Em um artigo publicado na revista “Nature Structural & Molecular Biology”, uma equipe de cientistas do Reino Unido mostrou que nanocorpos manipulados de uma biblioteca de células sanguíneas de lhama se ligam firmemente à proteína spike do vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19. Isso impede o vírus de entrar nas células humanas e, assim, interrompe a infecção.

Os pesquisadores agora estão testando anticorpos de Fifi, uma das ‘lhamas de Franklin’ da Universidade de Reading (Reino Unido), tirados depois que ela foi imunizada com proteínas inofensivas do vírus purificado. A equipe está investigando resultados preliminares que mostram que o sistema imunológico de Fifi produziu anticorpos diferentes daqueles já identificados, o que permitirá que coquetéis de nanocorpos sejam testados contra o vírus.

Gary Stephens, que lidera o trabalho na Universidade de Reading produzindo nanocorpos de lhama, disse: “A procura por tratamentos eficazes para combater a pandemia sem precedentes da covid-19 prossegue. Dado o longo processo de desenvolvimento de vacinas, uma grande prioridade imediata é o desenvolvimento de anticorpos seletivos que podem neutralizar o vírus SARS-CoV-2, responsável pela covid-19 Um novo avanço particularmente emocionante é o recente desenvolvimento da tecnologia de ‘nanocorpos’. Nanocorpos são tipos menores e mais estáveis ​​de anticorpos retirados do sistema imunológico de espécies de camelídeos – como lhamas, alpacas e camelos. Devido ao seu tamanho menor, eles são mais capazes de atingir proteínas relevantes e impedir que o vírus se ligue a um hospedeiro e se espalhe”.

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Ele prosseguiu: “Na Universidade de Reading, atualmente estamos trabalhando com o Rosalind Franklin Institute, em Oxfordshire, para gerar nanocorpos de lhama que se ligam a proteínas do vírus SARS-CoV-2, incluindo a glicoproteína spike que permite que o vírus entre nas células humanas. Esses nanocorpos podem fornecer capacidade adicional para se ligar a proteínas SARS-CoV-2 em diferentes locais e neutralizar o vírus ainda mais efetivamente”.

Combinação poderosa

A equipe, envolvendo pesquisadores do Rosalind Franklin Institute, da Universidade de Oxford, da Diamond Light Source e do Public Health England, começou com uma biblioteca de anticorpos de lhama em laboratório.

Usando imagens avançadas com raios X e elétrons na Diamond Light Source e na Universidade de Oxford, a equipe também identificou que os nanocorpos se ligam à proteína spike de uma maneira nova e diferente de outros anticorpos já descobertos.

O professor James Naismith, diretor do Instituto Rosalind Franklin e professor de biologia estrutural da Universidade de Oxford, disse: “Esses nanocorpos têm o potencial de ser usados ​​de maneira semelhante ao soro convalescente, interrompendo efetivamente a progressão do vírus em pacientes doentes. Conseguimos combinar um dos nanocorpos com um anticorpo humano e mostrar que a combinação era ainda mais poderosa do que qualquer um deles. As combinações são particularmente úteis, pois o vírus precisa mudar várias coisas ao mesmo tempo para escapar; isso é muito difícil para o vírus. Os nanocorpos também têm potencial como um diagnóstico poderoso”.

O professor Ray Owens, da Universidade de Oxford, que lidera o programa de nanocorpos no Rosalind Franklin Institute, declarou: “Esta pesquisa é um ótimo exemplo de trabalho em equipe na ciência, pois criamos, analisamos e testamos os nanocorpos em 12 semanas. Isso fez com que a equipe realizasse em apenas alguns dias experimentos que normalmente levariam meses para ser concluídos. Esperamos poder impulsionar essa inovação em ensaios pré-clínicos”.