A violência contra mulheres e meninas é uma questão global. Continua a ser uma das violações mais persistentes dos direitos humanos e uma ameaça para milhões de moças e mulheres. A violência contra mulheres e meninas não conhece fronteiras sociais, econômicas ou nacionais. Afeta as mulheres de todas as idades e surge em vários tipos de ambientes – assumindo muitas formas, incluindo violência física, sexual ou psicológica, bem como abuso e exploração econômica.

Pelo menos uma em cada três mulheres em todo o mundo foi espancada, coagida ao sexo ou abusada emocionalmente em sua vida, na maioria das vezes por um parceiro. A Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher, lida na Assembleia Geral da ONU em 1993, define assim o tema: “O termo ‘violência contra as mulheres’ significa qualquer ato de violência com base no gênero que resulte ou possa resultar em danos físicos, sexuais ou psicológicos ou sofrimento para as mulheres, incluindo ameaças de tais atos, coação ou privação arbitrária da liberdade, seja na vida pública ou na vida privada”.

A vulnerabilidade das mulheres e das moças e sua exposição à violência aumentam, tal como as temperaturas do planeta. Por ocasião do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres de 2016, celebrado em 25 de novembro, a Unesco chamou a atenção para os efeitos das mudanças climáticas e recursos escassos na intensificação da violência contra mulheres e meninas.

Uma edição oportuna quando o Acordo de Paris havia entrado em vigor e os líderes se encontravam na COP22, a conferência do clima realizada em novembro em Marrakech, no Marrocos. A mudança climática é um multiplicador de ameaças. Pode contribuir para a quebra de safras e o declínio da produção de alimentos, o deslocamento de populações e espécies, bem como o aumento da pressão econômica em casa devido à perda de meios de subsistência após desastres naturais induzidos pelo clima.

Vulnerabilidade

Embora populações inteiras sejam afetadas pelas mudanças climáticas, são as mulheres e as meninas que pagam o preço mais alto. Na maioria das vezes, devido às funções tradicionais que assumem, as mulheres dependem fortemente dos recursos naturais e são responsáveis por obter alimentos, água e combustível para cozinhar. Em tempos de seca, a busca por água potável pode levar até oito horas por dia, deixando-as vulneráveis a agressões, estupros ou sequestros. Elas enfrentam obstáculos sociais, econômicos e políticos que limitam sua capacidade de lidar com a mudança e ameaçam sua segurança.

Quando um país ou uma região enfrenta um desastre natural, o combate à violência contra as mulheres torna-se menos prioritário e os mecanismos para protegê-las se enfraquecem. As mulheres e as moças perdem frequentemente seu sistema de apoio depois de terem sido deslocadas e ficam mais vulneráveis ao tráfico. Elas também estão em desvantagem no acesso a uma educação de qualidade, o que as torna mais propensas a ser ví­timas inconscientes de seu ­ambiente.

Em 2005, no Mississippi (sul dos Estados Unidos), observou-se um aumento de 45% no número de casos de agressão sexual durante o período de sete meses após o furacão Katrina. Houve também um aumento de 300% na violência doméstica depois que dois ciclones tropicais atingiram a província de Tafea, em Vanuatu (Oceania), em 2011. Na Nova Zelândia, durante o fim de semana do terremoto de Canterbury, em 2011, houve um aumento de 53% na chamada violência doméstica. Em muitas regiões afetadas por catástrofes naturais, os dados, no entanto, não estão disponíveis ou são muito limitados. Para abordar melhor essa questão, os dados sobre a violência contra as mulheres devem ser recolhidos sistematicamente depois de uma catástrofe natural.

As mulheres estão no coração das comunidades. Seu vasto conhecimento sobre a gestão e a utilização dos recursos naturais é fundamental para enfrentar os processos de mudança climática, em particular no que se refere à gestão da água e à preparação para o risco. As mulheres e as moças representam um enorme potencial que deve ser integrado nas soluções para as alterações climáticas. A participação plena de meninas e mulheres – e sua liderança – é fundamental para responder adequadamente aos efeitos negativos do aquecimento global.

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