerar animais em algumas áreas para os turistas poderem encontrá-los.

Essa primeira experiência de fotos de natureza no Pantanal serviu de lição para Marcelino preparar um outro livro da série, sobre a Mata Atlântica – já prestes a ser publicado. “Na outra empreitada, tive um biólogo ao meu lado o tempo todo. Isso foi fundamental, porque a área de abrangência é muito mais extensa, com relevos, climas e biodiversidade diferentes. E lá eu tive mais dificuldade de encontrar os animais por dois motivos: extinção e maior movimentação noturna.”

As duas primeiras obras da série enfocaram a Caatinga e o Cerrado, mas foram feitas por outro fotógrafo, José Henrique, que precisou se afastar do projeto. Os livros não são vendidos comercialmente; são distribuídos entre bibliotecas, pontos de cultura e locais de interesse na divulgação dos mesmos. Para visualizar e/ou baixar a obra Olhos do Pantanal, acesse https://www.fmcagricola.com.br/portal/manuais/olhos_do_pantanal/index.html