Uma pesquisa inédita feita na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em parceria com seis universidades internacionais, revelou uma nova espécie pertence a um grupo de répteis conhecidos como “pararrépteis”. É o terceiro fóssil de réptil descoberto na região de Nazária (a cerca de 30 quilômetros de Teresina) e é o primeiro a ser considerado uma espécie nova.

Segundo o paleontólogo Juan Cisneros, da UFPI, Karutia fortunata era um réptil pequeno e parecido por fora com um calango. O animal media uns 25 centímetros de comprimento e se alimentava de insetos.

Karutia, em língua timbira, significa pele enrugada e com caroços. Escolhemos esse nome porque os ossos do crânio do animal estão cobertos por muitas rugas naturais. Fortunata refere-se a que foi uma descoberta afortunada, pois o esqueleto foi encontrado graças a um pneu furado que fez com que a nossa equipe tivesse que ficar mais tempo no local, o qual resultou na descoberta desse fóssil”, explica Cisneros.

Concepção artística de Karutia fortunata na natureza. Crédito: UFPI
Insetos como alimento

Parente muito distante dos lagartos e dos crocodilos, e pertencente a um grupo extinto (não deixaram descendentes nos dias de hoje), o Karutia fortunata viveu aproximadamente 280 milhões de anos atrás, no período Permiano da era Paleozoica, e é mais antigo que os dinossauros. “Karutia viveu ao mesmo tempo que a Floresta Fóssil do Rio Poti em Teresina e habitou nela”, disse.

De acordo com Cisneros, o réptil achado em Nazária e Palmeirais se alimentava dos insetos que existiram na floresta fóssil de Teresina. “Ele nos ajuda a reconstruir as relações ecológicas do final da era Paleozoica e através dele temos um panorama mais completo do Brasil nesse tempo.”

Ainda segundo o paleontólogo, Karutia tinha parentes próximos nos EUA. “Isso nos ajuda a entender melhor as relações entre a fauna brasileira e a fauna dos EUA numa época em que os continentes estavam unidos, formando o supercontinente de Pangeia”.

Paleontólogos no sítio onde o fóssil foi encontrado. Crédito: UFPI
Investigação internacional

Desde 2016, os pesquisadores estudam a coleção de fósseis encontrados no município e que atualmente estão depositados no Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI.

As várias partes do corpo do fóssil (dentre elas ossos do crânio, da mandíbula, vértebras, e de outras partes do esqueleto) foram analisadas e estudadas por uma equipe liderada por Cisneros, diretor do Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI, em conjunto com uma equipe internacional de paleontólogos das seguintes instituições: Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte (EUA), Museu Field de Chicago (EUA), Museu Iziko (África do Sul), Universidade de Buenos Aires (Argentina), Universidade Humboldt (Alemanha), Museu de História Natural (Reino Unido).

Imagem da mandíbula do fóssil do Karutia fortunata. Crédito: UFPI

O estudo sobre o fóssil do Karutia fortunata foi apresentado recentemente na revista “Journal of Systematic Palaeontology”, considerada referência na área da paleontologia. “Este estudo fortalece as pesquisas paleontológicas feitas pela UFPI e foi possível graças ao apoio do CNPq e da prefeitura de Nazária”, finaliza Cisneros.