Se a Terra mantiver os atuais índices de desmatamento das florestas tropicais, 40% das espécies existentes estarão extintas nos próximos 100 anos. Esse duro prognóstico fez com que a biodiversidade ganhasse espaço nas estratégias empresariais e governamentais. Um dos pontos marcantes dessa transformação aconteceu em 2010, quando foram aprovadas as Metas de Aichi, que determinaram os objetivos e as proposições aos governos para reduzir a perda da biodiversidade em âmbito mundial, com prazo de implementação até 2020.

A dois anos do prazo final, entretanto, é consenso entre os especialistas que só as ações dos governos não serão suficientes para reverter esse quadro. A solução deve estar alinhada a projetos de desenvolvimento econômico, que agreguem o valor da biodiversidade nas estratégias de negócio, no fornecimento de matéria-prima, produtos e serviços ecossistêmicos. Nesse cenário, o Brasil, líder em biodiversidade, rico em fauna e flora, abrigo de 20% das espécies do planeta, tem papel indiscutível.

Uma pesquisa da Ethical Union for Biotrade apontou que nove entre dez brasileiros consideram que as empresas devem ter políticas de biodiversidade e interesse em comprar produtos que respeitem os recursos naturais. Pelo lado empresarial, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) verificou que 87% dos gestores reconhecem a importância da biodiversidade, por reputação, redução de custos e aumento de competitividade. Verificou-se, porém, que 84% dos empresários entendem que o país não aproveita seu potencial.

Um bom exemplo brasileiro da relação entre a produção e a conservação da biodiversidade vem da indústria de árvores plantadas. O Brasil é o país que mais protege as áreas naturais, uma vez que, para cada hectare plantado com árvores para fins industriais, outro 0,7 hectare de mata nativa é destinado à conservação. O setor adota técnicas de manejo de paisagem que contribuem para a conservação da biodiversidade e a restauração de florestas naturais. É o caso do plantio em mosaicos, em que as florestas naturais se intercalam com florestas plantadas produtivas. Criam-se desse modo corredores ecológicos que favorecem a circulação de diferentes espécies, mantendo os habitats naturais para animais, plantas e microrganismos, garantindo alimentação e abrigo e, ao mesmo tempo, fornecendo produtos suficientes para o mercado consumidor.

Pesquisas realizadas pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) demonstraram que, apesar de ocuparem menos de 1% do território brasileiro, as áreas da indústria de florestas plantadas possuem 41% das espécies de aves amea­çadas de extinção (importante bioindicador ambiental), além de 38% das espécies de mamíferos na mesma situação. Nesse levantamento foram encontrados, por exemplo, lobo-guará, muriqui, puma, mico-leão-preto e papagaio-chorão. Na flora foram identificadas espécies de palmeira-juçara, peroba-rosa, jatobá e araucária, entre outras. Ao considerar todas as espécies registradas no Brasil, aproximadamente 51% das aves e 33% dos mamíferos podem ser encontrados nos espaços conservados por empresas do setor. Isso comprova que a adequada gestão de paisagem contribui para a sobrevivência das espécies, contrapondo-se ao conceito de que as florestas plantadas são desertos verdes.

Protagonista natural em termos florestais, o Brasil precisa se valer melhor de sua biodiversidade a fim de se tornar uma potência. Para que as empresas apoiem cada vez mais o governo na busca das metas de biodiversidade, é essencial que haja reconhecimento e incentivo aos produtos sustentáveis, como os que têm origem em florestas plantadas, por meio de políticas de estímulo ao consumo e ações de conscientização do consumidor.