Cerca de 38 milhões de pessoas vivem com o vírus causador da aids. Desde os primeiros casos em 1981, um número semelhante de infectados morreu em decorrência da doença.Foi em junho de 1981 que médicos americanos começaram a publicar estudos sobre uma doença desconhecida que parecia afetar homens jovens homossexuais saudáveis, sem qualquer doença pré-existente. Logo a aids e seu vírus causador, o HIV, se tornariam a pandemia mais letal do final do século 20.

No início, a maioria dos casos da doença foi tratada como uma forma rara de pneumonia. Pacientes com a nova enfermidade tinham febre, mas também apresentavam inchaço nos gânglios, um sistema imunológico enfraquecido e sarcoma de Kaposi – um tipo de câncer causador de lesões na pele e que, até aquela altura, se manifestava praticamente apenas em idosos.

A maior parte dos pacientes morreu, em pouco tempo, em decorrência da doença desconhecida – tanto homens quanto mulheres, contrariando designações iniciais de jornais da época, como a de “câncer gay”.

Em 1982, a enfermidade ganhou um nome: aids, a sigla em inglês para síndrome da imunodeficiência adquirida.

Cientistas isolam o vírus

Em 1983, Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi isolaram o vírus HIV. Os dois virologistas franceses que trabalhavam no Instituto Pasteur, em Paris, foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina em 2008, fato que levou a uma amarga disputa com um pesquisador americano chamado Robert Gallo, que reclamou para si a descoberta do vírus. Em 1991, porém, ele recuou da reivindicação.

A disputa, no entanto, não dizia respeito apenas à descoberta ou ao Prêmio Nobel. Também se concentrava na patente de um teste de anticorpos que detectava infecções pelo HIV. O teste se tornou convencional para identificar o vírus a partir de 1984 e mostrou que o HIV estava afetando cada vez mais pessoas.

Vírus não discriminam

Não demorou para que o patógeno começasse a se espalhar internacionalmente. Os primeiros casos registrados na Alemanha foram diagnosticados em 1982, mesmo ano em que foi confirmado o diagnóstico do primeiro caso brasileiro de aids (mas suspeita-se de que ele tenha ocorrido em 1980).

Em seguida, começaram a circular informações de que o vírus estava afetando músicos, fotógrafos e atores famosos, incluindo o astro de Hollywood Rock Hudson, que morreu em 1985 de complicações de saúde relacionadas à aids. Primeira celebridade a admitir publicamente que tinha o vírus, Hudson ficou conhecido por mudar a percepção pública sobre a enfermidade.

No final dos anos 1980, outras celebridades passaram a falar publicamente sobre suas experiências vivendo com o HIV. Mas a maior parte dos soropositivos sem fama era estigmatizada socialmente e sofria preconceito.

Como a aids se tornou uma pandemia?

As taxas de infecção pelo HIV continuaram crescendo. A maior parte das infecções foi atribuída a relações sexuais, e algumas tinham transfusões de sangue como causa.

E ainda que a doença tenha começado afetando principalmente parceiros homossexuais, não demorou para se tornar comum que casais heterossexuais também contraíssem o vírus.

Esse fato voltou a mudar a percepção da opinião pública sobre HIV/aids e as interações sexuais no final do século 20 – como se o “amor livre” propagado nos anos 1960 e 1970 tivesse acabado para sempre. As pessoas ficaram com medo de se infectar, preservativos se tornaram parte integrante da vida sexual, e ainda hoje as camisinhas são vistas como proteção segura contra o vírus.

HIV e aids não são a mesma coisa

Quando o vírus HIV entra na corrente sanguínea, ataca o sistema imunológico humano de forma tão severa que o corpo é incapaz de combater qualquer outra infecção viral ou bacteriana.

Sem tratamento para o HIV, o paciente pode desenvolver a aids, o que pode acarretar doenças graves como pneumonia, infecções por fungos no esôfago e câncer, como o sarcoma de Kaposi.

Porém, se o HIV for tratado cedo o suficiente, é possível evitar o risco de desenvolver aids e os sintomas podem até ser revertidos.

Aids, um problema global

Até o estabelecimento do Dia Mundial de Combate à Aids pelas Nações Unidas, em 1988, a pandemia já tinha se espalhado para mais de cem países.

Desde então, a data tem sido lembrada anualmente no dia 1º de dezembro e possui um lema diferente a cada ano. Em 2021, o lema é “Fim das desigualdades. Fim da aids. Fim das pandemias”.

O continente africano é o mais afetado pela aids. Muitas vezes, profissionais da área de saúde na África não têm acesso à medicação para tratar os doentes.

Dois terços das infecções pelo HIV no mundo correspondem ao continente africano, totalizando 25,5 milhões de pessoas. Cerca de 2 milhões dos infectados têm menos de 15 anos de idade.

Na África Subsaariana, a aids é a causa de morte mais comum. Os países mais afetados por HIV/aids incluem Suazilândia, Botsuana, Lesoto, Maláui, Namíbia, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

As maiores taxas de infecções ocorrem na África do Sul, onde vivem mais de 7 milhões de pessoas com aids. Cerca de 320 mil delas são crianças – um cenário que, para ser controlado, precisa de ações globais, segundo especialistas. No continente, essas ações incluiriam mais informações aos não infectados e terapias melhores para pacientes soropositivos.

A revolução dos antirretrovirais

Em 1996, houve uma reviravolta na história da pesquisa sobre aids. Num congresso internacional sobre a doença, estudiosos apresentaram uma terapia antirretroviral combinada que poderia desacelerar a atuação do vírus ou até bloqueá-la. Trata-se de uma série de medicamentos que são combinados para combater o vírus e impedi-lo de se replicar no corpo, obstruindo assim o desenvolvimento da aids pelo paciente.

A terapia antirretroviral combinada é atualmente um tratamento padrão para o HIV. Os pacientes precisam tomar os medicamentos pelo resto da vida porque os remédios não removem, necessariamente, o vírus do corpo. Ou seja, em vez de curar a pessoa, os antirretrovirais controlam o vírus.

Porém, a terapia combinada pode reduzir a chamada carga viral a um nível tão baixo que, em alguns casos, essa carga fica indetectável.

Isso quer dizer também que pessoas com HIV recebendo tratamento não infectarão mais outras pessoas. E que um diagnóstico de HIV/aids não é mais a “sentença de morte” antes tão temida.

Profilaxia traz esperança

Em 2016, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, da sigla em inglês) aprovou um medicamento chamado Truvada para ser usado como profilaxia pré-exposição (PrEP, também do inglês) e proteger seus usuários contra o HIV.

Porém, o medicamento é oferecido prioritariamente para pessoas consideradas com mais risco, como homens que têm relações sexuais com outros homens.

A PrEP é composta por dois medicamentos tomados antes da relação sexual. Ingerida diariamente, pode reduzir o risco de infecção em mais de 95%, mas não blinda contra outras doenças sexualmente transmissíveis. Por isso, a camisinha continua sendo definida como a melhor proteção durante o sexo.

Objetivos não alcançados

O Unaids, programa das Nações Unidas sobre HIV/aids, traçou metas chamadas 90-90-90 para serem cumpridas até 2020. A designação significa que 90% de todos que vivem com o HIV terão informações sobre seu status de infecção; que 90% dos diagnosticados receberão terapia antirretroviral sustentada; e que 90% de todos que recebem a terapia antirretroviral terão supressão viral, ou seja, a carga viral eliminada.

Mundialmente, as duas primeiras metas chegaram a 84%, enquanto a terceira ficou em 66%, o que quer dizer que os objetivos não foram alcançados e que o prazo para atingir as metas foi prorrogado até 2030.

Desinformação ainda rodeia a doença

Estudos sugerem que muitas pessoas ainda não conhecem a diferença entre o HIV e a aids, incluindo muitos jovens no mundo inteiro. Nesse sentido, há a necessidade de conscientização e conhecimento sobre o vírus e seus efeitos junto à opinião pública.

Até hoje, por exemplo, há quem acredite que o HIV é transmitido pelo ar ou por atividades cotidianas. Por isso, muitos ainda mantêm distância física de pessoas com HIV, não querendo beber do mesmo copo que alguém vivendo com o vírus, por exemplo.

São mitos como esses que continuam estigmatizando e marginalizando pessoas com HIV, além de desencorajar as pessoas a falarem abertamente sobre a doença.

Espera pela vacina

Há dificuldades em desenvolver uma vacina contra o HIV, que tem uma estrutura tridimensional que dificulta seu combate pelo sistema imunológico do ser humano ou por uma potencial vacina.

O sistema imunológico precisa ser capaz de reconhecer seus oponentes, mas o HIV tem mutações frequentes, o que dificulta ainda mais o desenvolvimento de um imunizante. Até lá, a melhor proteção continua sendo o sexo seguro e o tratamento com medicamentos antirretrovirais.