“Há alguns dias, ouvíamos os tiros ao longe. Por isso, nos preparamos para qualquer eventualidade. Meu pai montou uma caixa para guardar mantimentos. Todas as garrafas foram enchidas com água fervida e guardadas no porão”. Assim descreveu Renate Scholz, então com 9 anos, os últimos dias da Segunda Guerra Mundial. Todas as noites, ela passou no abrigo antiaéreo, levando a pasta da escola, a boneca preferida, sapatos de couro e borracha, dois sobretudos e roupa íntima.

Sua irmã, Helga, de 13 anos, descreveu assim a semana de combates por Berlim: “Era domingo, estávamos almoçando, quando ouvimos um barulho ensurdecedor. O ruído tornou-se cada vez mais forte. Sentia-se a terra ser atraída por uma força monstruosa. Em seguida, o estrondo violento de uma explosão estilhaçou os vidros das janelas e não se podia ver mais nada, de tanto pó. Minha irmã procurou proteção junto à mãe. De medo, eu me escondi debaixo da mesa. Quando a poeira baixou, vimos que uma bomba atingira a casa vizinha. Enquanto meus pais pregavam as janelas, nós tratamos de ir para o porão.”

Caos na capital alemã

Esta foi a rotina dos últimos dias da guerra na capital do Deutsche Reich, Berlim. As pessoas passavam a maior parte do tempo nos abrigos antiaéreos. Todas as noites, repetiam-se os bombardeios, que incendiavam casas e edifícios, destruindo tudo. As estradas estavam repletas de escombros, que eram então usados para construir barreiras antitanques. As crianças estavam dispensadas das aulas. Em Berlim, reinava o caos.

Renate e Helga lembram-se que a única alegria era ver que a casa em que moravam ainda continuava de pé, embora as janelas estivessem pregadas. As rádios controladas pelo regime continuavam martelando a propaganda nazista, mesmo quando muitos alemães não acreditavam mais em Hitler. Noticiavam que o próprio “Führer” encabeçava a defesa da capital e que “este fato em si já dava um caráter único à luta por Berlim”.

O cerco final

As duas irmãs contam a alegria com que receberam do pai a notícia de que a guerra havia acabado e que Hitler estava morto. Embora não tivessem ideia do que significava o fim da guerra, desejavam simplesmente que “tudo melhorasse”, dizem as duas. Renate Scholz conta que, aos poucos, voltou a ter esperança. Até o medo dos soviéticos, que era onipresente, sumiu. Alguns dias mais tarde, soldados da União Soviética vieram morar na rua de Helga e Renate.

O cerco final aos nazistas havia começado a 6 de junho de 1944 – no chamado “Dia D” –, quando 55 mil soldados americanos, britânicos e canadenses desembarcaram nas praias da Normandia, nordeste da França, na maior operação aeronaval da história. Hitler deu prosseguimento aos combates, mesmo quando os Aliados cruzaram a fronteira alemã anterior à guerra, no dia 12 de setembro. O ditador manteve-se irredutível até perder Berlim, onde se suicidou no dia 30 de abril de 1945. No dia 7 de maio seguinte, a Alemanha se rendeu incondicionalmente.