Mutações genéticas observadas ocorrem ao longo do crescimento da espécie, e não durante a reprodução

 

Considerada o terceiro maior ser vivo da Terra, atrás apenas da sequoia e do eucalipto, a imponente conífera Picea sitchensis (conhecida em inglês como Sitka spruce) chega a atingir 100 metros de altura e a ultrapassar 700 anos de idade. Mas sua aparente imutabilidade ao longo dos séculos é apenas uma impressão, pelo menos em termos genéticos, segundo um estudo da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), do oeste do Canadá.

No verão de 2018, pesquisadores da UBC foram ao Vale do Carmanah, na Ilha de Vancouver, rasparam as cascas e coletaram folhas de exemplares dessa árvore para fazer sequenciamento de DNA em laboratório. Os resultados, publicados recentemente na revista “Evolution Letters”, mostraram que uma única Picea sitchensis pode ter até 100 mil diferenças genéticas na sequência de DNA entre a base da árvore, onde amostras da casca foram coletadas, e a ponta da copa.

Cada diferença representa uma mutação somática, ou uma mutação que ocorre durante o curso natural do crescimento, e não durante a reprodução.

“Essa é a primeira evidência da tremenda variação genética que pode se acumular em algumas das nossas árvores mais altas. Os cientistas sabem há décadas sobre mutações somáticas, mas muito pouco sobre a frequência com que ocorrem e se elas contribuem significativamente para a variação genética”, diz Sally Aitken, pesquisadora principal do estudo e professora de florestamento na UBC.

 

Idade e altura

“Como vivem tanto e crescem tão alto, essas árvores são capazes de acumular tremendas variações genéticas ao longo do tempo”, explica Vincent Hanlon, que fez a pesquisa como parte de seu mestrado em ciências na faculdade de florestamento da UBC. As árvores que tiveram amostras coletadas para o estudo possuem em média entre 220 e 500 anos de idade e 76 metros de altura.

Segundo os pesquisadores, serão necessários mais tempo e mais estudos para entender exatamente como as diferentes mutações somáticas afetarão a evolução da árvore como espécie. “A maioria das mutações provavelmente é inofensiva, e algumas provavelmente serão ruins”, explica Aitken. “Mas outras mutações podem resultar em diversidade genética e, se forem transmitidas para os descendentes, contribuirão para a evolução e adaptação ao longo do tempo.”

Estudar as taxas de mutação somática em várias espécies de árvores pode esclarecer como as árvores, que não podem evoluir tão rapidamente quanto outros organismos como os animais devido à sua longa expectativa de vida, ainda assim sobrevivem e prosperam, diz Aitken. “Muitas vezes vemos populações de árvores que se adaptam bem a climas locais e desenvolvem respostas eficazes a mudanças de estresse, como pragas e insetos. Nosso estudo fornece insights sobre um mecanismo genético que pode ajudar a tornar isso possível”, acrescenta.