Alex é um papagaio. Mas não é do tipo que se presta a qualquer piada não. Estudos desenvolvidos pela pesquisadora norte-americana Irene Pepperberg, da Purdue University, mostram que os papagaios-cinza africanos, da espécie de Alex, são muito mais do que simples repetidores de frases jocosas, sendo dotados de habilidades capazes de surpreender até o mais inteligente dos animais – nós.

Ao lado dos chimpanzés e dos golfinhos, com fama de inteligentes tanto no mundo hollywoodiano como na ciência (veja box à pág. 64), os papagaios- cinza africanos conseguem identificar uma centena de objetos e determinar características como forma, cor e textura.

Mais que isso: eles conseguem determinar quantidades e traçar comparações, habilidades que, embora pareçam simples, são surpreendentes quando se trata de um animal, especialmente se comparadas ao que uma criança só conseguiria realizar com mais de 1 ano de idade.

Irene Pepperberg, que desenvolve seus trabalhos em Indiana (EUA), conta que, quando são colocados dois quadrados em uma mesa, um verde e um azul, e pergunta-se “qual a diferença?”, Alex é capaz de dizer que a diferença está na cor. “Color”, responde em inglês. O mesmo acontece se forem dispostos dois objetos iguais e lhe perguntarem qual a diferença entre eles. Imediatamente, a ave responde: “Nenhuma” (none, em inglês). Alex também consegue relacionar mais de uma característica dos objetos. Quando indagado, por exemplo, qual deles é vermelho e retangular, ele aponta o item correto.

O que tais exercícios comprovam é que a ave consegue fazer associações que não são apenas repetição de frases de seus donos. Vão além. Quando a doutora pergunta “qual é a cor do objeto maior?”, Alex demonstra que consegue entender o conceito de relatividade, apontando o objeto correto. Apesar de ser incapaz de conversar com Irene, o papagaio consegue dizer com clareza o que deseja e responder corretamente a uma série de perguntas, o suficiente para tirá-lo das piadas e colocá-lo em artigos científicos.

O que ainda não se sabe, no entanto, é se tais resultados podem ser obtidos com outras espécies de papagaios, já que foram necessários anos de pesquisa para se chegar a tais conclusões. No caso de Alex, a dedicação foi tão longe que hoje ele ganhou fama internacional.

A ave, que foi comprada por Irene numa loja de animais nos anos 1970, além de estar presente em revistas científicas do mundo todo, possui (acreditem!) uma fundação, a Alex Foundation (Fundação Alex).

A entidade visa angariar fundos para pesquisas desenvolvidas com os seus parentes papagaios, auxiliar projetos de proteção a animais selvagens e financiar pesquisas veterinárias contra diferentes tipos de doenças. A fundação tem até um site na Internet (www.alexfoun dation.org) e é mantida pela pesquisadora com doações de cientistas e de curiosos de todo o mundo.

O site traz links para notícias do mundo animal (no qual aparece uma foto engraçada de Alex diante de um jornal, como se estivesse lendo), permite acesso a pesquisas científicas e comercializa produtos com o nome da avezinha – canecas, camisetas, etc.

Apesar de parecer mais uma dessas loucuras norte-americanas, o trabalho da fundação está longe de ser piada de mau gosto, dessas que sempre tem um papagaio na história.

INTELIGÊNCIA “IN NATURA”

Levando-se em consideração que Alex é um animal de estimação, mantido em cativeiro, uma outra questão levantada pelos pesquisadores é como esses animais aplicam as suas habilidades na natureza, fora dos laboratórios. O primeiro fator a se considerar é que os papagaios de diferentes espécies têm vida longa, chegando a viver mais de 50 anos – podemos incluir aí as nossas araras e “louros”, que vivem até 70 anos.

Nesse caso, a memória é de grande importância, pois tais animais precisam memorizar um grande número de locais onde há fontes de água, de alimento, ninhos e pontos de acasalamento. Soma-se aí o grande repertório de sons que têm de usar e memorizar na comunicação com seus parceiros. Além da memória, também precisam se adaptar a novos grupos de papagaios durante as várias etapas de sua vida, já que mantêm relações sociais complexas entre grupos da mesma espécie. Isso exige o que chamamos entre os humanos de “inteligência social”, e que, diga-se de passagem, não é fácil nem para nós.

Para se ter uma idéia, algumas espécies espantam predadores e possíveis rivais jogando pedras e galhos, sendo que o uso de ferramentas também é percebido em grande número de espécies de papagaios. Um exemplo é o fato de alguns usarem galhos para bater em troncos ocos e, desse modo, marcar o território com o som emitido.

NO MUNDO DE HOLLYWOOD

Alguns animais conseguiram demonstrar suas habilidades num mundo muito mais glamoroso que o das piadas, fazendo parte até de filmes de Hollywood e seriados de tevê. É o caso dos golfinhos e dos macacos. O primeiro deles, que teve seu mais famoso representante como o personagem Flipper, é dotado de grandes habilidades motoras e sensoriais.

Esses espertos animais vêm sendo estudados há anos e estão presentes em várias áreas do conhecimento, fazendo parte da vida do homem muito mais do que se pode imaginar. São usados, por exemplo, na terapia de crianças com Síndrome de Down, autismo e com alguns tipos de atrasos psicomotores. Dóceis e atenciosos, são capazes de identificar nas pessoas a parte do corpo deficiente, dedicando maior atenção a esse ponto.

No caso dos primatas, em especial os chimpanzés, a maioria dos cientistas já reconhece várias habilidades cerebrais raras na maioria dos animais, tais como a capacidade de se auto-reconhecer num espelho ou numa tela de televisão, fazer planos a longo prazo, utilizar ferramentas e comunicar- se simbolicamente.

Embora cientificamente nem tudo seja consenso, na ficção personagens como o King Kong assumem papéis atribuídos aos humanos e mostram na tela que são capazes de se emocionar e de lutar pela pessoa amada – mesmo que ela seja uma mulher e não uma macaca.

Na ciência, um dos marcos dessa relação entre homens e primatas chegou ao ápice no dia 31 de janeiro de 1961, quando o chimpanzé Ham foi lançado ao espaço, oito anos antes de o homem pisar na Lua. As semelhanças fisiológicas entre o primata e o ser humano, e o fato de ele ter voltado sem qualquer seqüela, animaram os pesquisadores da Nasa a enviar os astronautas norteamericanos.

Tamanho em relação ao cérebro humano

SIMPLES, MAS EFICIENTE

Observando a anatomia do cérebro dos papagaios-cinza africanos, os cientistas descobriram que há muitas semelhanças com o cérebro humano, embora o das aves seja bem mais simples. Regiões como o cerebelo, o córtex e o tálamo são comuns a ambos e apresentam-se bastante definidas.

As semelhanças não param por aí. Embora o sistema nervoso dos dois animais (homem e papagaio) sejam muito diferentes, eles têm funções similares. Quando papagaios aprendem novos sons, as estruturas ativadas são análogas às que são ativadas nos humanos.

Estudos também mostram que a região chamada de pálio é bem desenvolvida nessa espécie, o que auxilia em controles complexos do comportamento. Segundo essas pesquisas, quanto maior o pálio, mais inteligente o animal, diferencial importante dos papagaios-cinza africanos.