Nos últimos 200 anos, os relatos sobre a Antártida foram aqueles realizados por exploradores predominantemente europeus do sexo masculino. No entanto, um projeto liderado por pesquisadores das agências neozelandesas Manaaki Whenua – Landcare Research e Te Rūnanga o Ngāi Tahu examinou a conexão dos maoris com o continente gelado para documentar e compreender melhor as contribuições e perspectivas de grupos sub-representados que estão faltando nas narrativas atuais.

O estudo sobre esse projeto foi publicado na revista Journal of the Royal Society of New Zealand.

No projeto, os pesquisadores esmiuçaram a literatura e a integraram às histórias orais para fornecer um registro compilado da presença maori e das perspectivas das narrativas e exploração da Antártida. As jornadas dos maoris (e dos polinésios) para o extremo sul vêm ocorrendo há muito tempo, talvez já no século 7 d.C., e esse trabalho destaca a tradição da exploração maori da Antártida.

Longo caminho para o sul

“Descobrimos que a conexão com a Antártida e suas águas têm ocorrido desde as primeiras viagens tradicionais e, posteriormente, por meio da participação em viagens e exploração lideradas pela Europa, pesquisa científica contemporânea, pesca e muito mais por séculos”, diz a chefe do projeto, drª Priscilla Wehi. “Encontramos narrativas polinésias de viagens entre as ilhas, incluindo viagens às águas da Antártida por Hui Te Rangiora e sua tripulação no navio Te Ivi o Atea, provavelmente no início do século 7.”

Ela prosseguiu: “Essas realizações de navegação são amplamente reconhecidas. E os navegadores maoris são descritos como atravessando o Pacífico da mesma forma que os exploradores ocidentais fariam num lago. (…) Em algumas narrativas, Hui Te Rangiora e sua tripulação continuaram para o sul. Um longo caminho para o sul. Ao fazer isso, eles provavelmente viram as águas da Antártida e talvez o continente.”

Outras evidências reunidas incluem esculturas maoris, que retratam tanto os viajantes quanto o conhecimento de navegação e astronômico.

Imagem mais rica

“Também”, disse Wehi, “um pou whakairo (traduzido como poste esculpido) representa Tamarereti como protetor dos oceanos do sul e fica na ponta mais meridional da Ilha do Sul da Nova Zelândia, em Bluff. Ngāi Tahu, o maior grupo tribal grupo na Ilha do Sul, e outros grupos tribais ou iwi também valorizam outros repositórios orais de conhecimento em relação a esses primeiros exploradores e viajantes.”

“Nossa exploração começa a construir uma imagem mais rica e inclusiva da relação da Antártida com a humanidade. Também constrói uma plataforma na qual conversas muito mais amplas sobre as relações da Nova Zelândia com a Antártida podem ser promovidas”, ela acrescentou.

A participação maori nas viagens e expedições à Antártida continua até os dias atuais. Os pesquisadores dizem que é importante que mais estudos sejam realizados para preencher as lacunas de conhecimento e garantir a inclusão de maoris nas relações futuras com a Antártida.