A área desmatada na Amazônia brasileira alcançou 877 km² em outubro, revelam dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta sexta-feira (12/11).

É o maior nível de desmatamento já registrado no mês desde que o levantamento começou a ser realizado, em 2016, e ficou 5% acima do de outubro do ano passado – que era o recorde anterior.

A área destruída equivale a mais da metade da superfície do município de São Paulo.

O novo recorde foi anunciado pelo Inpe poucos dias depois de o governo de Jair Bolsonaro ter anunciado novas metas climáticas durante a conferência COP26, que ocorre em Glasgow. O Brasil chegou ao encontro fragilizado, com sua reputação derretida por causa de iniciativas antiambientais do governo Bolsonaro.

Destruição em meio à COP26

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, garantiu na quarta-feira, em Glasgow, que o Brasil eliminará o desmatamento ilegal até 2028 e que reduzirá em 50% a emissão de gases de efeito estufa até 2030.

Mas os números divulgados nesta sexta-feira pelo Inpe contradizem o discurso do governo Bolsonaro de combate ao desmatamento.

Desde o início do ano, a destruição florestal avançou em cerca de 7.880 km². Isso foi quase o mesmo que o registrado no mesmo intervalo temporal em 2020, quando a área perdida ficou em torno de 7.890 km².

Por outro lado, no início do mês, o Inpe informou que o número de incêndios em outubro ficou em 11.549, abaixo dos 17.326 registrados no mesmo período de 2020.

Dados oficiais também indicam que a destruição da Amazônia brasileira no mês passado foi um pouco menor do que em setembro, quando mais de 984 km² de vegetação nativa foram devastados.

Greenpeace critica governo

“Enquanto o governo federal tenta vender o Brasil como potência verde na COP26, a verdade é que o desmatamento em outubro bateu mais um recorde e vem sendo impulsionado pela política antiambiental do presidente, do Ministério do Meio Ambiente com apoio de parte do Congresso Nacional”, afirmou Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia da ONG Greenpeace após a divulgação dos novos números.

“Assinar ou endossar os diferentes planos e acordos não muda a realidade do chão da floresta, onde o desmatamento e as queimadas continuam fora de controle, e a violência contra os povos indígenas e população tradicional só aumenta”, completou Batista.

Ambientalistas e opositores vêm atribuindo o aumento do desmatamento às políticas de Bolsonaro, que é favorável à expansão do agronegócio e dos garimpos, inclusive em terras indígenas. O presidente brasileiro também desmontou vários mecanismos de proteção ambiental e paralisou programas como o Fundo Amazônia.

Desde que Bolsonaro tomou posse, em 2019, a Amazônia perdeu cerca de 10.000 km² de floresta por ano (quase a superfície da Jamaica), frente a cerca de 6.500 km² por ano na década anterior.

Ainda de acordo com um relatório publicado pelo Observatório do Clima, as emissões de CO2 do Brasil aumentaram 9,5% em 2020, em grande parte por causa do desmatamento. Os dados também estão na contramão do mundo, que registrou uma queda média de 7% nas emissões, em grande parte por causa da desaceleração causada pela pandemia de covid-19.

Ponto de não retorno

Ainda nesta sexta-feira, cientistas afirmaram na COP26 que a Amazônia está em “alerta vermelho” e que apenas ações concretas evitarão que a maior floresta tropical do mundo atinja um ponto catastrófico sem retorno nos próximos anos.

O alarme foi dado pelo Painel Científico da Amazônia (SPA, na sigla em inglês), formado por mais de 200 especialistas de todo o mundo, que apresentaram resultados de uma ampla avaliação sobre a floresta.

Eles apontam que se as altas taxas de desmatamento, degradação do solo e queimadas registadas nos últimos anos forem mantidas, a maior floresta tropical do planeta poderá chegar a esse ponto de inflexão antes de 2050, perder até 70% de sua vegetação nativa e se tornar praticamente uma área deserta.

jps/lf (Lusa, ots)