A arma antidragão de Cersei Lannister, desenvolvida por Qyburn na série Game of Thrones, não é apenas fruto da fantasia. Ela é uma ferramenta que fez parte da história humana. Chamada “balista”, esse tipo de catapulta usa um par de molas curvadas para armazenar e liberar energia. Funciona bem o suficiente para fazer um grande buraco em um dragão, mas é uma tecnologia de quase 2.500 anos de idade, que se assemelha às primeiras peças de artilharia criadas no mundo real.

Esse tipo de balista remonta a 399 a.C., quando o rei Dionísio de Siracusa sitiou uma cidade murada chamada Motya, localizada na ilha da Sicília. Segundo o historiador grego Diodorus, os motianos contra-atacaram, mas algo os manteve à distância. “Os motianos foram retidos por uma grande quantidade de mísseis voadores. Os siracuseanos mataram muitos dos inimigos usando da terra as catapultas que dispararam mísseis pontiagudos. De fato, esta arma causou grande desalento, porque era uma nova invenção no momento.”

As máquinas originais de Dionísio eram arcos e flechas muito grandes, feitos de madeira e partes de animais, como chifres e cartilagem, muito semelhantes à catapulta de Qyburn. Mas eram equipamentos pouco poderosos, muito trabalhosos de se armar, lentos e não funcionavam bem contra alvos em movimento.

Somente em 332 a.C., engenheiros de catapulta de Alexandre, o Grande, aperfeiçoaram as balistas. Percebendo que esses arcos grandes tinham atingido seu limite tanto na distância quanto no poder, eles substituíram o arco curvo, por molas feitas de bobinas de corda bem amarradas. Quanto mais apertadas estivessem as bobinas, maior poderia ser o projétil.

Modelo de balista do período medieval

Foi quando essa arma ganhou de fato o nome de “balista”. Eles usaram dois feixes verticais de corda feitos de cabelo ou tendões de animais que eram amarrados como as cordas em uma raquete de tênis. Braços de arremesso feitos de madeira foram inseridos entre os dois feixes de corda que compunham a mola de catapulta. Quando era usado no campo de batalha, os homens de artilharia que trabalhavam nas máquinas puxavam os braços para trás, inseriam uma pedra ou um dardo com ponta de metal e soltavam o gatilho. Com um grande estalo, a mola da corda desenrolava-se, liberando sua energia letal.

A arma acabou se tornando um dos pilares do Império Romano, mas após seu colapso, muitos reinos resultantes não dispunham de meios para sua manutenção. As balistas geralmente eram atiradas contra alvos imóveis, como muros de castelo ou portões.

Mais de um século depois, em 885, uma horda viking sob a liderança de Rollo subiu o rio Sena e tentou invadir Paris. Segundo a história, 200 soldados franceses conseguiram resistir ao cerco de 30.000 dinamarqueses por quase um ano, forçando os atacantes a desistir e contornar a cidade. O relato de testemunha ocular do monge francês, Abbo Cernuus descreve o uso de balistas pelo líder francês, o rei Odo, em seu poema Wars of the City of Paris. “Flechas voaram aqui, lá pelo ar; sangue jorrou e fluiu; pedras e dardos foram arremessados ​​por balistas e estilingues. Nada foi visto entre o céu e a terra, a não ser esses projéteis.” (em tradução livre)

Com o advento de outras armas de cerco medieval, como a balista de menor tamanho (chamada de Springald); a besta, mais precisa, e, mais notavelmente, o trabuco, as balistas acabaram caindo na obscuridade, mas nunca desapareceram completamente. Em nosso mundo real, você provavelmente só encontrará essas armas antigas em um museu. Mas Game of Thrones e outras obras de fantasia (sejam 100% precisas ou não) parecem dedicadas a preservar a memória do reinado de 1.700 anos desta arma mortal.