Lançada em outubro de 2021, a missão Lucy da Nasa, destinada a visitar asteroides na órbita de Júpiter, já estava a caminho de quebrar recordes ao visitar mais asteroides do que qualquer missão anterior. Agora, após um resultado surpreendente de uma longa campanha de observação, a missão pode adicionar mais um asteroide à lista.

Em 27 de março, a equipe científica da Lucy descobriu que o menor dos alvos dos asteroides troianos da missão, Polymele, tem um satélite próprio. Naquele dia, esperava-se que Polymele passasse na frente de uma estrela, permitindo que a equipe observasse a estrela piscar enquanto o asteroide a bloqueava ou ocultava brevemente. Ao espalhar 26 equipes de astrônomos profissionais e amadores pelo caminho onde a ocultação seria visível, a equipe da Lucy planejou medir a localização, tamanho e forma de Polymele com precisão sem precedentes, enquanto o asteroide era delineado pela estrela atrás dele. Essas campanhas de ocultação tiveram enorme sucesso no passado, fornecendo informações valiosas para a missão em seus alvos de asteroides, mas esse dia teria um bônus especial.

“Ficamos emocionados que 14 equipes relataram ter observado a estrela piscar ao passar por trás do asteroide, mas, ao analisarmos os dados, vimos que duas das observações não eram como as outras”, disse Marc Buie, líder científico de ocultação da Lucy no Southwest Research Institute (EUA). “Esses dois observadores detectaram um objeto a cerca de 200 km de Polymele. Tinha que ser um satélite.”

Gráfico mostrando a separação observada entre o asteroide Polymele e seu satélite descoberto. Medidas aproximadas em quilômetros: diâmetro de Polymele, 27,4 km; diâmetro da lua, 4,8 km; distância entre os corpos, 201,1 km. Crédito: Goddard Space Flight Center da Nasa

Pistas vitais

Usando os dados de ocultação, a equipe avaliou que esse satélite possui pouco menos de 5 km de diâmetro, enquanto Polymele tem cerca de 27 km ao longo de seu eixo mais largo. A distância observada entre os dois corpos foi de cerca de 200 km. Seguindo as convenções de nomenclatura planetária, o satélite não receberá um nome oficial até que a equipe possa determinar sua órbita.

Como o satélite está muito perto de Polymele para ser visto claramente por telescópios baseados na Terra ou em órbita da Terra – sem a ajuda de uma estrela fortuitamente posicionada –, essa determinação terá de esperar até que a equipe tenha sorte com futuras tentativas de ocultação ou até que Lucy aproxima-se do asteroide em 2027. No momento da observação, Polymele estava a 770 milhões de quilômetros da Terra. Essas distâncias são aproximadamente equivalentes a encontrar uma moeda de R$ 1 em uma calçada em Boa Vista enquanto se tenta localizá-la de um arranha-céu em Curitiba, a cerca de 4 mil quilômetros de distância.

Os asteroides contêm pistas vitais para decifrar a história do Sistema Solar – talvez até as origens da vida –, e resolver esses mistérios é uma alta prioridade para a Nasa. A equipe Lucy planejava inicialmente visitar um asteroide do cinturão principal e seis asteroides troianos, uma população de asteroides anteriormente inexplorada que antecede e segue Júpiter em sua órbita ao redor do Sol. Em janeiro de 2021, a equipe usou o Telescópio Espacial Hubble para descobrir que um dos asteroides troianos, Eurybates, tem um pequeno satélite. Agora, com esse novo satélite, Lucy está a caminho de visitar nove asteroides nessa viagem de 12 anos.

“O slogan de Lucy começou: 12 anos, sete asteroides, uma espaçonave”, disse o cientista do programa Lucy, Tom Statler, na sede da Nasa em Washington. “Continuamos tendo que mudar o slogan dessa missão, mas esse é um bom problema para se ter.”