Resultado da eleição de setembro foi o pior da história da União Democrata Cristã. Agora o tradicional partido conservador tenta se renovar, mas há poucas caras novas disponíveis.Uma reunião dos presidentes dos diretórios distritais é o próximo passo para tentar acalmar a situação na União Democrata Cristã (CDU). A liderança do partido optou por esse grêmio, que já existe há muito tempo, mas que raramente desempenha um papel de destaque. Será ele, que, em 30 de outubro, vai determinar os rumos do partido da ainda chanceler federal Angela Merkel? Até o fim do ano, toda a direção partidária será renovada num congresso extraordinário.

A atual crise supera até mesmo a de 1998, quando a CDU, após a derrota do chanceler federal Helmut Kohl nas eleições, depois de 16 anos no poder, também teve de se reinventar. Wolfgang Schäuble tornou-se então o novo presidente da legenda. E a nova secretária-geral chamava-se Angela Merkel, então com 44 anos.

E um grupo de parlamentares, eleitos pela primeira vez em 1994, destacava-se pela competência: Peter Altmeier, hoje ministro da Economia; Armin Laschet, atual presidente da CDU e candidato a chanceler federal na eleição deste ano; Friedrich Merz e Norbert Röttgen, que recentemente perderam a disputa pela presidência do partido para Laschet.

Em 2021, a situação é outra. As eleições de 2017 e 2021 colocaram no Parlamento apenas uma pessoa que ascendeu a um papel importante no partido: o secretário-geral Paul Ziemiak. Assim como em 1998, a CDU está arrasada, mas desta vez quase não há caras novas. Pior: muitos parlamentares com menos de 50 anos que poderiam ajudar a rejuvenescer o partido não se reelegeram em setembro.

Entre os principais cotados para incorporar a renovação na liderança partidária estão nomes que nada têm de novo, como Merz e Röttgen. Além de Ziemiak, entre os novos com algum destaque estão o ministro da Saúde de Merkel, Jens Spahn, o parlamentar Carsten Linnemann, líder de uma influente associação econômica, Ralph Brinkhaus, que é o chefe da bancada do partido, e Michael Kretschmer, governador da Saxônia.

Irmãs brigando

A briga pelo comando da CDU vem de anos. E isso num partido que tinha por regra definir a ocupação de postos entre a liderança, antes de os delegados confirmarem as escolhas num congresso partidário.

E, depois da eleição de setembro, que deu à chamada união entre CDU e seu partido irmão União Social Cristã (CSU) o pior resultado de sua história, 24,1% dos votos, a briga pelo comando da legenda de Merkel se tornou ainda mais dura. Muitas pessoas dentro do partido acham que Laschet é culpado pelo resultado.

Mas muitos também suspeitam de que ele não seja o único responsável, se lembrando das alfinetadas, em plena campanha, vindas de lideranças da CSU. Os dois partidos conservadores alemães, a CDU e CSU (que só existe na Baviera, único estado onde a CDU não está presente), colocam cada vez mais a culpa pela miséria atual um no outro.

Um partido que encolhe

Em 2020, o número de filiados da CDU caiu para menos de 400 mil. Dez anos atrás havia caído para menos de 500 mil. A CDU parou de atrair jovens. O número de membros que morrem é maior do que o de jovens que entram, e o partido encolhe.

Trata-se de uma crise semelhante à enfrentada pelo Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), o outro “partido de massas” do país. Ela começou há cerca de dez anos e, com o resultado da eleição de setembro, anda meio esquecida.

Virada do ano como deadline

Foi Laschet que, na semana passada e de forma inesperada, anunciou a renovação na liderança do partido. Ela deverá ocorrer até o fim do ano.

Uma mudança dessa magnitude fora do cronograma é rara. Duas coisas chamaram a atenção quando Ziemiak expôs o caminho a ser seguido: “Tudo o que aconteceu nessa campanha eleitoral deve vir à tona. Isso deve ser feito de forma brutalmente clara.” E “todos nós sabemos que o deadline é a virada do ano”.

Essa pressa se explica com as eleições estaduais do ano que vem. Até meados de maio haverá eleições em três estados alemães: Sarre, Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestfália. A CDU lidera o governo nos três.

Em 2017, as vitórias no Sarre e na Renânia do Norte-Vestfália deram impulso à CDU nacional, bem mais do que o resultado apenas moderado na eleição parlamentar daquele mesmo ano, vencida por Merkel. Hoje muitos membros lamentam que a autocrítica, que deveria ter se seguido àquele pleito, de resultado já então baixo para os padrões da CDU, nunca tenha acontecido.

Pouca atenção para a base

Em situações como a atual, outros partidos alemães optam por consultar as bases. Mas a CDU é tradicionalmente arredia a essas consultas. A reunião dos presidentes dos diretórios distritais se apresenta, assim, como uma boa alternativa, já que os líderes dos diretórios de certa forma representam “a base”.

Em abril, quando CDU e CSU ainda decidiam se o candidato a chanceler federal seria Laschet ou o presidente da CSU, Markus Söder, houve quem sugerisse que a decisão não fosse tomada pela direção dos partidos, mas pelos chefes dos diretórios. Havia sinais de que “a base” preferia Söder.

As lideranças da CDU sabem que certamente ouvirão muitas críticas dos diretórios regionais. Um sinal de como a insatisfação é grande dentro do partido foram as renúncias de dois figurões, Peter Altmeier e Annegret Kramp-Karrenbauer, aos seus mandatos parlamentares para darem lugar a membros mais jovens – “jovens” de 38 e 42 anos, como se podia esperar da CDU.