Quando o astrônomo americano Clyde Tombaugh descobriu Plutão numa série de fotografias, em 1930, o planeta era apenas um pontinho na imensidão do cosmos, o mais longínquo astro do nosso sistema. Oitenta e cinco anos depois, o homem vai poder examinar em detalhes esse corpo distante em média 5,9 bilhões de quilômetros do Sol e conquistar, com isso, uma infinidade de conhecimentos que nos ajudarão a entender como o Sistema Solar se formou e se desenvolveu.

O responsável pelo feito é a sonda New Horizons, lançada há nove anos pela Nasa, a agência espacial americana. Durante sua viagem de cerca de 4,8 bilhões de quilômetros até o destino (que lhe rendeu a maior velocidade média já atingida por uma sonda interplanetária: 57 mil km/h), Plutão, com cerca de 2.300 km de diâmetro – a nossa Lua tem mais de 3.470 km – foi rebaixado a “planeta anão” pela União Astronômica Internacional, em 2006. Ele já havia deixado, inclusive, de ser o último planeta conhecido do Sistema Solar, já que outros de porte semelhante, como Éris e Makemake, foram encontrados em órbitas ainda mais distantes. Tudo isso não reduziu o interesse pela expedição da New Horizons, que em 14 de julho chega, enfim, ao seu alvo.


À esquerda, Plutão visto pelo telescópio Hubble. À direita, a primeira foto colorida do planeta e de seu satélite Caronte tirada pela New Horizons, a uma distância de 115 milhões de quilômetros

A missão, orçada em US$ 728 milhões, é a primeira a estudar um dos planetinhas situados nas fronteiras do Sistema Solar e não terá similar tão cedo. Ela é, de certo modo, sucessora das sondas Voyager, lançadas em 1977 e que nos renderam as primeiras imagens próximas de Urano e Netuno. Depois de visitar Plutão, a New Horizons ainda examinará de perto outro planetoide do Cinturão de Kuiper, o grande anel de corpos gelados além da órbita de Netuno, antes de seguir para o espaço interestelar, como as Voyager.

“As pessoas perguntam: ‘Quais são as questões que vocês vão responder?’”, diz Alan Stern, planetologista do Southwest Research Institute que é o responsável científico pela missão. “A New Horizons não tem nenhuma delas, é puramente uma primeira exploração… Não estamos ‘reescrevendo o manual’, estamos escrevendo o manual a partir do zero.”

 

Coleta expressa

A New Horizons leva a bordo sete aparelhos científicos de tecnologia avançada, entre eles espectômetros e câmeras de alta resolução, todos movidos por um gerador de energia alimentado por plutônio. Em 14 de julho, ela deverá chegar a apenas 13.695 km da superfície de Plutão, uma distância que permitirá às suas câmeras mapear o solo do planeta em vários comprimentos de onda e talvez flagrar as nuvens e os vulcões de gelo que os cientistas esperam encontrar por lá. Os instrumentos da sonda também avaliarão a rala atmosfera de nitrogênio e metano do planeta, contar partículas de poeira e medir o vento solar naquela distância. O encontro será breve, já que a pequena força de gravidade de Plutão não conseguirá frear a New Horizons. Assim, o que ocorrerá nesse período será uma das mais rápidas sessões de coleta de dados da história das modernas viagens espaciais.

Isso não significa, porém, escassez de material. “Tiraremos centenas de milhares de fotografias e imagens espectrais de Plutão e de suas luas conforme a New Horizons passar por lá”, afirma Stern. “Na verdade, reuniremos tantas informações sobre Plutão e suas luas que a New Horizons só concluirá a transmissão de todos esses dados à Terra no fim de 2016.” Não faltarão surpresas para os cientistas nesse material. Como prévia das bizarrices plutonianas, um estudo publicado em junho na revista Nature, baseado em dez anos de observações feitas pelo telescópio Hubble, concluiu que Caronte, o maior dos cinco satélites de Plutão, com 50% do seu tamanho, não orbita ao redor dele – o planeta e sua principal lua giram em torno de um centro de massa comum a cada 6,4 dias, compondo um sistema binário.

Os outros satélites, todos minúsculos – Nyx, Hidra (descobertos em 2005), Cérbero (2011) e Estige (2012) – orbitam ao redor desse par interior entre 20 e 40 dias. Diferentemente de outras luas, eles não mantêm um lado sempre voltado para o planeta. Em vez disso, giram e oscilam ao redor de seus próprios eixos. “Eles aceleram e desaceleram, apontam seu polo norte para o planeta e depois mudam, e talvez até troquem pelo sentido inverso”, afirma Douglas Hamilton, professor de astronomia da Universidade de Maryland e coautor do estudo. “É um sistema muito estranho.” Apesar disso, suas órbitas parecem estáveis, afirmam os cientistas. Outras curiosidades: Cérbero parece ser tão preto quanto carvão, enquanto seus colegas seriam praticamente brancos. Como se vê, o sistema plutoniano já significa uma imensidão de novidades para o mundo científico.


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