Astrônomos divulgam primeira representação visual do buraco negro Sagitário A*, localizado a 27 mil anos-luz da Terra. Trabalho envolveu mais de 300 cientistas e uma rede mundial de radiotelescópios.Um time internacional de astrônomos divulgou nesta quinta-feira (12/05) a primeira imagem do buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, conhecido como Sagitário A* (Sgr A*). A imagem foi obtida a partir de uma rede de oito radiotelescópios espalhados pelo mundo, incluindo o Alma, no Chile.

Os astrônomos já suspeitavam da presença do Sgr A* pela existência de estrelas em órbita de algo invisível, compacto e muito massivo no centro da Via Láctea.

“Durante décadas, sabíamos de um objeto compacto que está no coração de nossa galáxia e é quatro milhões de vezes mais massivo que o nosso Sol”, disse a astrônoma Sara Issaoun, da Universidade de Harvard, em uma coletiva de imprensa em Garching, na Alemanha. “Hoje, neste exato momento, temos evidências concretas de que este objeto é um buraco negro”, acrescentou.

A imagem é a primeira representação visual direta da presença desse objeto, que é invisível a olho nu. Embora esteja dentro da Via Láctea, galáxia na qual fica o nosso sistema solar, o buraco negro está localizado a cerca de 27 mil anos-luz da Terra – em comparação, o Sol está a pouco mais de 8 minutos-luz da Terra.

Segunda imagem de um buraco negro

O trabalho envolveu mais de 300 cientistas no consórcio Event Horizon Telescope (EHT), que em abril de 2019já havia revelado a primeira imagem de um buraco negro, o M87*, situado no centro da galáxia Messier 87.

“O EHT pode ver três milhões de vezes mais nítido que o olho humano”, explicou o cientista alemão Thomas Krichbaum, do Instituto Max Planck de Radioastronomia.

A foto divulgada nesta quinta, assim como a de 2019, não é do buraco negro em si, uma vez que é ele invisível, com forças gravitacionais tão extremas que não deixam nada escapar, nem mesmo a luz.

O que se vê é a sua sombra rodeada por uma estrutura anelar brilhante formada por gás, explica um comunicado do Observatório Europeu do Sul, que opera o radiotelescópio Alma. “Esta nova imagem captura a luz que se curva sob a enorme força da gravidade do buraco negro”, diz o texto.

A imagem foi obtida depois de os dados recolhidos das observações feitas em 2017 terem sido processados e analisados durante cinco anos com o auxílio de supercomputadores.

Buracos negros semelhantes

Apesar de os buracos negros Sgr A* e M87* serem muito parecidos, o do centro da Via Láctea é cerca de mil vezes menor e menos massivo do que o da galáxia Messier 87. Em ambos os casos, o gás circundante move-se à mesma velocidade, quase à velocidade da luz. No entanto, o gás leva entre dias e semanas para orbitar o M87* e apenas minutos para completar uma volta em torno do Sgr A*, tornando o brilho e o padrão do gás muito variáveis.

Para capturar a imagem, o EHT observou Sgr A* por várias noites por muitas horas seguidas, o mesmo processo usado para produzir a primeira imagem de um buraco negro em 2019.

Apesar de estar mais perto da Terra, ainda era difícil capturar a imagem. O brilho e o padrão do gás ao redor de Sgr A* mudavam rapidamente à medida que a equipe o observava.

“Era um pouco como tentar tirar uma foto nítida de um filhote correndo rapidamente atrás de seu rabo”, brincou o cientista do EHT Chi-kwan Chan, da Universidade do Arizona.

le (Lusa, dpa, AFP, AP)