Uma peça produzida no período das reduções jesuítas foi identificada em uma capela no município de São Martinho da Serra, no interior do Rio Grande do Sul. Trata-se de um busto de São Martinho de Tours de mais de 200 anos.

“Este pode ser considerado um exemplar único no Brasil deste modelo, no padrão da arte sacra missioneira jesuítico-guarani”, afirma Edison Huttner, professor da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e responsável pela descoberta.

A confecção de bustos faz parte da arte sacra missioneira, e nesse caso é caracterizada como de “peanhas”, quando as peças são colocadas em cima de um pedestal. Atualmente existem outras quatro obras semelhantes, São Leão Magno e São Gregório Magno, que estão no Museu de Ciencias Naturais de La Plata; e Santo Ambrósio e Santo Agostinho, que estão no Museu Jesuítico San Ignácio Mini, ambos na Argentina.

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Após um ano de estudos, Huttner viu na peça características da arte sacra jesuíta, como barba, sobrancelha e cabelos no estilo barroco e túnica com relevo de arte de friso jesuítico-guarani (folhagens, medalhão e florões). A peça é composta de madeira policromada, posteriormente revestida de gesso e tinta, possui 97 cm com a mitra, 70 cm de largura, 18 cm de espessura e 21 quilos.

Escultura pode ser considerada um exemplar único desse modelo no Brasil. Crédito: Edison Huttner
Origem da peça

Segundo o pesquisador, há várias hipóteses para a origem da escultura. Ela pode ter sido trazida da redução de Trindade, no Paraguai, onde estavam os bustos de São Gregório Magno e São Leão Magno, que apresentam o mesmo estilo e arte de confecção. Outra possibilidade é que ela tenha sido trazida de uma antiga capela de São Martinho, que ficava próxima à Redução de Yapejú, na Argentina; ou ainda, ter vindo do município de São Borja, onde o artista José Brasanelli tinha um ateliê entre os anos de 1696 e 1706. Brasanelli foi um dos grandes escultores e artistas jesuítas da época.

São Martinho de Tours nasceu pelo ano de 316, na Panônia (hoje Hungria). Numa ocasião, sem dinheiro para dar a um mendigo que havia pedido esmola, cortou seu manto e o ofereceu para que ele pudesse se aquecer. Naquela noite, Jesus teria aparecido a Martinho, na outra metade do manto. Depois disso, Martinho largou o exército e dedicou-se à fé cristã, sendo ordenado bispo em Tours (França). Um dos mais populares santos da Europa, é o primeiro santo não mártir que foi cultuado pela Igreja Católica.