A composição da palavra “milípede” remete a mil, mas até recentemente não se conhecia nenhum animal que tivesse mil patas – o máximo descoberto possuía 750. Agora, porém, a palavra tem alguém a honrá-la literalmente. Cientistas australianos descobriram na província de Eastern Goldfields, na Austrália Ocidental, um milípide cujo número ultrapassa bem as mil patas. Trata-se do artrópode Eumillipes persephone, um tipo de piolho-de-cobra que ao todo tem 1.306 patas e foi classificado como uma nova espécie. O nome remete a Perséfone, deusa grega do submundo, porque o bichinho foi encontrado 60 metros abaixo do solo, em um buraco criado para exploração mineral.

Paul Marek, da universidade Virginia Tech (EUA), e colegas australianos e americanos mediram quatro membros da nova espécie. Descobriram que os animais possuem corpos longos, semelhantes a fios, consistindo de até 330 segmentos; atingem 0,95 milímetro de largura e 95,7 milímetros de comprimento. Eles não têm olhos, têm pernas curtas e cabeças em forma de cone com antenas e um bico.

Imagem de microscópio da cabeça de uma Eumillipes persephone. Crédito: Paul E. Marek, Bruno A. Buzatto, William A. Shear, Jackson C. Means, Dennis G. Black, Mark S. Harvey, Juanita Rodriguez/Scientific Reports
Relações distantes

Segundo os cientistas, as relações do E. persephone com o dono anterior do recorde de patas – a espécie californiana Illacme plenipes – são distantes. Os pesquisadores sugerem que o grande número de segmentos e pernas que evoluíram em ambas as espécies pode permitir que eles gerem forças de impulso para permitir a esses animais mover-se através de aberturas estreitas nos habitats de solo em que vivem.

Vista parcial das patas do artrópode. Crédito: Paul E. Marek, Bruno A. Buzatto, William A. Shear, Jackson C. Means, Dennis G. Black, Mark S. Harvey, Juanita Rodriguez/Scientific Reports

A descoberta reforça a ideia de que até mesmo ambientes em que a vida é difícil podem abrigar biodiversidade. Os cientistas recomendam que sejam tomadas medidas adicionais de preservação para que as atividades mineradoras não prejudiquem esse habitat subterrâneo.