Todos em minha família nascemos praticamente em um barco. Há fotos nossas, ainda bebês, no barco de meu avô. Passamos a vida inteira na Baía de Guanabara, onde também começou minha militância ambientalista, aos 19 anos. A situação da baía não é boa, mas já esteve pior entre as décadas de 1980 e 1990. As águas da Guanabara têm dois problemas distintos. Um deles, que é o lixo flutuante, tem possibilidade de avanço em curto prazo. O outro, a poluição em si, não tem solução tão cedo, e vamos ter de trabalhar bastante. Quanto ao lixo flutuante, poderemos adotar soluções paliativas, como a instalação das ecobarreiras.

No início do ano, o atual secretário de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, André Corrêa, pediu ajuda a mim e aos meus irmãos e nós fizemos um projeto de como melhorar essa condição do lixo. Esse projeto deu base para uma licitação que foi feita e está sendo implantado agora. Vai dar certo; não evita o problema do lixo, mas impede que ele chegue à baía. Para resolver o problema do lixo, precisamos cumprir a Política Nacional dos Resíduos Sólidos e implantar a logística reversa, que a Europa faz – por exemplo, a indústria que vende uma garrafa PET tem de receber essa garrafa de volta. Isso seria um passo à frente.

O problema por enquanto insolúvel é o do despejo de esgoto na baía. Na sua candidatura para a Olimpíada, o Rio de Janeiro se comprometeu a despoluir 80% da Baía de Guanabara, mas não se diz 80% do que – se é volume de esgoto, carga orgânica na água ou outra coisa. É uma promessa inviável. Há um problema imenso de esgoto não tratado das cidades da Baixada Fluminense. Vários municípios dessa região não têm nenhum tratamento de esgoto e isso acaba poluindo os rios. Alguns dos maiores municípios, em termos de população, como Caxias e Nova Iguaçu, têm 0% de seus esgotos tratados. De acordo com o governador do estado, para fazer o saneamento da Baixada Fluminense até São Gonçalo são necessários R$ 15 bilhões. Tenho certeza de que não se faz isso por menos de R$ 20 bilhões. Há um longo caminho pela frente.

Existia uma grande expectativa de que pudéssemos aproveitar as Olimpíadas para ter um legado ambiental para a Baía de Guanabara, mas estamos vendo que isso não vai acontecer. Outras sedes olímpicas, como Sydney, não atingiram as metas de despoluição propostas no tempo previsto, mas criaram um plano alternativo e cumpriram-no. Meu medo é que tenhamos uma ressaca pós-Olimpíada e que isso leve a pensar que se não despoluímos a Baía de Guanabara até agora, não vamos mais conseguir. E a forma de prevenir isso é estabelecer pactos agora.

Axel Grael, da tradicional 5PL515_PLANETARIO2
família de velejadores,
é ambientalista e vice-
prefeito de Niterói pelo
Partido Verde