Arraia faxineira

O estudante holandês Boyan Slat, de 19 anos, projetou um aparelho revolucionário para limpar os mares: uma “arraia mecânica” capaz de remover até 7,25 milhões de toneladas de plástico das águas. Alimentado por energia solar, o artefato possui dois longos braços que sugam e guardam os resíduos plásticos no compartimento de carga, para serem posteriormente reciclados. Embora os estudos de viabilidade ainda estejam em andamento, o projeto ganhou o prêmio de Melhor Desenho Técnico de 2012, da Universidade de Tecnologia de Delft (Holanda). Mas também já virou alvo de críticas. O americano Stiv Wilson, diretor de política de conservação do oceano da ONG 5Gyres, considera todo o projeto perda de tempo. Entre os motivos apresentados estão a necessidade de ancorar o aparelho no fundo do mar (que, em média, estará a 4 mil metros da superfície, o dobro da atual capacidade dos equipamentos de ancoragem), a força desestabilizadora do oceano e a baixa possibilidade de reaproveitamento econômico do material coletado. Atualmente, a arraia de Boyan Slat está sendo aprimorada por 50 engenheiros.

 

Porco-espinho brasileiro

Intensamente devastada durante a colonização, a faixa nordestina da Mata Atlântica ainda guarda surpresas. Em abril, pesquisadores das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e do Espírito Santo (Ufes) divulgaram na revista científica Zootaxa a descoberta de uma nova espécie de porco-espinho, o Coendou speratus. Cinco exemplares do simpático bichinho foram avistados numa propriedade no sul de Pernambuco. O líder da pesquisa, Antônio Rossano Mendes Pontes, da UFPE, comemora a descoberta, mas alerta que na Mata Atlântica do Nordeste espécies estão desaparecendo antes mesmo de terem sido descritas pela ciência. Apenas 2.000 km2 dos 56.400 km2 de floresta original da Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco ainda estão de pé.

 

Herói indígena

Almir Narayamoga, chefe da tribo paiter-suruí, de Rondônia, recebeu no dia 10 de abril o prêmio “Herói da Floresta”, concedido pela ONU, no Fórum sobre Florestas das Nações Unidas, em Istambul. Destaque para a América Latina, o líder foi escolhido pelo trabalho em defesa da comunidade e da Floresta Amazônica. Narayamoga conseguiu a construção de escolas e postos de saúde para os suruís, negociou com o Banco Mundial um programa de desenvolvimento e fechou uma parceria com o Google Earth para os índios usarem a tecnologia digital e monitorarem a floresta onde vivem.

 

Chuva em Saturno

A erosão de partículas dos anéis de gelo de Saturno está formando chuvas que caem em partes do planeta, asseguram cientistas em artigo publicado em abril na revista Nature. Pesquisadores do Observatório Keck, no Havaí, concluíram que as partículas se depositam no topo da atmosfera saturnina e de lá caem rumo a áreas que aparecem mais escuras em imagens de infravermelho. “Estimamos que 2.500 m3 estejam caindo em Saturno por dia”, diz James O’Donoghue, astrônomo da Universidade de Leicester (Reino Unido). Segundo ele, há uma ligação propiciada por linhas de campos magnéticos, entre as partes dos anéis que posseum gelo e as regiões mais escuras do planeta.

Parente antigo

O Australopithecus sediba, espécie de hominídeo que viveu há 2 milhões de anos, ganhou um check-up completo. O estudo, apresentado em abril na Science, foi liderado pelo paleoantropólogo Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand (África do Sul), o primeiro a identificar fósseis do A. sediba. Os pesquisadores concluíram que a anatomia do hominídeo é uma fusão de traços dos grandes macacos e do gênero Homo. O “pé chato”, por exemplo, induzia a andar com passos miúdos e rápidos, torcendo os joelhos e o quadril para dentro. Os braços longos permitiam pendurar-se nos galhos das árvores, como chimpanzé, embora as mãos pareçam humanas. Já o tórax, com ombros encolhidos, não permitiria andar movimentando os braços ao lado do corpo, como os humanos. Os cientistas concluíram que o A. sediba era um parente próximo do Australopithecus africanus.

Saúde!

Pelo menos no caso da cerveja, não é o álcool que atrai os apreciadores: é o gosto. Neurologistas da Universidade de Indiana solicitaram a 49 homens que bebessem sua cerveja favorita ou um isotônico, enquanto submetiam seus cérebros a uma tomografia por emissão de pósitrons. As doses eram reduzidas, de modo a não permitir a influência do álcool no experimento. As imagens mostraram que o gosto da cerveja acionava os receptores de dopamina, o “hormônio do prazer”, numa intensidade muito maior que a obtida pelo isotônico, apesar de muitos voluntários afirmarem preferir a segunda bebida. O estudo foi publicado em abril na revista Neuropsychopharmacology. Muita gente já tinha certeza disso.

 

Monumento submerso

Há uma enorme edificação de pedra no fundo do Mar da Galileia, em Israel. Detectada pela primeira vez em 2003, ela tem sido visitada por mergulhadores arqueólogos. O mais recente estudo, publicado em abril no International Journal of Nautical Archaeology, documenta suas proporções: 10 metros de altura por 70 metros de diâmetro, em forma de cone. Composta por grandes rochas e pedras arredondadas de basalto, arrumadas sem um padrão definido, a estrutura parece ser um marco funerário e pesa 60 mil toneladas. Arqueólogos supõem que tenha 4 mil anos de idade e pertença à cidade de Bet Yerah (ou Khirbet Kerak), uma das maiores da região naquela época.

 

Pior degelo em mil anos

O derretimento do gelo na Península Antártica durante o verão chegou ao nível mais alto dos últimos mil anos, informam pesquisadores da Universidade Nacional da Austrália e do British Antarctic Survey em estudo publicado em abril na revista Nature Geoscience. Os cientistas perfuraram 346 metros de gelo na Ilha James Ross, no norte da península, e mediram temperaturas históricas comparadas com o degelo no verão. Constataram que, enquanto as temperaturas subiram 1,6°C em 600 anos, o derretimento do gelo intensificou-se nos últimos 50 anos. “Isso significa que mesmo pequenos aumentos de temperatura na Península Antártica podem agora levar a grandes elevações no degelo do verão”, afirma Nerilie Abram, líder da pesquisa.

 

Dieta à cubana

Os cubanos mostram, na marra, as vantagens de perder peso. Um estudo feito por cientistas espanhóis, americanos e cubanos, publicado no British Medical Journal, avaliou a saúde da população do país após o colapso da União Soviética, no início dos anos 1990, que impactou negativamente a economia da ilha. Com a escassez de combustível e alimentos, milhões de pessoas restringiram a dieta e trocaram o transporte em carros ou ônibus por bicicletas (o governo distribuiu 1 milhão delas) ou caminhadas. Entre 1990 e 1995, cada cubano perdeu em média 5 kg, o que contribuiu para, a partir de 1996, reduzir em 50% o índice de mortalidade por diabete e em 33% o relativo a doenças cardíacas. Com a melhora da economia, no fim dos anos 1990, o nível de atividade física caiu e, em meados da década seguinte, os índices de mortalidade por diabete e doenças cardíacas já haviam voltado aos níveis pré-crise.

 

Pecuária amazônica sustentável

Conhecido pelas pesquisas no manejo sustentável da Floresta Amazônica, após ter sido um dos centros do desmatamento mundial dos anos 1980, o município de Paragominas (PA) está inovando na criação de gado. Baseado na intensificação das pastagens e no manejo racional dos animais das fazendas, o projeto Pecuária Verde, desenvolvido pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas em seis propriedades, completou um ano com bons resultados. A produção no período foi de 38,11 arrobas/hectare, o que significa 1.143 kg de peso vivo por hectare (PV/ha) – o total pesado em balança. Esses números são mais de cinco vezes superiores aos observados pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP) na pecuária convencional, de 7 arrobas/hectare e 210 kg de PV/ha, respectivamente. A lotação de pasto – determinada pela quantidade de bovinos por área – atingiu 3,17 unidades animal/hectare, mais que o quádruplo da realidade brasileira.

 

Ranking do progresso social

A noção de que o Produto Interno Bruto (PIB) pode servir para medir a prosperidade das nações, mas é um indicador limitado do bem-estar humano, tem levado os economistas a quebrar a cabeça em busca de índices que reflitam melhor essa realidade complexa. Uma dessas tentativas é o Índice de Progresso Social, lançado este ano na Inglaterra pelo grupo Social Progress Imperative, baseado em informações coletadas pela Organização Mundial da Saúde, pelo Banco Mundial e por outras instituições. Ele não inclui indicadores econômicos; em seu lugar são computados dados relativos a necessidades humanas básicas (nutrição, acesso a água, esgoto e domicílio próprio), infraestrutura social (saúde, sustentabilidade do ecossistema e acesso à informação e ao conhecimento) e oportunidades (direitos individuais, educação, escolhas pessoais, igualdade e inclusão). Elaborado pelo professor Michael Porter, da Faculdade de Administração de Empresas da Universidade Harvard, e por economistas do Massachusetts Institute of Technology (EUA), o índice conta com o apoio de empresas e entidades, como a Skoll Foundation. A primeira versão, divulgada em abril, cobre 50 países que representam 75% da população mundial. A liderança no progresso social é da Suécia, seguida por Reino Unido e Suíça. O Brasil aparece em 18° lugar, atrás de Chile (14º) e Argentina (15º). O consolo é ser, aqui, o líder dos BRICS: a China ocupa o 32º lugar na lista, uma posição à frente da Rússia (33o.), a África do Sul é a 39ª e a Índia, a 43ª. Confira na tabela ao lado os 18 primeiros colocados.

 

 

Pobreza diminui no mundo

A pobreza mundial está diminuindo, afirma um estudo da Universidade de Oxford (Reino Unido) divulgado em março. O levantamento indica que os países mais miseráveis do mundo poderão, se mantiverem o ritmo atual, eliminar a pobreza extrema em 20 anos. Ruanda, Nepal e Bangladesh poderão conseguir o feito mais rapidamente, seguidos por Gana, Tanzânia, Camboja e Bolívia. O estudo de Oxford foi lançado alguns dias após a divulgação de um relatório de desenvolvimento da ONU que assinala uma redução da pobreza “acima de todas as expectativas” nos mais carentes. A entidade atribui a evolução a projetos de desenvolvimento nacionais e internacionais voltados para a construção e reforma de escolas, hospitais, residências, infraestrutura e acesso à água. O resultado reflete a mudança dos critérios de avaliação da ONU para o setor.

 

Evolução em câmera lenta

O celacanto, o lendário peixe pré-histórico que se julgava extinto há 70 milhões de anos, até ser encontrado na costa da África do Sul em 1938, tem um genoma praticamente inalterado, afirmam cientistas americanos. Seu código genético de 3 bilhões de “letras” foi examinado na Universidade Harvard e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, e o resultado, publicado na revista Nature, mostra que seus genes têm uma taxa mais baixa de mutação do que os de outros animais com espinha dorsal. Ele não precisa evoluir rapidamente porque seu habitat preservado – as cavernas nas profundezas do mar – não lhe exige mudar para sobreviver. “Ainda existem uns poucos lugares na Terra onde os organismos não têm de mudar, e esse é um deles”, diz Kerstin Lindblad-Toh, do MIT.

 

Voos turbulentos

O impacto do aquecimento global sobre as correntes de jato (correntes de ar velozes situadas entre 10 km e 15 km de altitude) aumentará o número de solavancos nas viagens de avião nos próximos 40 anos, dizem cientistas na revista Nature Climate Change. Paul Williams, da Universidade de Reading, afirma que os episódios de turbulência entre a Europa e a América do Norte dobrarão até 2050, e a intensidade crescerá entre 10% e 40%. A mudança pode causar ferimentos em passageiros e tripulantes e atrasos em voos.

 

Genética do câncer

Um superestudo conduzido por 160 instituições, com a participação de 200 mil pessoas, flagrou uma série de variações genéticas ligadas a três das mais comuns formas de câncer – de mama, de próstata e de ovário, responsáveis por 2,5 milhões de casos por ano. Segundo a pesquisa, divulgada nas revistas Nature Genetics e Nature Communications, foram encontradas 49 variações genéticas associadas ao câncer de mama, 23 ligadas ao câncer de próstata e 3 ao câncer de ovário (elas somam agora, respectivamente, 76, 78 e 11). Pessoas que possuem várias dessas alterações apresentam uma tendência maior que a média a desenvolver um dos três tipos de câncer, afirmam os pesquisadores. Eles acrescentam que as descobertas ajudarão num diagnóstico mais precoce da doença e no desenvolvimento de remédios específicos para cada paciente.

 

Terremoto feito pelo homem

O abalo de 5,6 graus sentido no Estado de Oklahoma (EUA), em 6 de novembro de 2011, foi obra humana. Registrado numa região não habituada a esses fenômenos, decorreu da injeção de água residual (um subproduto da extração de petróleo) no subsolo, segundo pesquisa da Universidade de Oklahoma publicada em março na revista Geology. Acompanhado por tremores menores, o sismo foi o maior do gênero já verificado no mundo, sendo sentido em Milwaukee, a 1.200 quilômetros de distância. Embora a perfuração no local seja do tipo tradicional, a ocorrência despertou temores em relação ao polêmico método de fratura hidráulica, que também injeta água no subsolo e tem sido cada vez mais usado para extrair petróleo e gás.

 

Reflexologia analgésica

Pesquisadores ingleses afirmam que a aplicação da reflexologia (terapia de massagem nos pés) reduz a sensação de dor em cerca de 40% e aumenta a capacidade de suportá-la em 45%. Para a médica Carol Samuel, da Universidade de Portsmouth, coautora do estudo publicado no Journal of Complementary Therapies in Clinical Practice, a reflexologia provavelmente funciona como a acupuntura, levando o cérebro a liberar substâncias químicas que atenuam os sinais de dor. Os pesquisadores reconhecem que são necessários mais estudos, mas veem com otimismo o uso da técnica para complementar o tratamento de remédios contra as dores da osteoartrite e câncer.