Nas proximidades das grandes metrópoles, encontramos às vezes pequenas cidades que são verdadeiros oásis de paz e de vida natural preservada. É o caso da pequenina Guararema, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Aninhada aos pés da Serra da Bocaina, ela é cheia de encantos e recantos exuberantes, a começar pelo rio que banha a cidade: o Paraíba do Sul. Formado pela junção dos rios Paraitinga e Paraibuna, o curso do rio que deságua em São João da Barra (RJ) caprichosamente desenha no solo uma curva semelhante a um cotovelo, abraçando toda Guararema. Na prática, isso significa que o Paraíba do Sul pode ser visto em quase todos os pontos da cidade. De escandalosa beleza, suas águas verdes (exceto em tempos de chuva, quando se tornam barrentas) e muito limpas são o lar de peixes como a piaba, a piabanha, o piau, o curimbatá e muitos outros.

Plantas, flores multicoloridas, árvores centenárias e muito verde acompanham o trajeto do rio, dividindo o cenário com animais silvestres, como as capivaras que ainda por ali habitam. Entre as várias ilhas que o Paraíba do Sul possui nesse trecho, destaque para o Parque da Ilha Grande. Inaugurado em 2004, é um dos pontos altos de Guararema. Com moderna infraestrutura, possui uma pista de 400 metros às margens do rio, onde é possível fazer deliciosas caminhadas ou mesmo um cooper. Por falar nisso, lá funciona o projeto Bom Dia Saúde, por meio do qual os frequentadores que desejam fazer atividades físicas são acompanhados por um especialista em educação física. O parque funciona diariamente, das 6 horas à meia-noite. Outras atrações da cidade são o Parque da Pedra Montada e o Recanto do Américo, mais conhecido como Pau D’Alho. O primeiro foi batizado com esse nome devido a uma escultura lapidada pela natureza ao longo dos séculos – na realidade, uma pitoresca sobreposição de pedras, cada uma medindo cerca de 9 metros de comprimento por 2,5 metros de altura. Fica na Estrada Municipal Hércules Campagnoli, km 8, distrito de Putim, e possui restaurante. Já o segundo é um dos principais cartões-postais da cidade. O privilegiado cenário de belezas naturais abriga a bicentenária árvore Pau D’Alho, com mais de 30 metros de altura e 12 metros de diâmetro, além de uma variada concentração de espécies de floresta nativa, remanescentes da Mata Atlântica. Suas pontes interligam a praça às ilhas, possibilitando que o visitante tenha acesso a diferentes pontos sobre as águas do Rio Paraíba do Sul. Fica no centro, na Rua Coronel Ramalho, s/nº.

A Cidade das Orquídeas

Conhecida nacionalmente como a Cidade das Orquídeas em função das lindas e raras espécimes ali cultivadas, Guararema surgiu a partir da doação de um pedaço de terra feita em 1875 por Laurinda de Souza Leite a uma ex-escrava, Maria Florência. Situado às margens do Rio Paraíba, o lote ficava em lugar plano, distante uns seis quilômetros do Arraial da Escada, pouco acima do ribeirão Guararema.

Movida pela fé, Maria Florência construiu no terreno uma capela para o santo de sua devoção, São Benedito (ao lado de Nossa Senhora da Escada, ele é o padroeiro da cidade). Com o tempo, outros moradores foram se fixando nos arredores da capela e se formou um vilarejo que recebeu o nome de Guararema. Em tupi-guarani, significa pau d’alho, árvore de madeira fedida.

Segundo a Fundação Seade e o Instituto do Legislativo Paulista da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Guararema é o segundo município mais rico da região do Alto do Tietê, perdendo apenas para Arujá. A pesquisa considera os 645 municípios do Estado de São Paulo e é elaborada com base nos indicadores sociais de cada um deles.

Poucos metros adiante, encontra-se a Igreja Matriz. Ela divide o espaço com uma feira de artesanato que acontece aos sábados, domingos e feriados. Também é dessa praça que um divertido trenzinho leva as crianças de todas as idades para percorrer as principais ruas do município paulista de menos de 30 mil habitantes. O passeio só é feito nos finais de semana e feriados e dura cerca de 30 minutos. O ingresso custa R$ 2 e dá aos “tripulantes” o direito de avistar o pontilhão da Central do Brasil, desativado na década de 1970. Em frente à estação de trem, fica a ponte de ferro. De origem inglesa, sua arquitetura merece ser conhecida.

Além da Matriz, duas outras igrejas devem ser visitadas: a de Nossa Senhora da Escada e a de Nossa Senhora D’Ajuda. A primeira é tida como a construção histórica mais antiga do Vale do Paraíba. Foi edificada pelos frades capuchinhos em 1652 em louvor a Nossa Senhora da Escada, pois dizia-se que havia uma escada entre a barragem do rio e o lugar onde se ergueu a capela. Na realidade, aproveitando-se da crença dos indígenas – que acreditavam que teriam fartura e reencontrariam seus ancestrais na vida pós-morte se fossem enterrados ao lado de um cesto e de uma escada –, os missionários adaptaram a imagem de Nossa Senhora da Conceição para Nossa Senhora da Escada, impondo assim a sua religião aos índios catequizados que ali viviam.

Em 1732, os jesuítas foram expulsos da então Capitania de São Vicente e a administração do Arraial da Escada foi entregue aos franciscanos, que construíram uma nova capela onde hoje se localiza a atual igreja. Com arquitetura tipicamente barroca e paredes construídas em taipa de pilão, foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1941. É a única Igreja do Brasil que possui a imagem de São Longuinho, conhecido popularmente como o santo das coisas perdidas. Fica no bairro da Freguesia da Escada, a 3,5 quilômetros do centro da cidade.

Já a Igreja Nossa Senhora D’Ajuda foi construída em 1682 em uma colina e para conhecer seu interior é preciso escalar 81 degraus. Foi núcleo religioso das fazendas próximas, servindo também de cemitério, onde se enterravam os brancos no interior do templo e os escravos atrás. A capela tem uma imagem de Nossa Senhora D’Ajuda, em terracota, provavelmente de origem portuguesa. É uma das construções coloniais mais antigas no Estado de São Paulo e foi tombada como monumento de interesse histórico, em 1984.

Guararema é uma cidade extremamente limpa – não se vê lixo nas ruas nem no rio. Seus parques são mantidos com capricho e repletos de flores. Por falar nelas, Guararema é também conhecida como a Cidade das Orquídeas devido ao seu orquidário. Fundado por Roberto Giorchino nos anos 1970, o Orquidário Pérola do Vale (mais conhecido por Orquidácea) é considerado pelos amantes das orquídeas um dos melhores do Brasil. Sua produção é estimada em 150 mil mudas por ano das mais comuns às mais raras espécies, passando por aquelas que demoram até sete anos para florir pela primeira vez. Percorrer seu interior é uma atração imperdível.

Mesmo pequenina, Guararema é sedutora e cheia de encantos. Em seus recantos, esconde muitos tesouros que vale a pena desvendar.

A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESCADA É TIDA COMO A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA MAIS ANTIGA DO VALE DO PARAÍBA. FOI EDIFICADA PELOS FRADES CAPUCHINHOS EM 1652

Se achar, dou três pulinhos

Quem não conhece essa pequena simpatia feita a São Longuinho, o

santo que ajuda a encontrar coisas perdidas? Sua história, porém, não

é muito conhecida, talvez por ele não ser muito bem visto pela Igreja

Católica. Dizem que São Longuinho foi o soldado romano que fincou

a espada no peito de Jesus, quando ele estava pregado na cruz. Essa

versão, porém, é refutada por alguns, que afirmam que o soldado teve

este gesto para aliviar a dor que Cristo sentia (a morte na crucificação

é bem lenta e muito dolorosa).

Poucos sabem também que o soldado romano perdeu as duas pernas

em uma batalha. Daí, o motivo de se dar os três pulinhos quando se

encontra algo que se havia perdido – os pulos seriam uma espécie de

homenagem ao santo. Dizem ainda que o santo, após ter ferido Jesus,

teria ficado muito arrependido. Cheio de remorsos, converteu-se ao

cristianismo. E, como a fé não costuma falhar, por sua devoção, São

Longuinho, embora fosse totalmente cego, passou a encontrar os objetos

perdidos, ganhando milhares de devotos por todo o Brasil.

Histórias à parte, a imagem de São Longuinho foi encontrada na Igreja

de Nossa Senhora da Escada entre os séculos 18 e 19 (ninguém sabe

a data ao certo). Sabe-se, contudo, que a imagem era do santo porque

o nome dele estava escrito num pedaço de juta. De qualquer modo, e

mesmo sem a Igreja aceitá-lo, São Longuinho sobreviveu aos séculos

e atualmente é um dos santos mais populares do Brasil. Aliás, onde foi

mesmo que coloquei as anotações que fiz para escrever este texto?

Socorro, São Longuinho, me ajude!

 

SERVIÇO

Onde ficar: Guararema Parque Hotel, Rua D’Ajuda, 438, tel. (11) 4693-8800, reservas: (11) 4693-8904, site: www.guararemahotel.com.br

Quem leva: a MB Turismo oferece todos os passeios mencionados no texto, além de desenvolver roteiros diferenciados pela região.

Informações: www.mbturismo.com.br, tels. (11) 4693-5458 e (11) 7362-7435.