Geografia em transformação

Imagens da área atingida pela lava do Kilauea antes (esquerda) e durante a erupção: casas destruídas e litoral ampliado (Fotos: Divulgação)

O Havaí é uma produção 100% vulcânica, e a recente erupção do vulcão Kilauea, na ilha homônima (a maior do arquipélago), deu uma demonstração de como isso funciona. Uma das fissuras do vulcão liberou um fluxo de lava que rumou para a costa, cruzando terras baixas e devastando duas comunidades, Kapoho e Vacationland, destruindo centenas de casas. No trajeto, a lava também fez desaparecer o maior lago da ilha e eliminou a baía de Kapoho – agora, a região tem uma península. De 3 de maio a 13 de junho, o Kilauea expeliu mais de 110 milhões de metros cúbicos de lava, um volume suficiente para cobrir 45 mil piscinas olímpicas, ou preencher a carga de 11 milhões de caminhões basculantes, segundo a U.S. Geological Survey. Mesmo transformadas pela lava, as terras seguem sendo propriedade de seus atuais donos. Já as novas áreas criadas pelos fluxos pertencem ao governo havaiano.

 

Poluição fora do esquadro

Nova Délhi sob a neblina: ar muito sujo em plena estação quente (Foto: iStock)

A poluição em Nova Délhi, a capital indiana, subiu tanto em junho que já não é mais possível medi-la com os instrumentos convencionais do governo – eles só conseguem chegar a 999. Uma espessa neblina cobriu toda a cidade em meados do mês, e os indicadores da qualidade do ar só pioraram à medida que tempestades de poeira vindas do estado vizinho do Rajastão cobriram a área. O mais preocupante é que os índices chegaram a tais níveis meses antes de a cidade entrar no inverno, quando tudo piora lá. As autoridades e os cidadãos locais parecem estar se convencendo de que o ar poluído da cidade é um problema do ano inteiro, e não apenas de uma estação.

 

Nervo robótico

A lacuna entre sistemas biológicos e máquinas diminuiu um pouco mais com um artigo publicado em junho na revista “Science” no qual se detalha um nervo artificial sensível ao toque. O nervo artificial, desenvolvido por cientistas da Universidade Stanford (EUA) e pelas Universidades Nacionais de Seul (Coreia do Sul), reuniu três componentes para imitar a ação de uma célula nervosa sensorial. Os sensores de pressão incorporados à peça podem detectar o peso de uma única pétala de flor pesando apenas 0,8 miligrama, o que significa que a pele artificial embutida nessas células pode ser ainda mais sensível que a pele humana. Capaz de distinguir caracteres em Braille e até mesmo interagir com uma perna de barata, o dispositivo pode ter aplicações de grande alcance em robótica e membros protéticos.

 

Planetas bebês

Duas equipes internacionais de cientistas anunciaram em junho ter encontrado três planetas recém-nascidos na Via Láctea. Os pesquisadores usaram uma nova técnica para encontrar os mundos – os mais novos já vistos – em torno de uma jovem estrela relativamente próxima da nossa. Os exoplanetas foram achados a partir de distúrbios no disco cheio de gás ao redor da estrela. Os cientistas procuravam um tipo particular de luz emitido pelo movimento do monóxido de carbono – o que lhes permite entender como o gás no disco está se movimentando. Se não houvesse planetas no disco, o gás se moveria com um padrão simples e previsível. Mas movimentos incomuns sugerem que existe algum corpo grande lá. Três desses movimentos foram localizados no disco. A descoberta poderá lançar luzes sobre os primeiros estágios de vida dos planetas.

 

Estabilidade preocupante

A pesquisa Vigitel, realizada pelo Ministério da Saúde e divulgada em junho, traz uma boa notícia sobre a obesidade nas capitais brasileiras, mas o panorama geral não é nada positivo. Segundo o estudo, a explosão de casos observada na última década nessas cidades deu lugar a uma relativa estabilidade em 2016 e 2017. Mas o patamar é elevado: 18,9% da população acima de 18 anos é obesa (com Índice de Massa Corporal acima de 30), índice 60,2% maior do que o registrado em 2006, quando o primeiro levantamento do gênero foi realizado. A pesquisa revelou que mudanças nos hábitos estão relacionadas, por exemplo, à estabilização das taxas de sobrepeso e obesidade: hoje em dia, 14,6% dos entrevistados disseram consumir refrigerantes e bebidas adoçadas, ante 30,9% em 2007. A prática de atividades físicas também subiu 24% nesse intervalo de tempo. Confira a seguir os principais números dessa pesquisa.

 

Fotos mais acessíveis

Livros artísticos de alta qualidade são naturalmente caros, mas o selo Tordesilhas, do Grupo Alaúde, resolveu quebrar essa sina com a coleção Tordesilhas Click, voltada para amantes de fotografia e turistas internacionais. O primeiro lançamento, “Bicho Brasil”, já demonstra isso: essa obra de um dos mais renomados fotógrafos de natureza brasileiros, Araquém Alcântara, traz uma seleção de mais de 70 das suas melhores fotos de animais, obtidas em mais de cem expedições pelo país, entremeadas com histórias e curiosidades sobre esses registros contadas pelo próprio autor, em versão bilíngue (português e inglês). Tudo isso está em um livro colorido, de capa dura e preço de apenas R$ 39,90. A editora promete outros lançamentos no mesmo nível na sequência.

 

dos consumidores de grandes cidades brasileiras gostariam que os produtos que adquirem seguissem o Código Florestal, principal lei ambiental brasileira, informa uma pesquisa realizada pelo Ibope/Rede Conhecimento Social, a pedido do Observatório do Código Florestal. Além disso, 60% declaram que aceitariam pagar um pouco a mais por esses produtos.

 

Estradas solares

Piso de rolamento com placas solares: proposta de Tóquio de olho na próxima Olimpíada (Foto: Joachim Bertrand)

O governo metropolitano de Tóquio planeja introduzir “estradas solares” que coletam energia do sol através de painéis instalados abaixo da superfície das estradas. O esforço visa promover a capital japonesa como uma cidade ecologicamente correta, tanto no país quanto no exterior, antes das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2020. Espera-se que as novas tecnologias sejam introduzidas experimentalmente em instalações de propriedade do governo de Tóquio e de outras localidades já no próximo ano fiscal. As autoridades metropolitanas se concentraram nas novas tecnologias como fontes potenciais de energia renovável. A expectativa é que fontes renováveis respondam por cerca de 30% do consumo de energia de Tóquio até 2030, ante um índice de cerca de 12% registrado em 2016.

 

Apelo da genética

As pesquisas de DNA que revelam às pessoas os riscos genéticos de doenças que elas apresentam podem ser um instrumento importante para levá-las a hábitos mais saudáveis, mostra um estudo finlandês apresentado em junho na Sociedade Europeia de Genética Humana. Segundo os cientistas, dizer às pessoas como seus genes podem aumentar o risco de um ataque cardíaco ou derrame cerebral nos próximos 10 anos encorajou 90% delas a abandonar costumes prejudiciais à saúde. É uma motivação melhor para mudar do que os riscos tradicionais, como peso e colesterol. A avaliação ainda revelou que 17% dos fumantes participantes desistiram com êxito desse vício, em comparação com 4% na população geral, e 13,7% perderam peso e mantiveram a nova forma depois.

 

Feminização dos anfíbios

Os anfíbios estão ameaçados por um herbicida bastante usado no mundo (Foto: iStock)

Um herbicida muito aplicado no cultivo de batatas, o linuron, representa um risco elevado para os anfíbios, informam pesquisadores suecos e britânicos. O contato com esse produto reduz a fertilidade dos machos e distorce consideravelmente as razões de sexo dos girinos, facilitando o surgimento de fêmeas. Os cientistas expuseram girinos do Xenopus tropicalis, espécie de rã usada em laboratório, a concentrações de linuron semelhantes às registradas em ambientes naturais e descobriram que os girinos criavam ovários bem mais do que testículos. A equipe atribui esse efeito às propriedades endócrinas de desregulação hormonal do linuron, o que poderia impedir a produção de testosterona. Como as populações de rãs já estão sob ameaça global de extinção, os cientistas temem que a interrupção de sua reprodução natural possa acelerar ainda mais seu declínio.

 

As cores da violência

A elevada taxa de homicídios no Brasil em 2016 – 30,3 mortes por 100 mil habitantes – contém em sua composição um dado ainda mais preocupante. Segundo o “Atlas da Violência 2018”, divulgado em junho pelo Instituto de pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o índice referente a negros (pretos e pardos) supera 40 mortes por 100 mil habitantes, caindo para 16,0 por 100 mil habitantes em relação a não negros. Três estados nordestinos se destacam nesse triste ranking: Sergipe (79,0 homicídios de negros por 100 mil habitantes), Rio Grande do Norte (70,5) e Alagoas (69,7). Sergipe e Rio Grande do Norte foram os estados onde esse índice mais cresceu entre 2006 e 2016: 172,3% e 321,1%, respectivamente. Confira alguns números do estudo a seguir.

 

dos 17 estados brasileiros que ainda têm Mata Atlântica registraram perdas em torno de 100 hectares ou menos nessas áreas entre 2016 e 2017, segundo o Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado em maio. Integram o grupo Ceará, Espírito Santo (ambos com 5 hectares), Rio de Janeiro (19 ha), Rio Grande do Norte (23 ha), Paraíba (63 ha), São Paulo (90 ha) e Mato Grosso do Sul (116 ha).

 

Cânions antárticos

Relevo antártico: segredos descobertos no oeste do continente (Foto: Divulgação)

Cientistas britânicos divulgaram em junho na revista “Geophysical Research Letters” a descoberta de cadeias montanhosas e de uma série de vastos cânions cobertos pelo gelo no oeste da Antártida. As descobertas, feitas com a ajuda de um radar de penetração de gelo durante um levantamento aéreo da região, surpreenderam os pesquisadores. Foundation Trough, o maior dos três cânions, tem mais de 32 quilômetros de largura e 345 quilômetros de comprimento. O Patuxent Trough se estende por mais de 285km; o Offset Rift Basin, por mais de 140km. O aquecimento global poderá reduzir a camada polar de gelo, e o tamanho e orientação dos cânions poderiam acelerar a velocidade com que o gelo flui do centro do continente para o mar, o que elevaria o nível dos oceanos e possivelmente levaria a inundações de áreas costeiras em todo o mundo.

 

No caminho das águas

As casas pelas quais uma cambojana passa de bicicleta na foto acima, em abril deste ano, pertencem ao vilarejo de Kampong Phluk, em Siem Reap. A cada período de monções as casas de Kampong Phluk provam seu valor, uma vez que essa poeirenta aldeia cambojana é transformada pelas chuvas torrenciais em um canal profundo – e uma atração para os turistas. A vila, a um curto passeio de tuk-tuk (tipo de riquixá motorizado) das antigas ruínas de Angkor, está na planície de inundação do maior lago de água doce do sudeste da Ásia, o Tonle Sap, que se transforma entre as estações seca e chuvosa, multiplicando várias vezes sua área original de 2.500 quilômetros quadrados durante as chuvas de monção, entre setembro e outubro.

 

Salto sobre bebês

O ‘Colacho’ (homem que representa o diabo) pula sobre bebês durante “El Salto del Colacho”, o festival de salto de bebê, na aldeia de Castrillo de Murcia, perto de Burgos (norte da Espanha), em junho de 2018. Essa festividade tradicional espanhola, que remonta a 1620, é realizada anualmente para celebrar a festa católica de Corpus Christi. Durante El Salto del Colacho, homens vestidos de demônios pulam sobre bebês nascidos nos últimos 12 meses do ano, que são deitados em colchões na rua.

 

Hábitos mais noturnos

Leões, tigres e ursos estão gradualmente se tornando animais noturnos por causa dos humanos, de acordo com um estudo da Universidade da Califórnia publicado em junho na revista “Science”. Já se havia notado que muitos mamíferos não só estão mais vigilantes e reduziram o tempo gasto buscando comida, como viajam para áreas remotas ou se movimentam menos para evitar o contato com as pessoas. Segundo a nova pesquisa, que analisa 76 estudos envolvendo 62 espécies em seis continentes, mesmo atividades como caminhadas e acampamentos podem assustar os animais e levá-los a se tornar mais ativos à noite. Em média, os cientistas descobriram que a presença humana provocou um aumento de cerca de 20% na atividade noturna, mesmo em animais que não são muito ativos nesse período do dia.