Quem pensa que a vida só existiria em outros sistemas solares pode começar a revisar suas ideias com a descoberta da sonda Cassini anunciada em abril pela Nasa (a agência espacial americana) e por um artigo na revista científica Science: moléculas de hidrogênio na lua Encélado, de Saturno. Em 2015, a Cassini já havia revelado a existência de grandes gêiseres no polo sul do satélite, a lançarem jatos de vapor d’água que formam uma pluma naquela região. A única hipótese para a presença do hidrogênio ali envolve reações hidrotermais do oceano sob a crosta do satélite – detectado em 2015 – com uma camada de rochas quentes mais próxima do seu núcleo.

Essas reações estão associadas, na Terra, à existência de fumarolas, ecossistemas que vivem ao redor de fontes hidrotermais no leito marinho. Estão presentes em Encélado, portanto, componentes básicos para a vida: água (do oceano subterrâneo), uma fonte de energia para o metabolismo orgânico (o mecanismo hidrotermal que produz hidrogênio) e determinadas substâncias, entre elas hidrogênio, carbono, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. A sonda Cassini constatou que a pluma de Encélado contém de 0,4% a 1,4% de hidrogênio e de 0,3% a 0,8% de dióxido de carbono. A combinação desses componentes pode produzir metano, outra pista de vida. Os estudos prosseguirão, com entusiasmo multiplicado.