A pesada nuvem de poluição que cobre o “Ninho de Pássaro” (o estádio olímpico, à direita na foto) e todos os outros pontos de Pequim preocupa os atletas que participarão dos Jogos.

A China está investindo pesadamente para fazer da Olimpíada de Pequim um marco da imagem de país avançado que ela quer passar ao mundo. Boa parte desse dinheiro foi aplicada em obras de impacto arquitetônico, como o espetacular Ninho de Pássaro, o estádio olímpico com capacidade para 91 mil pessoas. Outros investimentos, porém, têm uma destinação bem distante do arrojo futurista: seu objetivo é amenizar a sujeira atmosférica que torna Pequim uma das cidades mais poluídas da Terra. Uma nova etapa desse esforço vai começar em 20 de julho – quase três semanas antes da abertura dos Jogos, em 8 de agosto – e durará dois meses.

DU XIAOZHONG, diretor adjunto do escritório de proteção ambiental de Pequim, anunciou em abril uma série de medidas que integram o plano. “Estamos fazendo isso para cumprir nossa promessa de oferecer boa qualidade de ar para a Olimpíada”, garantiu. Ele ressaltou que desde 1998 seu país já investiu cerca de US$ 20 bilhões para melhorar as condições ambientais da capital chinesa, incluindo-se aí o fechamento de aproximadamente 200 indústrias. Os resultados disso foram melhoras nos quatro principais poluentes – monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e material particulado. Este último, porém, produzido pelas emissões de veículos, ainda representava um problema.

As medidas anunciadas por Du atingirão 19 fábricas altamente poluidoras instaladas na capital chinesa. No setor de construção civil, obras que envolvam escavações ou colocação de cimento serão obrigadas a interromper essas atividades durante a vigência do plano, mas os trabalhos que estiverem em outros estágios não terão de ser paralisados.

A circulação de veículos em Pequim ao longo dos Jogos também será fortemente afetada, garantem funcionários governamentais. Cerca de metade da frota de três milhões de veículos da cidade não poderá circular nesse período.

Os planejadores do governo esperam que essas iniciativas sejam suficientes para garantir uma qualidade aceitável de ar durante a Olimpíada. Se elas falharem, porém, Du anunciou que entrará em cena um plano B, com medidas mais rigorosas – incluindose aí o fechamento de mais fábricas.

PEQUIM SOFRE no verão com uma inversão atmosférica caracterizada pela ausência de vento para dispersar os poluentes acumulados. A conseqüência é um céu opressivamente cinzento. Em março, o Comitê Olímpico Internacional (COI) reconheceu que há “algum risco” para a saúde de esportistas que disputarão provas ao ar livre com no mínimo uma hora de esforço físico contínuo. Entre as competições citadas pelo COI estão o ciclismo de estrada, o mountain biking, a maratona, o triatlo e a marcha atlética.

Alguns dos cerca de dez mil atletas aguardados para os Jogos têm manifestado sua preocupação com os efeitos dessas condições adversas sobre sua saúde. Asmática, a ex-tenista belga Justine Henin já havia ameaçado não competir em Pequim antes de anunciar sua aposentadoria, em maio. Também por causa da asma, o etíope Haile Gebrselassie, recordista da maratona, decidiu trocar a prova pela de 10 mil metros.