Catástrofe no oeste do país mobiliza os políticos. Quando se trata de medidas concretas para combater o aquecimento global, contudo, nem todos parecem levar o assunto tão a sério.Quando tempestades e enchentes atingiram os estados alemães da Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado, nesta quarta-feira (14/07), políticos de destaque do país foram rápidos em mostrar presença nos locais atingidos.

Todos os três candidatos dos principais partidos para substituir Angela Merkel como chanceler federal nas eleições de setembro próximo deixaram tudo de lado e se dirigiram à região: Annalena Baerbock, do Partido Verde, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata, e Armin Laschet, da União Democrata Cristã (CDU), que é o governador da Renânia do Norte-Vestfália.

Em campanhas eleitorais passadas, o comportamento de políticos em locais de catástrofe já foi decisivo. Em 2002, quando o então chefe de governo Gerhard Schröder, do SPD, se apresentou imediatamente à cena da cheia do rio Elba, que causou grandes estragos e mortes. Seu adversário na época, Edmund Stoiber, da União Social Cristã (CSU), hesitou, e assim perdeu pontos importantes junto ao eleitorado.

Agora, o fato de cientistas relacionarem as inundações extremas às mudança climática global suscita exame minucioso das políticas climáticas dos candidatos à chefia do governo da Alemanha.

Carvão: tema controverso

O conservador Laschet, em particular, tem tido que escutar duras críticas: embora em seu programa eleitoral a CDU enfatize a importância de proteger o clima, ele é acusado de querer atrasar o abandono do carvão mineral como fonte de energia na Alemanha.

O atual governo federal, liderado por Merkel, considera parar com o uso desse combustível fóssil até, no máximo, 2038, alegando consideração aos operários das minas de linhito a céu aberto.

Grupos ambientalistas consideram a data tardia demais, no interesse do clima, argumentando que as emissões carbônicas causadas pela produção de carvão foram conectadas ao aquecimento da atmosfera, por sua vez responsável direto por eventos como as catastróficas inundações. Os verdes exigem uma transição até 2030.

Para Laschet, o tema é emocional: na noite de quinta-feira, ele quase perdeu a compostura no canal de TV WDR, quando a apresentadora lhe perguntou sobre o abandono do carvão: “Me desculpe, mas porque hoje é um dia assim, a gente não muda a política”, rebateu – uma frase que possivelmente ainda o acompanhará por um bom tempo.

Só os ultradireitistas negam

O abandono do carvão mineral não é o único tópico polêmico na política climática: assim como a União Europeia, a Alemanha evoluiu em suas metas de proteção ao clima, propondo-se atingir a neutralidade carbônica atá 2045.

Quando se trata de medidas concretas, contudo, as legendas divergem. Segundo o plano estabelecido pelos governistas CDU/CSU e SPD, o preço de 25 euros por tonelada cúbica de CO2 de combustíveis para transportes e calefação, estipulado em janeiro, deverá chegar gradualmente a 55 euros, até 2025.

Os verdes, por sua vez, exigem que se chegue a 60 euros até 2023, fato que lhes tem valido duras críticas na campanha eleitoral, sobretudo partindo de representantes da economia.

Porém todas as legendas representadas no Bundestag (câmara baixa do parlamento) se comprometem com as metas do Acordo de Paris de 2015 de impedir que a temperatura global suba mais de 1,5 ºC em relação aos níveis de 1990 – com exceção da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD),

O parlamentar da AfD Karsten Hilse, encarregado do clima, declarou ao jornal Die Welt que “enchentes e inundações são fenômenos naturais”: emissões carbônicas de origem humana não teriam qualquer influência, mesmo na atual catástrofe.

Os ultradireitistas estão basicamente isolados nessa opinião: nos partidos estabelecidos, ninguém questiona mais a responsabilidade humana pela mudança climática e os eventos meteorológicos extremos. Uma recente onda de calor na Europa Central – com um longo período quentes, sem alívio durante a noite, acompanhados de chuvas mais frequentes e pesadas – fez calar os negacionistas mais expostos.

Governo promete assistência rápida

No tocante à ajuda concreta aos afetados pelo desastre da Renânia, Berlim pretende se orientar pelas somas pagas em 2013, após as cheias do Elba e do Danúbio, que totalizaram mais de 8 bilhões de euros. O ministro do Interior, Horst Seehofer, conta com a aprovação da resolução pelo gabinete já na próxima quarta-feira.

O governador Laschet declarou na quinta-feira, à TV ZDF, que estradas, pontes e infraestrutura precisam estar logo operacionais. Para tal, afirmou, é preciso “uma demonstração nacional de força, de que tais coisas podem ser rapidamente remediadas”.

Desde as enchentes do Oder, Elba, Danúbio e Reno, entre 1997 e 2013, houve definitivamente uma revisão do modo de pensar sobre os próprios grandes rios: foram criadas várzeas, não é mais tão fácil construir em sua vizinhança imediata e os diques foram reforçados.

Nas atuais inundações, entretanto, rios menores também transbordaram, transformando-se em correntes avassaladoras. Além disso, criar várzeas e remover os prédios próximos à água não é praticável em muitos dos lugarejos e aldeias afetados.

A urbanização crescente também cobre a terra de asfalto e concreto, impedindo o escoamento natural. Em 2017, o governo alemão decidiu reduzir o consumo diário de terras a 30 hectares, até 2030. No momento, contudo, ele ainda ainda está em 52 hectares, o que corresponde à área de 72 campos de futebol. E não há uma mudança de tendência à vista. No que se refere à prevenção de enchentes, portanto, é hora de todos os partidos se empenharem e repensarem sua abordagem.