Obras de arte rupestre amazônica recém-descobertas na Colômbia fornecem mais uma prova de que os primeiros habitantes da floresta tropical viveram ao lado de animais gigantes da Idade do Gelo agora extintos.

Esses milhares de desenhos estão entre as mais antigas representações de pessoas interagindo com enormes criaturas, incluindo mastodontes. Normalmente, as únicas pistas sobre sua aparência são restos de esqueletos.

O acervo descoberto é uma das maiores coleções de arte rupestre da América do Sul. Os desenhos registrados, provavelmente feitos pela primeira vez entre 12.600 e 11.800 anos atrás, estão em três abrigos de rocha em colinas na Amazônia colombiana. As pinturas, identificadas durante levantamentos de paisagem, também retratam formas geométricas, figuras humanas e impressões de mãos, bem como cenas de caça e pessoas interagindo com plantas, árvores e animais da savana.

As vibrantes imagens vermelhas foram produzidas ao longo de um período de centenas, talvez milhares de anos. Algumas delas estão em altura tão elevada e inacessível que escadas especiais feitas com recursos florestais seriam necessárias e ficariam ocultas para qualquer pessoa que visitasse o abrigo de pedra.

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Mudança climática

Existem desenhos de veados, antas, crocodilos, morcegos, macacos, tartarugas, serpentes e porcos-espinhos, bem como o que parece ser uma megafauna da Idade do Gelo. Esses animais agora extintos estão retratados na arte rupestre do Brasil Central, mas os especialistas acreditam que esses desenhos são mais realistas. Existem representações de criaturas semelhantes a uma preguiça gigante, mastodonte, camelídeos, cavalos e ungulados de três dedos com trombas. Todos esses animais nativos foram extintos, provavelmente por causa de uma combinação de mudanças climáticas, perda de seu habitat e caça pelos humanos.

As escavações, no solo profundo ao redor dos abrigos, revelaram uma das primeiras datas seguras para a ocupação da Amazônia colombiana e pistas sobre a dieta das pessoas nessa época, bem como restos de pequenas ferramentas e ocre raspado usados ​​para extrair pigmentos destinados à produção das pinturas.

As comunidades que viviam na área na época em que os desenhos foram feitos eram caçadores-coletores que pescavam no rio próximo. Ossos e restos de plantas encontrados durante as escavações mostram que eles comiam frutos de palmeiras e árvores, piranhas, crocodilos, cobras, sapos, roedores como paca e capivara e tatus.

A descoberta foi feita por pesquisadores do projeto LASTJOURNEY, da ERC, que estão trabalhando para descobrir quando as pessoas se estabeleceram na Amazônia e o impacto de sua agricultura e caça na biodiversidade da região. Ela aparece em uma nova série do Channel 4 britânico, Jungle Mystery: Lost Kingdoms of the Amazon. Os resultados também são descritos em um artigo na revista “Quaternary International”.

Área em transformação

As pinturas, em paredes de rocha especialmente preparadas da Serranía La Lindosa, no extremo norte da Amazônia colombiana, são mais uma evidência do impacto que as primeiras comunidades humanas tiveram sobre a biodiversidade amazônica e sua adaptação às mudanças climáticas. Na época em que os desenhos foram feitos, as temperaturas estavam subindo, iniciando a transformação da área de uma paisagem em mosaico de savanas irregulares, matagais espinhosos, matas de galeria e floresta tropical com elementos montanhosos para a floresta tropical amazônica de folhas largas de hoje.

Os abrigos rochosos estão longe de assentamentos e trilhas modernas, mas eram conhecidos por algumas comunidades locais, que ajudaram os pesquisadores a explorá-los.

A pesquisa foi viabilizada após o tratado de paz de 2016 entre o grupo guerrilheiro Farc e o governo colombiano. Ela foi realizada por Gaspar Morcote-Ríos e Jeison L. Chaparro-Cárdenas, da Universidade Nacional da Colômbia, Francisco Javier Aceituno, da Universidade de Antioquia (Colômbia), José Iriarte e Mark Robinson, da Universidade de Exeter (Reino Unido)

“Estas são realmente imagens incríveis, produzidas pelos primeiros povos a viver na Amazônia ocidental”, disse Robinson. “Eles se mudaram para a região em um momento de mudanças climáticas extremas, que estavam levando a alterações na vegetação e na composição da floresta. A Amazônia ainda estava se transformando na floresta tropical que conhecemos hoje.”

Exposição aos elementos

Ele acrescentou: “As pinturas dão um vislumbre vívido e emocionante da vida dessas comunidades. É inacreditável para nós hoje pensar que elas viviam entre e caçavam herbívoros gigantes, alguns do tamanho de um carro pequeno.”

Os abrigos de pedra estão expostos aos elementos, o que significa que outras pinturas na Amazônia descobertas por especialistas foram danificadas e as imagens não são claras. As comunidades esfoliaram, ou descascaram, a rocha usando o fogo para criar superfícies lisas para sua arte.

Essas novas descobertas estão em abrigos mais protegidos por rochas salientes, ou do vento e da chuva soprando em uma direção diferente.

Iriarte disse: “Essas pinturas rupestres são uma evidência espetacular de como os humanos reconstruíram a terra e como caçavam, cultivavam e pescavam. É provável que a arte fosse uma parte poderosa da cultura e uma forma de as pessoas se conectarem socialmente. As fotos mostram como as pessoas teriam vivido entre animais gigantes, agora extintos, que caçavam”.

Os especialistas realizaram as escavações em 2017 e 2018. O maior conjunto de pinturas foi encontrado no Cerro Azul, onde há um total de 12 painéis e milhares de pictogramas individuais representando humanos, animais, plantas, impressões de mãos e formas geométricas. As pinturas em Cerro Montoya e Limoncillos estavam mais desbotadas.

A descoberta aparece em uma nova série na Amazon, chegando ao Channel 4 britânico na primeira semana de dezembro. Liderada por Ella Al Shamahi, a série Jungle Mystery: Lost Kingdoms of The Amazon explora civilizações perdidas e descobre assentamentos antigos ocultos e arte rupestre nunca antes vistos.